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Artigos-->A arte de furtar -- 31/10/2011 - 09:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A ARTE DE FURTAR



 



                                                                         Aileda de Mattos Oliveira*



 



Assim se chamava um livro de autor desconhecido, publicado no século XVII: “A Arte de Furtar”. Com sintaxe e vocabulário característicos da época, porém, ortograficamente atualizado, o anônimo analista da sociedade e dos governos, descreve o furto como uma categoria de “arte”, já que as filigranas de como despojar alguém, a sociedade ou um reino são variadas, de acordo com o gênio do artista.



Considerando que Adão foi o primeiro ladrão, o autor infere que essa arte é geneticamente explicada, e participante dessa confraria artística também foi incluída a Igreja, nos tantos caminhos que ela toma: sacro, político, inquisitorial, etc.



Fazemos objeção quanto a dizer o autor que todo homem furta por ser originário do pai de Caim e Abel. Acreditamos que com a transmissão dos valores éticos e morais, a partir do desenvolvimento da sociedade, uma parcela da humanidade fez atrofiar essa arte, enquanto a outra parcela se esmerou em aprimorá-la. Respectivamente, um lado é o Abel social e o outro, o Caim político.



Quanto mais tempo permanece o homem no primarismo civilizatório, afastado dos princípios que o transformaram num animal superior, mais desenvolvido fica na arte de furtar o patrimônio alheio, particular ou público, e mais próximo do Caim prevaricador.



Apesar da distância de quatro séculos, os exemplos de humor ácido da obra fazem-nos lembrar de fatos semelhantes aos acontecidos e que persistem nestes tempos de governo “corrupetista”, neologismo perfeito, retirado de uma antiga mensagem recebida.



Impossível esquecer os presentes oferecidos à Nação e os do próprio acervo do Estado, levados pelo vulgar ex-presidente em caminhões para a sua toca particular, quando teve de ceder o trono à outra vulgaridade, sua sucessora.



São furtos embutidos nas taxas e sobretaxas de quaisquer serviços e, no momento presente, são furtos “a céu aberto” como se diz de esgotos, onde as ratazanas fazem seu doce lar. Essas outras protegidas ratazanas moram em esgotos caríssimos adquiridos com o dinheiro que não lhes pertence, postos em nomes de outros roedores, para tornarem mais labiríntico o caminho que os frutos da apropriação indébita tomaram.



Casamentos de conveniência, forjados entre Cortes, nada mais são do que furtos oficializados de nações que penetram em outras, ostentando a consorte, parte integrante do acerto, para furtarem seus preciosos bens naturais e um tanto daqui outro dali dos seus territórios. Tudo isso e muito mais são objetos da analítica obra que deve ter sido elaborada por alguém com trânsito  livre na Corte Portuguesa e preferiu, por óbvias razões, manter o anonimato.



Modernamente, às escâncaras, furta-se o contribuinte através da cornucópia do Estado, através dos conluios costurados bem à frente do palco, enquanto que a Justiça, silenciosa por conveniência, parece sem função.



Levando-se em conta o que diz o autor do livro citado, perspicaz como ele só, não gozava ela, na sua época, de bom conceito. Tanto que, no capítulo IV de seu clássico tratado, pespegou-lhe o seguinte título: ”Como os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões”. Interessante essa cadeia de agentes, se levarmos em conta que os gatos caçam os ratos, mas também não são confiáveis ante um prato de sardinhas.



Após os setenta capítulos, o anônimo narrador conclui que sobra cobiça nos adeptos de Caim para surrupiarem o alheio, porque inexiste justiça do lado dos adeptos de Abel para puni-los. Diante deste argumento final, mudamos de posição. De fato, Adão é o único culpado.



 



 *Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.


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