ENTREVISTANDO O CANDIDATO
O entrevistador, severo, gritou na direção da porta: O próximo! E surgiu o candidato, meio desajeitado, mas com um jeitão malandro, um risinho debochado.
- Nome, por favor.
- Clodoaldo, mais conhecido por Louro.
- Diabos, todos aqui se chamam Louro. Falta de criatividade! Qual é a vaga que pretende?
- Papagaio de anedota, sim senhor.
- Olha, meu amigo, você sabe a responsabilidade do cargo. Anedota de papagaio não pode ser ingênua como as de louco ou de português. Mas também não pode ter excessos. Virou pornografia, vai pra rua. Vamos ver suas credenciais. É homossexual?
Clodoaldo ia dizer: só quando era menino. Mas calou-se, bateu na boca, muita sinceridade ia pegar mal. Botou banca e exclamou: qué isso, meu? Tá me estranhando?
- Tá certo - assentiu o homem. Mas papagaio de anedota tem de ser versátil, Ã s vezes pinta um galo mal intencionado, te pega com a boca na botija, sabe como é, galo detesta ser passado pra trás. Outra coisa importante: tem alguma doença venérea?
- Tive crista de galo. As franguinhas adoravam.
- Possui boa audição? Papagaio...
- Já sei, papagaio de anedota tem obrigação de escutar toda safadeza falada ou pensada perto dele.
Clodoaldo sentia que estava se saindo bem. Precisava do emprego, vinha fugido de outro estado, onde, no carnaval, confundira uma socialite fantasiada de Ave do Paraíso com uma penosa que vinha paquerando. Era ainda solteiro, devido ao sucesso com as penosas de todo tipo. Eta vida boa! Pra que casar? O entrevistador voltou à carga:
- Tem alguém a quem avisar, no caso de acidentes em serviço? Algo como pescoço torcido, penas arrancadas...
- Uma velhinha de Curitiba, que me criou desde pequeno. Foi com quem aprendi os palavrões mais cabeludos, principalmente quando escondia sua dentadura dentro do bacio.
Grande! Essa tinha sido na caçapa. Sacanear a velhinha, isso ia repercutir bem pra caramba! O emprego estava no papo.
- Está aprovado - disse o homem. Pode ir. Compareça segunda-feira na casa das duas solteironas, local de sua estréia.
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