Foi um pesadelo, sem acento circunflexo. O acento ficou para a resistência. Por um momento.
Pânico na página da mente, revirada pelos olhos.
Olhos, malditos no momento em que se traíram.
Benditos por conseguirem desviar do alvo.
Acho que o alvo era eu. Alvo de novo.
O tiro pegou na cabeça, mas a bala era enderaçada ao coração. Ao bolso talvez.
Bala, tiro, facilitei sem querer.
Não estava devidamente protegido na ocasião.
Consegui sair, mas a página das lembranças eternas foi aberta, como uma grande ferida.
Vivo lambendo feridas, que não se fecham.
Talvez por isso a maldita insônia.
Talvez pelos seis gols marcados no futebol esta noite. Sem modéstia, acho que fiz algo certo.
O futebol me salvou do ataque.
Amanhã talvez eu morra na nova cilada.
Pesadelo sem acento, já que o assento é do carro.
Na condução da vida reboque. Lá na carroceria lembranças.Pesadelo de férias, buzinas da mente.
As pedras da rua se levantam contra mim.
A primeira pedra foi disparada de um canto do jardim. Pedras do pesadelo de verão, que veio antes do sonho.
O sonho se dissipa nas marolas da praia, levando minha alma para longe, em busca de um carro que não carregue pedras, apenas me leve a um lugar cheio de luz.
Quem sabe o amor surja no outro lado da rua, onde o acento é da reflexão, momento mágico de quem consegue olhar para o sol, vendo apenas sua luz, sem queimar os olhos e embrulhar a mente.
O sol não tem assento. Nem acento. Quem tem acento pode ir para a lua. Quem sabe Luana, quem sabe longe do acento da solidão. |