Estava andando por trás do vidro e não entendi a mensagem que
querias me passar. Espiei para ver se você me olhava e debruçada
sobre os planos de sua rotina, compenetrada em sua ânsia
problemática, nem me notava e fui eu quem te descobri.
Notei que também me olhavas com certa incerteza no olhar,
expressando o seu sentimento, sua vontade de obter de mim algum
carinho, quanta pretensão, mas os sonhos são assim, nas minhas
noites eu imagino, você sobre mim, eu em você.
Mas é uma pena eu não saber escrever, como você, que descreve
suas ilusões amorosas, relatando seu príncipe encantado, exatamente
no seu estilo de homem que eu me encaixo perfeitamente.
Na solteirisse que nos assola, nós nem mesmo sabemos por quanto
tempo, mas a verdade é que estamos presos, por esse maldito vidro
que nos separa.
Se eu pudesse atravessar por ele e te encher de beijos. Eu iria te falar
tanto, me acalentar em com os deslizes das tuas mãos sobre o meu
peito, te dizer que te desejo, e rir muito, muito mais que você.
Os espiões do dia me acordam falando alto para eu esquecer de te
ver. Quando passo e você nem olha, me ignora, me esnoba. Parece
até que esquece das nossas manhãs secretas na sala da hora,
aquelas que eu imagino sozinho e você do outro lado só fala, só ri. Eu
te admiro tanto, queria ser como você. Só verbos no infinitivo, viver,
fazer, querer, ser, ter, sem ver as maldades que há.
Seu vestido de rosas, cor de rosa a deixam ainda mais possuída pela
minha vontade, eu tento resguardar, tento fingir e me ajoelho para
ninguém notar, mas os espiões do dia voltam a me assombrar, lembra
daquela época? Eles ainda estão por perto. Fale baixo e fique quieta,
mesmo que não haja nada entre nós, os espiões nos observam,
esperam qualquer passo em falso nosso para nos prender. Cheguei a
ter muito medo do que eles poderiam fazer. Mas hoje deixa para lá.
Deixe eles pensarem que sim, pois era tudo que eu queria para mim,
saber o que passas na sua cabeça, se pensas como eu em ser teu.
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