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Contos-->PERGAMINHO DO vALE -- 10/11/2002 - 10:12 (ADRIANA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pergaminho do Vale

O sol está nascendo, minha cidade tão pequena, com ruas estreitas, casarões antigos com enormes janelas. Trens que rompem o silêncio, senhoras com belos e longos vestidos, cavalheiros com chapéu na mão. É uma época romântica. Vive-se o ideal da independência, grandes fazendas de café, açúcar, sonha-se com a abolição. E ele está lá, onde a natureza escolheu, maravilhoso, límpido, dá vida e abrigo a muitos animais, é fonte de alimento para muitos. Ele me parece o senhor de todos, me dá medo e alegria, nada parece abalá-lo. Penso nos mistérios que ele esconde, quantas coisas perdidas embaixo de seu manto, e estas coisas, quantas histórias, quantos destinos...
Alguns objetos ele resolveu deixar serem encontrados, objetos estes que mudaram destinos, mudaram cidades, mudaram vidas, mudaram crenças...
Eu sou apaixonada por ele, seu poder e sua riqueza parecem inabaláveis. Quantas gerações desfrutaram de sua bondade. Tenho vontade de conversar, de deitar sobre seu manto e pedir-lhe para que me conte antigas histórias, quantas coisas ele sabe, quantas coisas ele viveu, quantas pessoas conheceu, quantas pessoas perderam a vida nele, por querer ou acidentaram-se.
O sol está nascendo, minha cidade tão mudada, com ruas estreitas e largas, velhos casarões abandonados ou destruídos, quantos prédios, quantos carros, senhoras com roupas curtas e cavalheiros sem chapéu na mão, perdeu-se o romantismo, ou será que há um novo tipo de romantismo? Não sei. E ele está lá, onde a natureza escolheu e em partes, onde o homem determinou. Não é mais límpido, por ele só tenho o sentimento de pena e vontade de ajudá-lo. Ajudá-lo? Eu? Como poderei? Ele esconde segredos, mistérios, sabe da vida de todas as cidades, presenciou fatos históricos. Pergunto-me até quando irá presenciar nossas histórias, até quando irá esconder mistérios? Nele, vidas há poucas, seu manto já não é mais branco está preto de sujeira, de abandono, de desrespeito, de destruição. Não há comida, sinto saudades da época em que tinha muitos da minha espécie.
O sol está nascendo, eu acordo, vejo uma água suja e fedorenta caindo sobre ele, ele agoniza, vejo sujeira boiando sobre seu manto, resto de animais mortos, lixo caseiro. Hoje as pessoas tem receio dele, outrora, foi fonte de divertimento, de alimentação, de vida.


Passo meus dias sobre um pedaço de uma antiga ponte de ferro, pedaço que ainda resta sobre ele. De lá vejo as pessoas, vejo os carros e vejo toda destruição passar por mim.
O sol está se pondo, que alegria, assim poderei recolher-me e sonhar tudo novamente, deixar o romantismo tomar conta de mim. Sonharei novamente com o meu Paraíba límpido, com vidas mil, escondendo os mistérios do nosso Vale, quantas gerações ele viu nascer, crescer e morrer.
Sou uma garça branca, branca como outrora foi meu Paraíba, penso que enquanto sobreviver minha espécie, é sinal que resta um pouco de vida, e onde há vida, há esperança, tudo depende dessa espécie chamada homem.
Preciso me apressar, olhar estrelas e sonhar antes que o sol venha a nascer e eu acorde novamente para este terrível e verdadeiro sonho chamado realidade.


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