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Ensaios-->À DERIVA -- 25/02/2003 - 21:48 (Honiram) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Sou um homem!

Filho de pai e mãe até os cinco anos.

Filho só de mãe dos cinco até por volta de uns doze ou treze anos.

E filho de mim mesmo daí em diante, ainda que tenha adotado meus pais e algumas outras pessoas como disparadores de grandes referências na minha sensibilidade e no meu modo de focar a vida!

No caso do meu pai, dada a pouca e breve convivência, tive que fazer um resgate da sua história junto a terceiros, para compreendê-lo, admirá-lo e sentir honra em ser seu filho!

E no rol das outras pessoas, tenho um carinho especial por um casal de velhos professores aposentados que me escolheram como a última pessoa que eles alfabetizariam na vida e, por isso mesmo, os tenho como meus pais intelectuais, expressão esta que surgiu da boca de um terapeuta, na única sessão que consegui ir.

Mas como sou um sujeito de muita sorte, não é raro surgir na minha vida pessoas poderosíssimas que me fecundam com suas sensibilidades exacerbadas na direção da operacionalização real na arte de viver!

Nunca consegui fazer e executar planos. Sempre tive a maior dificuldade nisso!

Às vezes por me faltar condições de consciência do momento... outras vezes por falta de condições materiais... por não conseguir um grau de concentração adequado... mas na maior parte do tempo acho que por tudo isso junto, tendo como fundo uma profunda imersão no aqui e agora de tal sorte, que me foi e está sendo impossível desligar e delinear em termos mais gerais os rumos da minha vida.

Sempre vivi com escolhas intuitivas, sem garantia alguma de algum tipo de retorno, apenas escolhendo o que, de alguma forma, me parecia bom!

Fiz várias escolhas erradas em minha vida e várias certas também!

Na verdade não saberia dizer se foram erradas ou certas!

O correto seria talvez dizer que minhas escolhas me moldaram e se gosto de mim como gosto então elas foram acertadas!

Nunca me senti num rumo definido!

Agora do alto dos meus cinquenta anos percebo que sempre estive completamente à deriva, vivenciando tão somente o que naturalmente alcançava sem perceber a concatenação entre uma coisa e outra!

Minhas escolhas sempre obedeceram a uma certa ressonância interior... elas sempre resultaram de alguma vibração em minha sensibilidade, envolvendo ora encantamento mágico, ora inquietude, medo, afeto, alegria tristeza e nunca tive certeza de estar fazendo a coisa certa, na hora certa e do jeito certo... embora conscientemente e, na maior parte do tempo, inconscientemente, sempre almejei isto!

Cheguei até a criar uma frase que gosto muito: 'Não quero fama e nem reconhecimento, quero apenas a paz que suponho existir em quem se descobriu fazendo a coisa certa, na hora certa e do jeito certo!”.

Embora não consiga planejar, muito provavelmente porque tenho uma dificuldade enorme de lidar com as coisas práticas do mundo, (o ritual da organização social atual absorve muito a nossa energia, sobrando pouca coisa para a convivência mágica conosco mesmo e com tudo o que existe) consigo, obviamente à custa de prejuízos na esfera da organização social, transitar com alguma facilidade naquilo que a transcende e que se fundamenta unicamente na boa vontade.

Sou um homem em conflito com este ritual!

Acho-o necessário porque sem ele, as coisas seriam ainda piores!

Mas é preciso admitir que se ele fosse obedecido, com naturalidade, em sua íntegra; quero dizer que, se ele fosse focado por todo mundo, como uma regra natural de convivência fundada no respeito, e, pudesse, de alguma forma se introjectar nas pessoas de modo a que elas não conseguissem querer burlá-lo, ou pervertê-lo, a nossa realidade, com certeza, seria bem diferente!

Teríamos mais energia e recursos para vivenciarmos o encantamento mágico de estarmos vivos e inseridos num ambiente de parentesco com tudo o que existe, comungando, com profundo respeito, o mesmo mistério!

Esta realidade de encantamento mágico, de parentesco e de comungar o mesmo mistério com profundo respeito, infelizmente não está acessível a todos eis que a grande maioria ainda pena de sobremaneira apenas para conseguir sobreviver materialmente!

E diria mais, são igualmente raros os que transitam por essa realidade quer oriundos da maioria miserável ou da minoria abastada, porque o grau de ignorância e preconceito ainda é muito alto mesmo entre os intelectualizados, quer acadêmicos ou não!

Como resultado disso temos cada vez mais miséria, violência, guerras, medo, isolamento, confinamento e o surgimento crescente de guetos, gangues, empresas, grupos e associações de todos os tipos que visam unicamente proteger os interesses, quase nunca legítimos, dos seus membros!

Digo quase nunca legítimos porque se são legítimos deveriam ser extensivos a todos sem restrição!

Salvo raríssimas exceções verdadeiramente humanitárias, (e mesmo estas atuando precariamente e existindo milagrosamente) tais interesses nada mais são que privilégios que dão dignidade à revolta daqueles que não os recebem e os percebem, eis que não haveria recursos suficientes para contemplar a todos, deixando, assim, a descoberto, prioridades estruturais necessária à boa convivência geral, numa promoção singularizada à distinção sem sentido, que gera sempre mais desperdício, miséria, ignorância e violência!

E os detentores de tais privilégios os ostentam como se os mesmos os honrassem quando, na verdade deveriam envergonhá-los!

Aonde isso tudo vai nos levar?

Como falar de paz, encantamentos mágicos, estados alterado de consciência, espiritualidade, felicidade, afeto e amor a quem não tem o comer!

Que tipo de vivência mágica pode existir numa família, cujos pais se envergonham de se mostrarem humanos com sentimentos, conflitos, afetos, orgasmos, libido e etc... aos próprios filhos?

Não os culpo por isso! Isso é somente fruto de uma formação preconceituosa e dissociada da realidade por uma série de tabus que precisam ser eliminados!

O ser humano precisa mudar!

Ele precisa romper o isolamento e a partir da exposição das suas, verdadeiramente, mais íntimas e nobres aspirações, focar o que realmente interessa ao estado de felicidade geral, tanto no que diz respeito às estruturas de sobrevivência material, eliminando a miséria, quanto às estruturas de natureza psicológica diminuindo de modo sempre crescente os preconceitos, tabus... enfim diminuindo a ignorância!

Somente para finalizar este breve ensaio, digo que estou à deriva e sem um rumo geral na minha vida
porque do ponto de vista da organização social não vejo credibilidade nas lideranças que estão na direção da nossa nave!

Estamos todos perdidos à deriva!

Sinto um cheiro permanente de desastre e tragédia e penso que somente um grande milagre pode evitá-la!









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