Sementes de Mudança
Arlindo Freire*
O nosso velho Mundo Cão
Está sob transformação!!
São palavras duras, porém verdadeiras, depois dos mais de 500 anos da extinção indígena no território brasileiro, com sangue e fogo, doenças, perseguição e mortes
desconhecidos da história feita pelos civilizados da Europa e outros continentes então destruídos por guerras e misérias.
Na comunidade indígena Sucuba, município de Alto Alegre – Roraima vem sendo realizado o curso de Ensino Fundamental com 35 alunos-professores, pela Secretaria de Educação, daquele Estado, com a finalidade de aperfeiçoa-los para lecionar aos índios das tribos Yanomami.
O trabalho é pioneiro, com prosseguimento nos próximos anos, até 2015, conforme a programação estabelecida pela Divisão de Educação Indígena, coordenada pela professora Ineide Isidório – responsável pelo desenvolvimento do trabalho no decorrer dos próximos anos, com apoio da Fundação Nacional do Índio.
= O que pensar e dizer sobre esse acontecimento – diante da complexidade histórica dos povos indígenas brasileiros?
O mais certo e coerente reside nas duas linhas iniciais deste comentário ligado ao passado, futuro e presente dos povos originais do Brasil que permanecem sem o respeito e consideração aos habitantes naturais, apesar do reconhecimento, por alguns setores que as injustiças são uma constante, sem a perspectiva de mudança imediata.
Na distância de 6.770km entre Natal-RN e Boa Vista-RR, temos a confiança de que seja possível e necessário fazer estas considerações com fundamentos valiosos e coerentes, partindo do fato de que a pedagoga Maria Áurea Guedes, antes do seu falecimento – 2008 afirmou, baseada em sua longa experiência: Se apenas um aluno assimilar e compreender o assunto ministrado na sala de aula, o professor está com a sua missão cumprida!
Esta afirmação não se aplica aos professores do Ensino Fundamental em Roraima, mas ao espírito e filosofia da Educação, de forma generalizada sobre a realidade em que vivemos neste país, onde as escolas estã mergulhadas nas enchentes destruidoras da Educação nos seus variados níveis, inclusive o Superior, com raras exceções, na atualidade.
Se o trabalho educacional para os indígenas – tivesse sido adotado pelos governos, mediante a recomendação do Congresso Nacional, desde a formação histórica e política do Brasil – certamente, sem dúvidas, a situação atual dos povos tribais ainda Existentes - seria outra muito diferente, justa e adequada, humana e digna para as mulheres e homens contemporâneos.
Foi por falta de tais providências que houve o genocídio da maioria dos nativos brasileiros, no decorrer dos cinco séculos, sobretudo no Rio Grande do Norte e Piauí, onde ficaram perdidos os legítimos e originais indígenas – desaparecidos e mortos no decorrer de apenas 2 séculos – 1599-1825, quando a resistência destes tornou-se impotente para sobrepor os colonizadores.
Nestes fatos – temos os motivos e razões para saber que em Sucuba, através da Educação, vem sendo plantada a semente da transformação para a vida e cultura dos povos indígenas estabelecidos nas selvas, matas, planaltos e serras ainda existentes no espaço do país – desafiando a todos os governos e gerações humanas que se dizem evoluídas – apesar da longa distância ou alienação com suas origens.
Na linha imaginária de quase 7.000km – do RN-RR projeta-se a expectativa dos índios mortos e vivos em busca da mudança pela Educação que se torna indispensável para a sobrevivência dos seres humanos, em qualquer tempo e lugar - como ponto de partida para a sua evolução no sistema universal, conforme a natureza da criação como uma das partículas na formação da humanidade.
= O que é isto, como se explica esta teoria?
Todo mundo sabe que o Sol brilha para todos, especialmente os habitantes de qualquer espaço terrestre sobretudo os seres humanos vivendo na dependência da natureza vegetal, animal e mineral, das águas, do solo, do ar, da luz, das estrelas, do Sol e da Lua, além de outros astros, qualquer corpo celeste, bem como da energia em que se geram os fatores naturais.
Apesar das teorias primitivas contrárias – o indígena também é ser humano, igual aos demais e talvez superior, por ter feito , naturalmente a origem do homem ou mulher através do processo evolutivo, durante mais de cinco mil anos, até o período atual das gerações modernas da civilização que ainda, em grande proporção, não adquiriu toda a dimensão do valor humano na sua escala paralela universal.
Se os civilizados Brancos tivessem sido solidários e coerentes com o seu destino ou direitos e deveres com os indígenas, além dos pobres, marginalizados e sem as oportunidades de melhorias básicas – devidas pela sociedade e os governos, os índios jamais teriam sido expostos e fixados como tais pela decisão colonialista dos exploradores.
Nos 70 anos de vida, Áurea Guedes trabalhou mais de 50, com os pobres e humildes, crianças e adultos que desejavam sair da miséria, pelos caminhos da Educação, nas escolas do interior potiguar, no MEB – Movimento de Educação de Base e na extinta Fundação LBA-RN, em que plantou a Semente da Mudança, visando à melhoria e transformação direta de 300 mil vidas.
Agora, temos a professora Ineide Isidório, na comunidade Sucuba – Roraima, no trabalho semelhante com os indígenas Yanomami, além de outras educadoras em diversos locais da Amazônia plantando as sementes indispensáveis à Educação e Civilização dos homens e mulheres que pretendem adquirir a dignidade humana, embora estejam isoladas e distantes das cidades, vivendo nas selvas, no meio dos animais e vegetais, rios, serras e vales.
Ineide e Áurea podem se considerar felizes, realizadas, dignas, honestas, solidárias, amigas, legítimas e verdadeiras nas suas relações com a humanidade, plantando as Sementes da Mudança que mais tarde serão as causas de imensas árvores com flores e frutos para o bem-estar e alegria de outras gerações.*Jornalista,Sociólogo-UFRN.
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