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cronicas-->a força de belém -- 19/06/2000 - 19:40 (flávio augusto menezes filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A FORÇA DE BELÉM


Desembarco em Belém. Uma breve visita para atender a compromissos profissionais. Vislumbro, com ternura, a cidade que no passado me acolheu com muito calor. Dirijo-me ao hotel e, lá, com bastante pressa, deixo as minhas malas. Estou ansioso por rever a cidade, senti-la em sua plenitude, ouvi-la e saber das suas alegrias e aflições.
Saio a andar sem rumo certo. Observo o novo e o antigo. Belos edifícios de arquitetura contemporànea abraçam com aconchego os casarios e sobrados. É Tarde e os raios solares traspassam por entre as frondosas mangueiras, pintando o asfalto, as calçadas e as pessoas de um misto irregular de sombra e luz. Este contraste só Belém tem.
As ruas, velhas conhecidas, bem cuidadas, limpas e elegantes, parecem-me mais jovens. Não! Foi eu quem envelheceu! Elas, ao contrário de mim, continuam, aqui, impassíveis ao passar do tempo que, embora faça-as mais antigas, não as faz velhas. Foram essas ruas as quais, quando aqui morei, confiei os meus segredos de homem jovem. E hoje elas me provam de modo evidente como me foram fiéis, pois, agora, em face do meu retorno e somente a mim, em particular, falam-me deles.
Vou ao restaurante do círculo militar, instalado no Forte. Ao garçom peço uma cerveja gelada, "a cerpinha", e para tira-gosto um "filhote" na brasa, um peixe da região. Faz-me companhia a bela Baía do Guajará. Sento-me à sua frente. O trànsito de embarcações é intenso. Elas vão e vêm trazendo pessoas e coisas não se sabe para onde. Essa baía, sobre a qual deito agora os olhos com grande saudade, um dia, me entremostrou toda a sua pujança quando tive de atravessá-la, numa noite escura, a bordo de um pequeno barco. O "Puc-Puc" cortou a baía com extrema dificuldade e me trouxe enormes cuidados. Ouvíamos somente o bater do casco na água e o motor que fazia puc, puc, puc...... Vai daí a denominação da embarcação pelos belemenses: "Puc- Puc". Desde esse dia tenho pela baía um profundo respeito, conquanto também admiro-a.
A cerveja e o "filhote" acabam. O sol começa a deitar-se por detrás da mata, do outro lado da baía. Uma cena inenarrável! Peço a conta, retiro-me.
A noite chega acelerada e eu, a bordo do táxi que tomei para ir de volta ao hotel, passo sob as imponentes mangueiras, cujos ramos formam verdadeiros túneis sobre as ruas, como se fossem mantos a me proteger, e é assim que me sinto: protegido.
Já é outro dia e os compromissos profissionais me chamam. Extingo-os com sofreguidão. Afinal o tempo é curto e ainda há muito o que rever.
Concluídos os compromissos vou a procura de uma encomenda especial: a farinha do Pará, tida e havida como a melhor farinha de mandioca produzida no Brasil. E vou buscá-la na feira da "Vinte e Cinco". Há outra feiras em Belém, mais interessantes até. A mais famosa é a do "Ver-o-Peso", onde se pode encontrar de tudo. É só pedir que a feira realiza. Mas como ignorar as minhas lembranças? Como esquecer que eu jovem marido para lá ia, à feira da "Vinte e Cinco", denominada assim em alusão à Rua 25 de Setembro, todos os fins de semana e orgulhoso enchia as minhas sacolas? Como esquecer? Isso dava a devida recompensa ao meu trabalho. Sentia-me grande e útil. São lembranças! lembranças que me alimentam. E eu não estou aqui para isto? Para alimentar o espírito? A farinha não seria só o pretexto?
Partirei logo mais e não voltarei com sossego sem antes ir à Basílica de Nazaré. É o que faço. Ah, monumento da paz! Ah, catedral da democracia! Acolhes com igualdade a todos. És o lenitivo de todo um povo. Vês poderosos ajoelhados aos teus pés. Recebes humildes garbosos a agradecer as pequenas grandes graças conquistadas. Estás aqui desde antes e hás de estar no mesmo lugar quando eu me for definitivamente. Eis a tua grandeza. Por hora levarei comigo, fixado à minha retina, o teu esboço simétrico e guardarei no meu coração tua moradora única: Nossa Senhora de Nazaré.
Diz um poeta anónimo e com o seu dizer concluo a crónica: " Se me fosse dado a incumbência de ver o peso que a vida tem, passaria a vida toda a "Ver-o-Peso em Belém



Belém 20/01/2000
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