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Artigos-->A Guerrilha do Paraná: Comissão da Verdade do Bolso... -- 03/11/2011 - 11:49 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Mais um episódio para a dita “Comissão da Verdade”  ( ou, como já passou a ser conhecida... “Comissão da Verdade do B”)


 



A GUERRILHA NO PARANÁ



         Raymundo Negrão Torres



A Guerrilha do Araguaia ganhou destaque nacional e, embora um rotundo fracasso, continua sendo cantada em “prosa e verso”. O Paraná foi palco da chamada “guerrilha do Cardim” que mereceu algumas linhas – cheias de erros, por sinal - em livro do Elio Gaspari. Mas, houve uma outra tentativa frustrada de organizar um arremedo de guerrilha no Parque Nacional do Iguaçu que ficou quase inteiramente ignorada. Quem sabe, agora que Aluisio Palmar - um dos aprendizes de guerrilheiro daquela fracassada aventura - anuncia a publicação de um livro, algo apareça sobre ela. Parece pouco provável, pois o autor está mais interessado – conforme dá a entender a matéria de primeira página publicada no Caderno G da Gazeta do Povo - na descoberta das ossadas de alguns desaparecidos. Assim – até para ajudar no “marketing” da coisa – valha a pena contar passagens daqueles esquecidos eventos.



A descoberta do que então se passava no Paraná deu-se, por mero acaso, em duas oportunidades. Na primeira, tudo começou com um acidente banal de trânsito. Assim, certamente, terá pensado o guarda ao aproximar-se da pequena aglomeração que se formara em torno do jipe que abalroara um outro carro. Os dois ocupantes do jipe, muito jovens e nervosos, pareciam estar com pressa de solucionar o incidente e não regatearam o preço exigido pelo prejudicado. A aproximação do policial pareceu inquietá-los ainda mais e o guarda resolveu abordá-los, julgando tratar-se de delinqüentes comuns. Pediu os documentos e um dos rapazes apresentou uma carteira que o identificava como agenciador de madeira para a Companhia Nacional de Navegação Costeira, expedida em Niterói. Cada vez mais desconfiado, o policial, com grande presença de espírito, indagou qual o preço de determinada madeira. Enquanto o interrogado, surpreso, gaguejava uma resposta, seu companheiro, em pânico, fugia em desabalada carreira pelas ruas de Cascavel, no oeste do Paraná.



O policial deu voz de prisão ao moço louro que usava seu verdadeiro nome – Aluisio Palmar - e conduzia no jipe mochila com farta documentação que o apontava como membro de uma organização comunista não identificada. Entre os papéis apreendidos havia um minucioso diário das atividades da organização, o que permitiu saber que havia uma insuspeitada ameaça subversiva naquela área. O grupo guerrilheiro, vindo de fora - possivelmente Niterói - adquirira nas proximidades de Cascavel um sítio onde, fazendo-se passar por agricultores, estava estabelecendo uma área de apoio para treinamento de guerrilha no Parque Nacional do Iguaçu.



A falta de preparo da repressão para enfrentar tal tipo de ameaça era compensada pelo relativo amadorismo dos subversivos cuja presença na área poderia ter sido percebida e identificada muito antes, tivesse o delegado de Cascavel - um major da Polícia Militar - demonstrado o mesmo interesse e a perspicácia de seu subordinado ao lidar com o incidente do jipe. De fato, os moradores da redondeza, intrigados com aqueles novos “sitiantes” que tinham hábitos muito estranhos, - dormiam o dia todo e costumavam praticar tiro ao alvo - procuraram o delegado, mas viram suas suspeitas serem recebidas com total desinteresse.



Entre os papéis em poder do preso, despertou atenção um cartão de visitas de um cidadão residente em Londrina. No interrogatório na Delegacia de Polícia de Cascavel - no qual o rapaz alegou ter recebido maus tratos – o londrinense foi apontado como chefe da célula a que pertencia o moço louro. O cidadão - um pacato comerciante - foi preso e recambiado para Curitiba. Contava uma estória bem diferente: conhecia o moço e era amigo de seu pai que morava em Niterói; fora procurado pelo rapaz em Londrina, alegando falta de dinheiro para retornar à sua cidade. Hospedou-o em sua casa, comprou-lhe a passagem e ao levá-lo à Rodoviária deu-lhe seu cartão. O preso, depois de três dias mantendo sua estória, finalmente e sem lhe ter sido tocado em um fio de cabelo, resolveu revelar a verdade que coincidia com o que alegava o comerciante. Agora – quem sabe? – o fracassado guerrilheiro dirá que também foi torturado pelo Exército. O que não se sabe é o que pensará hoje aquele cidadão, arrancado de sua casa tarde da noite, preso injustamente por uma denúncia falsa de um sujeito a quem ajudara e que, tempos depois e já condenado pela Justiça Militar, foi banido em troca da liberdade do embaixador da Suíça, seqüestrado por um grupo da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandado pelo desertor Carlos Lamarca, no Rio de Janeiro. A única coisa que se pôde fazer na época foi colocar o comerciante frente a frente com seu acusador e perguntar ao assustado cidadão se sabia por que fora preso. Ante a resposta negativa, num impulso de justificada irritação, o oficial encarregado do caso disse ao impassível moço louro:



- Agora, seu patife, você vai contar ao amigo de seu pai porque ele ficou preso e incomunicável durante estes dias. Sem dar mostras de nenhum arrependimento, o sujeitinho reconheceu que mentira e o comerciante foi mandado embora, com sinceras, mas inúteis desculpas. Coisas dos tempos que a esquerda chama de “anos de chumbo”. Esquerda que absolve qualquer vilania em nome da “causa” ou do “politicamente correto”.



Algum tempo depois dos eventos acima narrados, no Centro de Informações da Marinha (Cenimar) no Rio de Janeiro, um oficial dava um pulo de sua cadeira. Perdida num canto de uma página do jornal, lá estava notícia vinda de Curitiba que dava conta da prisão pela Polícia Federal de quatro suspeitos de não declarado delito. Pelos nomes o oficial viu tratar-se de quatro dos integrantes já identificados de uma organização comunista, recentemente descoberta, que se intitulava de MR-8 e recebia parte do dinheiro desviado do Banco do Brasil pelo ex-gerente, Jorge Medeiros, o “Bom Burguês”, como o chamavam seus amigos marxistas.



A prisão se devera a mero acaso e à ação de um motorista de Guarapuava. Os quatro homens o haviam contratado para levá-los à Cascavel. Durante a viagem, o motorista achou estranhos os modos de seus passageiros que, falando aos sussurros e usando palavreado esquisito, pareciam nervosos e muito apressados. Pensou que fossem criminosos comuns. Ao pararem para almoçar na cidade de Laranjeiras do Sul, o motorista, com a desculpa de levar o carro a uma oficina, foi à delegacia de polícia e relatou o que ocorria e suas suspeitas. Os quatro homens foram presos e assim iniciou-se o desmantelamento do MR-8 no Paraná, ao qual, aí se soube, pertenciam os ocupantes do jipe do incidente de Cascavel.

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