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Ensaios-->os primeiros filmes maranhenses -- 29/01/2003 - 02:22 (marcos fábio belo matos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS PRIMEIROS FILMES MARANHENSES

Marcos Fábio Belo Matos*

Quando se fala em produção cinematográfica em São Luís, faz-se remissão, justa e imediata, aos anos 70, período em que alguns jovens, unindo-se à Universidade Federal, instituíram o Cineclube Uirá e, a partir dele, a Jornada Maranhense de Super-8.
Realmente, em termos de produção local, nada pode ser comparado à efervescência dos anos 70-80, em que mais de uma centena de filmes vieram a lume e consolidaram, entre tantos, nomes como Murilo Santos e Euclides Moreira Neto, dos quais todos os que fazem ou pensam o cinema por estas bandas somos, de uma forma ou de outra, tributários.
Mas o cinema maranhense é bem, bem mais antigo. Remonta, na verdade, ao início do contato da cidade com os aparelhos cinematográficos, dentro do que denominamos de Ciclo do Cinema Ambulante e do qual já tratamos em artigo anterior. O primeiro registro de filmagem em São Luís tem exatamente 99 anos. O seu autor foi o senhor José Felippe, o italiano proprietário do Biscópio Inglês, segundo projetor cinematográfico a passar por aqui.
O Bioscópio Inglês fez um sucesso retumbante no Teatro São Luís, onde esteve de 13 de julho a 09 de agosto de 1902, dando espetáculos todas as noites com “enchentes à cunha”, “casas regorgitadas” como afirmavam os jornais da época. Tanto que foi convidado para tomar parte, como atração especial, da noite em comemoração à adesão do Maranhão à Independência do Brasil.
Entre discursos, recitais de piano, homenagens literárias, numa noite gloriosa iluminada por lâmpadas elétricas, o Bioscópio tomou conta do terceiro ato da festa, com suas projeções. Antes, porém, de iniciar a projeção dos seus filmes, o sr. Filippi, homenageando a sociedade que tão calorosamente o recebia e prestigiava a sua empresa, fez uma surpresa que O Federalista registrou no seguinte texto:


(...)Antes de dar comêço ao terceiro acto que foi de Bioscopio Inglez o sr. Filippi, fez descer um panno no qual havia a seguinte saudação:

O primeiro quadro exhibido foi o do grupo da Oficina dos Novos sendo secundado por tres retratos de brasileiros: Augusto Severo, João de Deus e Benjamin Constant.
As vistas animadas agradaram geralmente.


Acreditamos ser essa a mais antiga imagem cinematográfica feita em São Luís, na verdade um “retrato projetado” dos rapazes da Oficina dos Novos, na época o principal grupo literário em atividade, liderado por Antônio Lobo.
O segundo registro de filmagem entre nós é de 1906 e traz uma particularidade: seu autor, o senhor Rufino Coelho Júnior, proprietário do Cinematógrafo Parisiense, era maranhense. O Parisiense visitou a cidade em duas ocasiões neste ano. Na primeira temporada, de 28 de agosto a 11 de setembro, ocupou primeiro o Teatro São Luís e depois mudou-se para o Largo dos Remédios, para fazer parte das festividades comemorativas àquela santa. No largo, o sr. Rufino exibiu seus filmes nos dias 08, 09 e 10 de setembro, sempre a partir das 11 da noite, em sessões gratuitas muito concorridas. No dia 10, uma segunda-feira, considerada o “lava-pratos” da festa, o sr. Rufino exibiu uns filmes diferentes, como registra a Pacotilha do dia seguinte:
Festa dos Remedios –
Ainda hontem tivemos uma noite de festa, a do lava-pratos que, valha a verdade, correu com bastante animação.
Elegantes senhoritas, flores, luzes, musicas, tudo o que encanta e inebria a alma, havia em profusão, dando realce e brilho ao festival.
A kermesse esteve regularmente movimentada.
Ás 11 horas, depois de varias projecções cinematographicas, que muito agradaram aos assistentes, terminou a festividade.
Entre as vistas do cinematographo figuraram o pavilhão da Kermesse, a imagem de N.S. dos Remedios e, por ultimo, o retrato do sr. Commendador Augusto Marques, o incançavel promotor do triduo, por baixo do qual se liam as palavras – agradece, penhorado.

Eram os primeiros filmes maranhenses feitos por um maranhense. Ali nascia, genuinamente, a nossa cinematografia. Outras filmagens desta natureza só vão acontecer em 1910, já na fase dos cinemas estabelecidos como casas de espetáculo. A façanha será do pessoal do Ideal Cinema, recém-inaugurado e que rivalizava com os cinemas São Luiz e Pathé pela preferência do público. Em agosto daquele ano, os anúncios do Ideal na imprensa traziam com alarde a aparição do “Ideal Jornal – assombrosa novidade maranhense”. Tratava-se de um filme natural, que mostrava aspectos paisagísticos da cidade, em especial do litoral. Seu autor foi o projecionista do cinema, Luiz Braga. O Ideal Jornal foi um sucesso, a julgar pelas repetições nas sessões seguintes e pela sua continuação em mais duas versões.
Foi também do Ideal Cinema o pioneirismo dos filmes de enredo. Em 06 de outubro de 1910, o anúncio na Pacotilha traz o filme “E durma-se com um barulho deste! – Grande novidade Maranhense, fita ultra-comica fallante correctamente interpretada pelos nossos patricios os srs. J.S e A.R, que se revelaram dois bons amadores. – Grande novidade!” A fita era mais uma iniciativa de Luiz Braga, pelo visto o nosso primeiro diretor cinematográfico.
Outros filmes ainda realizaria o sr. Luiz Braga para inclusão na grade de programação das noites do Ideal Cinema, como a homenagem ao senador Lauro Sodré, apresentada em 17 de outubro de 1910.
Em 1911, a primazia das filmagens passa para o Cinema São Luiz.Já em março, são filmadas as festividades do primeiro ano de mandato do governador Luís Domingues. Em 18 de maio, a Pacotilha registra a apresentação da fita “As festas de S. Benedito” com as seguintes cenas: saída da missa; a procissão; a saída da igreja; na Rua do Sol. E no dia seguinte, o mesmo jornal anuncia mais um filme: “Transporte dos restos mortais de João Lisboa, em 26 de abril” com as cenas: em frente ao cemitério; o préstito na Rua do Passeio; na Praça João Lisboa; aspectos gerais.
Esses foram os primeiros filmes que se realizaram em São Luís – e, por extensão, no Estado, pois que a atividade cinematográfica naquela época, como ainda hoje, estava restrita à capital, estendendo-se muito raramente a algum interior. Desta fase até a explosão do super-8 parece haver um triste lapso, uma escuridão em que, ao que consta, nenhuma fita foi produzida. E, quando lemos pelos jornais que estão tentando criar um núcleo de cinema em São Luís, cem anos depois da primeira fita aqui rodada, não podemos deixar de achar que, na verdade, são as últimas réstias do Bioscópio Inglês que agora nos chegam...
*Marcos Fábio Belo Matos é jornalista mestre em Comunicação e Cultura, professor do Curso de Comunicação Social/Jornalismo do UNICEUMAe autor de ...E o cinema invadiu a Athenas: a história do cinema ambulante em São Luís
marcosfmatos@yahoo.com.br
PERIODICOS PESQUISADOS:
DIÁRIO DO MARANHÃO. São Luís. Edições de 1878, 1895, 1897, 1898, 1902, 1903, 1904, 1906, 1908, 1909, 1910.
O FEDERALISTA. São Luís. Edições de 1897, 1898, 1902, 1903, 1904.
PACOTILHA. São Luis. Edições de 1895, 1897, 1898, 1899 1900, 1901, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912.
REVISTA DO NORTE. São Luís. Edições de 1901, 1902, 1903, 1904, 1905.


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