Os homens vão à guerra,
E quando vão à guerra já
Vestiram os corações de chumbo.
Partem os navios e porta-aviões,
Com contingentes de homens,
O frio e o fogo por únicas emoções.
Na guerra os homens fazem guerra,
Ao pouco que lhes resta de ilusões.
Quando partem homens para a guerra,
O mundo escurece e encerra
Para balanço de operações.
Fecham-se as portas da cidade,
Escavam-se abrigos no chão,
Esconde-se comida na cave.
Os homens da guerra vão chegar.
Quando? Não se sabe.
Passa louco e surdo o pássaro preto
da morte, que paira insana e sedenta,
dos corpos a reclamar, quando a guerra
irromper ceifando cega as gentes.
Asa rente aos tectos inocentes,
Pairando por ali dia após dia,
Na angústia ímpia e horrenda
De um sinal do apocalipse
Que fará do dia noite,
em negro selvático eclipse.
E os homens que vão para a guerra,
Inertes em longa espera,
Planam nos oceanos em barcos
De bélicas formas obscenas
E tanto a espera os enegrece
Quanto a ave negra da morte,
Por ali também aparece.
Os homens que vão à guerra
Levam já um coração de guerra,
Negro, sombrio e ágil mas inocente
Por não serem mais do que a mão
Que desfere o golpe frio, o disparo
Contundente que outros homens
Da guerra, esses sim, acharam providente.
Os homens que vão à guerra,
Não são homens de guerra,
Mas fazem a guerra dos homens
Que no lugar do coração
Têm crateras de guerra,
Que uma granada perdida
Certamente lhes escavou.
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