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Ensaios-->As Esquerdas Impossíveis -- 12/02/2003 - 23:24 (Francisco Nazareth) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

As Esquerdas Impossíveis
 
Acabo de ler o suplemento literário do jornal “O Público” do passado fim-de-semana[1] e, mais uma vez, vejo-me confrontado com o estado fossilizado das esquerdas europeias, oscilando entre estados agudos de má conscência (que só favorecem a subida ao poder de direitas também elas medíocres) ou prisões mais ou menos paternalistas a discursos de carácter obsoleto. Foi neste estado de indignação que me deixou a leitura da entrevista de José Manuel Fernandes (mal conduzida porque pouco crítica e excessivamente adulatória) a Jean François Revel, ele próprio um sintoma vivo da crise de identidade antes mencionada e da incapacidade de trabalho das actuais[2] (eurocêntricas e “ilustradas”) narrativas em relação aos problemas reais com os quais as sociedades modernas se confrontam, nomeadamente a necessidade de um discurso diferente sobre o “Outro”[3] – mais aberto, mais consciente da sua falta e incompletude, mais errante – devido sobretudo às vagas de imigração e à rapidez de um informação globalizada que não admite alternativas ao seu carácter de univocidade (isto é, a sua versão da sociedade não é vista como “versão” mas como uma adequação total entre as palavras e a realidade, como se todo o pensamento ontológico das duas últimas décadas fosse, logo ali, negligenciado[4]).
Começa Revel por dizer – no contexto da questão iraquiana – que antes de criticar os Estados Unidos os europeus deveriam olhar para si. Tal afirmação contém em si mesma uma contradição histórica e filosófica assinalável. Ela esquece que a América dá continuidade à lógica dos valores ocidentais iniciados pelo chamado humanismo europeu da modernidade. No entanto, onde os europeus foram capazes de descolonizar – assumindo nesse momento uma reavaliação dos equívocos da história – a América coloniza, exactamente porque permanece incólume às contradições inerentes ao pensamento da ilusão progressista. Nesse sentido, é possível dizer que a América é hoje mais europeia que a Europa: ela faz passar sem o crivo da crítica um tipo de narrativa que – pelo menos desde a segunda grande Guerra – é bastante questionado na Europa[5]. É preciso não esquecer que grande parte das fontes teóricas da literature norte-americana, que se assume como crítica à realidade onde se insere, vem do pensamento europeu do pós-guerra no seu questionamento da noção de subjectividade e da noção de humanismo conforme elas eram entendidas pela modernidade da Europa imperial e toda poderosa. Essa capacidade questionamento da Europa em relação a si própria está, na América, fechada dentro dos circuitos discretos das academias.
Revel, aliás, aponta como sendo característico da Europa uma coisa que acontece, de facto, na América: a fractura entre as elites e o conjunto da população. Voltaremos a isto; para já apraz-me apenas dizer que uma das formas de colonização mais eficazes daAmérica sobre a Europa é, de facto, a colonização invertida. É exactamente porque são capazes de ser ingénuos em relação a valores quanto aos quais os europeus são cépticos que os arautos do progressismo americano (neste categoria cabe muita gente: desde Fukuyama a Springsteen, passando por Bruce Willis) conseguem vender uma ilusão de “ultra-realidade”, fazendo-nos esquecer as tragédias de Columbine ou de Oklahoma em nome do “California sun” ou da típica (e turística) “gang-ho attitude”[6].
Revel continua dizendo, após isto, que existe um anti-americanismo de direita (numa alusão clara a Chirac). Ora, assim como ficou dito no início, também a direita (e não só a esquerda) europeia está fossilizada: uma vive ainda sob o fantasma do marxismo; a outra sob a nostalgia de um passado pastoral de dominação. É de facto verdade, como Revel diz, que muitos dos temas da esquerda se repetem na extrema direita (ele cita, num movimento ideológico previsível, a questão da luta contra a globalização). Só que enquanto uma esquerda pós-moderna (que se afigura como estando em formação) luta contra a globalização neo-liberal em prol de modelos alternativos (que incluam a diversidade, a mestiçagem, a abertura à diferença, a confrontação com a incompletude do nosso próprio modelo cultural), as direitas criticam exactamente esse lado necessário da globalização que é o fascínio da troca e da interactividade (em prol da velha ideologia de “cada macaco no seu galho”[7]). De facto, é diferente ser contra o liberalismo porque é unidimensional e alienante (por exemplo, a nível da questão linguística: quase todos os arautos do neo-liberalismo têm origem anglo-saxónica e a língua inglesa é hoje a maior responsável pelo extermínio de milhares de línguas  - e, com elas, mundos – nativas[8]) ou ser contra a liberdade porque esta propicia o encontro com a diferença: é um erro falar em anti-globalização como faz Revel; é um  simplismo esquecer que existem globalizações alternativas.
 Em nome do seu discurso apologético em relação à América, revel passa então a falar da inacção europeia na Bósnia e no Kosovo. Esquece, não só as críticas que foram feitas ao modo como a administração Clinton geriu estas situações, mas também que a Bósnia e o Kosovo reflectem a sua incompreensão em relação à propria história imperial da Europa; enquanto a questão da Bósnia permanece por resolver desde a Primeira Grande Guerra (ou mesmo desde o Império Otomano) o Kosovo (que se enquadra no mesmo contexto) resultou de um problema causado pelo proprio financiamento que o Ocidente fez de forças que eram hostis ao bloco comunista[9]. A mesma capacidade para desenvolver uma “visão de túnel” é revelada por Revel na questão dos prisioneiros de guerra. Se os prisioneiros de Guantanamo são apenas civisa terroristas, então que noção de terrorismo deveremos propor? Não serão as bombas atómicas sobre o Japão actos de terrorismo? E o massacre de populações civis na guerra do Vietname? Eo que a própria França fez na Argélia – ou Portugal em Wiriamu? E o que a CIA fez em Santiago do Chile? Porque é que os Estados Unidos usaram o direito de veto sobre uma resolução das Nações Unidas que definia uma noção aberta e sensata de terrorismo? A propria análise do percurso histórico do poder de Saddam não pode ser separada disto! Trata-se de um percurso de uma “marionette” que ainda hoje serve os interesses dos americanos e foi sempre armado por eles (e por outro países ocidentais como a própria França). Nesse sentido – no sentido da construção de Saddam como terrorista e como bom bode expiatório – ele é de facto parecido com a “ideia imagológica”[10] chamada bin Laden. Tudo isto cabe, aliás, na tradição que os Estados Unidos têm de apoio a regimes abomináveis, assim como a União Soviética tinha e a China também tem. Um bom exemplo para isto é Pol Pot – o ditador do Cambodja – que foi sucessivamente apoiado por chineses e americanos, enquanto as tropas vietnamitas “libertavam” o país a soldo dos soviéticos. Como sempre, quem mais sofreu no meio – assim como no Afeganistão – foi o povo[11].
Revel – para justificar a tese da incompetência europeia – afirma depois que o estado de Israel foi criado por causa do anti-semitismo dos europeus. No entanto, Israel serve como bom exemplo para a aversão europeia – e ocidental – pela diferença (neste caso judaica) resolvida com uma usurpação de território (mais uma vez de modo imperialista) por parte dos ingleses que, para resolverem o problema, criaram outro através de mais uma negação da diferença (neste caso, a palestiniana).
É, ainda, bastante curioso que Revel nos diga estarem as pessoas das antigas colónias comunistas mais próximas – hoje – dos estados Unidos que da Europa. Parece-me bastante natural que isso aconteça. Num contexto inerente ao pensamento europeu (ou occidental), a desabituação à democracia cria um sentimento de orfandade, de necessidade de uma nova paternidade imperial. Isso acontece a nível do proprio crescimento individual: a falta de uma educação para a autonomia deixa os indivíduos vulneráveis em relacão a abusos de poder e desarmados no que diz respeito a ferramentas intelectuais capazes de promover sentido crítico. Uma reflexão sobre este tema é hoje urgente, tanto mais que assistimos nas nossas sociedades a um declínio do cosmopolitismo e a uma crise das dinâmicas dialógicas. Por outro lado – e ainda em relação a estas questões – a grande vantagem da Europa reside exactamente na possibilidade da diversidade, de modos de pensamento e de cultura distintos, embora integrados na mesma civilização (excepção feita às Universidades, é mais fácil desenvolver um pensamento crítico na Europa que na América). O mesmo não acontece nos estados unidos que são hoje governados por um “eixo” (palavra da qual Bush gosta tanto!) entre o Texas e a CNN.
Revel diz depois que o século XX assistiu ao suicídio da Europa. Ora assim como a Europa “criou” o comunismo e o nazismo, também foi a Europa que “criou”[12] o imperialismo e todas as ideologias que nele (e com ele) se auto-justificam (desde a teoria da evolução[13] até à crença teleológica no progresso) de forma “ilustrada”. Para se perceber o que a América é hoje, talvez seja necessário voltar aos discursos dos séculos XVI e XVII. Existem algumas semelhanças entre o que a administração Bush diz dos árabes e o velho discurso sobre os “selvagens” e os “infiéis”[14]. Assim, embora a criação da América seja europeia (inclusivamente a criação da própria ideia de América e da projecção do paraíso no caminho “progressivo” para Ocidente[15]), enquanto a Europa tem hoje uma posição de suspeita em relação às narrativas que conduziram à produção do “desenvolvimento” como genocídio, na América assiste-se a uma desterritorializacão da noção de império que, hoje, tanto pode ser associada com o discurso dos media, como com as conferências de imprensa da Casa branca ou, ainda, com os modelos económicos internacionais que vêm colocando em crise a ideia tradicional de “Estado Nação”, a estabilidade do emprego e, por outro lado, vêm produzindo bolsas de escravatura no chamado “terceiro mundo” (noção também ela criada para justificar a opressão com base num padrão único de “sub-desenvolvimento”). Por outro lado, na Europa não encontramos, de facto (como diz Revel), uma posição única sobre o que se passa no mundo (Revel dá o exemplo do conflito palestiniano). Na realidade, apesar de todas as tentativas crescentes de usurpação do espaço público, na Europa ainda existe uma forte noção de cidadania, enquanto que, nos Estados Unidos, fruto de uma excessiva explosão mediática e de uma enorme “guetoização” do espaço (na América o indivíduo é atomizado nos subúrbios e nos carros[16]), assiste-se a uma erosão de algo que é fundamental à democracia: o debate público (que, como na Austrália, se reduz à academia, dividindo a sociedade ainda mais: entre elites académicas e consumidores – supostamente – acéfalos).
Por outro lado, comparar o “desenvolvimento” norte-americano com o “sub-desenvolvimento” da América Latina (como forma justificativa de argumentar a singularidade excepcional dos Estados Unidos) demonstra um desconhecimento profundo da história desta, na qual o registo de actos de terrorismo promovidos pelos Estados Unidos não é muito famoso. De facto, na América Latina, o imperialismo anglo-saxónico[17] (não porque seja “pior” do que o de portugueses e espanhóis mas sobretudo devido ao contexto histórico em que aconteceu) tem uma enorme quota-parte de responsabilidade no “sub-desenvolvimento”: basta pensar no que os ingleses – permanentes aliados dos Estados Unidos – fizeram à Argentina, ao Brasil e – indirectamente – ao Paraguai após o tratado de Metween e no que os Estados Unidos fizeram aquando da conquista da Califórnia.
Apesar de tudo isto, a posição de Jean François Revel é compreensível no contexto de uma visão geo-estratégica euro-americo-cêntrica. É que, para entender as raízes diferentes dos Estados Unidos, é preciso perceber que a América foi fundada por “revolucionários conservadores” que se separaram da Inglaterra por não concordarem com as políticas demasiado liberais da igreja Anglicana. É por isso que, nos Estados Unidos, a noção de conservadorismo tem mais a ver com independência do que (como na Europa) com uma nostalgia do passado; não esquecer o mais popular de todos os ditados americanos: “good fences make good neighbours.” Além do mais, ser crítico da Casa Branca, do Pentágono e da CIA (ou seja, da administração), não significa ser anti-americano “tout cours” como o pretende Revel. A propósito disto, é curiosa a recensão que o entrevistador – José Manuel Fernandes – faz do novo livro do Professor Freitas do Amaral, no qual a diferença que notei antes (entre ser crítico da administração e de tudo o que é americano) se faz. Fernandes diz que, na opinião de Freitas do Amaral, “o Governo dos Estados Unidos foi tomado por uma “extrema-direita legal” que não respeita o direito internacional como o “fascismo italiano e o nazismo alemão””. Sendo este o teor do texto (que não li), concordo. Pena é que Fernandes prossiga a análise no mesmo tom acrítico com que recebe o “ocidentalismo” arrogante de Revel e, sobretudo, cometendo imprecisões pouco dignas de um jornalista afecto a um órgão tão isento como “O Público”.
Se a administração Bush procura promover a liberdade educativa mediante o apoio aos programas de “vouchers” escolares, como se pode esquecer que tais “vouchers” correspondem a uma descarada venda da educação pública (a qual ainda vamos tendo na Europa), normalmente através de campanhas – orquestradas por corporações – de modo a privatizar subtilmente as escolas e a vender cursos como se fossem produtos? Tal movimento também acontece na Austrália com as chamadas “partnerships” entre cursos e empresas.
Por outro lado, se foi durante o tempo de Lincoln que a escravatura foi abolida, é uma ingenuidade fílmica acreditar que este aboliu a escravatura por convicção! Fê-lo sobretudo pela necessidade que os empresários do Norte tinham em relação à mão de obra barata (aparentemente “livre”) que vinha das plantações de algodão do Sul directamente para as suas indústrias. Na sequência da questão racial, é ainda mais ingénuo mencionar Powell e Rice. A presença de dois negros (entre os poucos mestiços que encontramos na América …) na administração vem de encontro ao problema – já aflorado – das retóricas mediáticas de visibilidade[18]: aparentemente são negros; no entanto, a sua formação deriva dos valores da “Ivy League” (nos quais terão entrado porventura a pulso e cuja carreira não vão desperdiçar) e não da opressão cuja regra a sua presença ajuda a confirmar.
Para terminar, mais uma palavra sobre a academia. De facto, as melhores críticas aos Estados unidos vêm de pensadores que gozam de liberdade de expressão lá dentro, tais como Said e Chomsky. Isso apenas comprova que, na América, a academia não pode ser entendida no mesmo plano da sociedade civil (ao contrário da Europa onde o café – e não o gabinete – é o lugar privilegiado da reflexão). Enquanto a academia na América é, de facto, um dos últimos repositórios do debate público (Umberto Eco comparou-a – numa alusão feliz – aos mosteiros medievais na sua reclusão em relação ao mundo) está, apesar de tudo, a ser vendida gradualmente aos interesses unívocos dos grandes grupos financeiros que nela vêem um potencial mercado e um lgar de conquista do último bastião de crítica social; veja-se, por exemplo, a grande crise pela qual passa o ensino das línguas, das artes e das humanidades nos países anglo-saxónicos.
 
Francisco Nazareth
Sydney, Fevereiro de 2003          


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[1] http://jornal.publico.pt/publico/2003/02/08/MilFolhas.html
 

[2] Ainda prisioneiras de modelos “sólidos e dialécticos’ de abordagem do real.

[3] Um discurso que se conceba como tal e não, arrogantemente, como apropriação. Um discurso que saiba que a sua fábula, embora o seja, é necessária. Ver, a propósito disso, um pensador – propositadamente – norte-americano: Alphonso Lingis.

[4] As lições de Foucault sobre o carácter histórico dos discursos de poder ou de (propositadamente americano) Rorty sobre o fosso entre o pensamento e a realidade estão por trabalhar a nível de determinados dsicursos politicos.

[5] Não esquecer que o 11 de Setembro constituiu a primeira vez que os Estados Unidos foram atacados no seu território desde o século XIX.

[6] Baudrillard ajuda-nos a pensar esta questão como se a Califórnia fosse um grande “écran” onde a América projecta “hollywoodescamente” o que gostaria de ser.

[7] Tão visível no proteccionismo fronteiriço americano – ou nos centros de detenção australianos, uma vez que a Austrália tende a reproduzir acriticamente todos os modelos de comportamento anglo-americanos.

[8] Isso acontece amiúde nos estados Unidos e na Austrália.

[9] Da mesma forma que foram financiados os “Mijhaeddin” – antecessores dos “Taliban” – e os guerrilheiros tchechenos. Não podemos esquecer que bin Laden foi agente da CIA (e, como tal, armado, educado e preparado nesse contexto).

[10] No sentido em que nunca sabemos exactamente o que ele diz, mas só as traduções mediatizadas pela “CNN” ou pela “Al Jazhira”.

[11] O mesmo sucedeu com o imperialismo da intervenção das Nações Unidas, bem próximo do que veio a acontecer em Timor.

[12] As aspas suscitam aqui uma certa ironia: é óbvio que a Europa não inventou a tirania ou o imperialismo; o modo euro-cêntrico como são concebidos é que se torna em si mesmo um questão paródica e, portanto, uma outra forma de tirania: até as coisas negativas são concebidas como sendo exclusivamente “nossas”.

[13] Sobre o evolucionismo como ideologia de poder, ver os trabalhos de Richard Lewontin.

[14] Circula, neste momento, em rede um excelente trabalho de Boaventura Sousa Santos sobre a produção ideological de três areas de dominação: a “natureza”, o “selvagem” e o “oriente”. Eu acrescentaria uma outra – fruto das minhas reflexões recentes – que é a (exclusividade da) “viagem”.

[15] O avanço para oeste como correspondendo – ou sendo equivalente – ao progresso.

[16] Ver as excelentes análises de Mike Davis sobre Los Angeles e sobre a perda de sentido de comunidade, o qual é substituído pela paranóia e pelo medo.

[17] Ver o famoso livro de Eduardo Galeano, “As Veias Abertas da América Latina”.

[18] Sobre o poder dos media nos Estados Unidos ver o texto de Don DeLillo, “O Ruído Branco”. Aliás, no que diz respeito à crítica dos poderes subliminais e desterritorializados nos Estados Unidos, a lista poderia ser interminável: desde a música (Laurie Anderson e “Language is a Virus”) à literatura (como textos proféticos em relação ao que vem em seguida temos “Naked Lunch” de W.S. Borroughs ou “Catch 22” de Joseph Heller) passando pela pintura (contemplem o vazio e a ausência de comunicabilidade solitária das personagens dos quadros de Edward Hopper ou a demência introspectiva e raivosamente anti-mercantilista de Jackson Pollock ou, ainda, a apropriação cínica do consumo como produtor de morte em Andy Warhol) poderíamos traçar um quadro fantástico de crítca social, vinda dos Estados Unidos, que rejeita ferozmente o quadro de poder onde se insere. Em certo sentido, as mais variadas formas de ditadura produziram dentro delas formas interessantes de rejeição. É irónico que muitas vezes nos contextos de liberdade (seja lá o que isso for) a crítica não seja tão aguda e até apareça o desejo de perder essa mesma liberdade: talvez as pessoas como o escriba/jornalista do “Público” estejam demasiado acostumadas à possibilidade do discurso … 


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