A maioria dos pedreiros, profissão de pobre, é negra. Este que escrevinha estas maltraçadas linhas também. E não me furto de pensar no dilema de minha raça, com sua juventude marginalizada e
podada. Porém, dias atrás, estava cansado querendo apenas descansar quando uma propaganda na TV, com o Pelé vendendo plano de saúde, pós a cuca para fritar.
No comercial tudo era branco: as roupas, o dentista, o moleque com medo do dentista, a sala, os olhos do rei, tudo. E tinha Pelé. Concluí, pasmo: o Pelé "ficou" branco. Ao entrar no jogo onde o uniforme é o ideal burroguês de "clareza", o rei dos campos de futebol parece esquecer da
origem que deu a ele a ginga e a majestade do porte. Podem dizer que ali o que prevaleceu foi o
dinheiro. Mas não se trata apenas do poder da grana, creio eu, mas sobretudo do poder opressor
de uma sociedade racista onde a parcela costumeiramente massacrada carece de referenciais,
mesmo quando - parte reduzidíssima - fica milionária. Dessa forma vi Pelé como um Michael
Jackson tupiniquim.
E eu sou fã dos dois. Pelé foi o melhor jogador da História do Futebol, e dificilmente perderá o
posto nos próximos séculos; uma das minhas tristezas na vida é não tê-lo visto jogar, como alguns "tiozinhos" viram e até enchem os olhos de lágrima ao lembrar. Pelo Michael Jackson sou menos apaixonado, se bem que até um pedreiro pouco afeito ao mundo pop se emociona sempre com uma balada como "Music and me" ou com as batidas e a dança extraordinária de "Thriller" etc.
Em suma não tenho nada contra eles. São gênios, figuras marcantes, e antes disso seres humanos.
Apenas olho o tempo que os deixa de cara pálida, e não gosto do que vejo. |
