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Ensaios-->PELO AMOR -- 20/06/2003 - 23:53 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É muito comum o tema do amor no cinema. Mas o amor, na maioria dos filmes, se reduz ao amor platônico, cheio de artifícios a serviço da impossibilidade de concretizar o encontro do sujeito amante com o objeto amado e, de outro modo, os amantes são transformados em vítimas de um psicologismo no percurso da busca, onde o amor é permeado de situações supostamente inusitadas e cheias de coincidências para a sua realização, ou seja, jogos de sedução para valorizar um conceito a priori e garantir a moral: o amor higiênico, considerando que a paixão neste caso torna-se um mero pretexto para o discurso dos sempre felizes para sempre.
Não é o caso do filme Vermelho Sangue (Profundo carmesi, México/França/Espanha, 1996), direção assinada com letras maiúsculas por Arturo Ripstein. Esse diretor mexicano, antes de estrear em 1965 o filme Tempo de Morrer, aos 22 anos de idade, foi assistente de direção do espanhol Luís Buñuel. Um bom começo para o exercício de sua genialidade.
Acima de tudo, o amor em questão, é baseado numa história real que se passa no México. Duas personagens, Coral Fabre e Nicolas Estrella, se conhecem através de anúncios desses atuais e conhecidos 'correios sentimentais'. Coral, uma enfermeira gorducha, com dois filhos pequenos e louca para se apaixonar, conquistar e ser amada, ou pelo menos sentir-se como tal. Nico, um aventureiro que se passa por espanhol e explora a fantasia das mulheres que sonham encontrar a sua cara-metade a qualquer custo. Mas o mito da sedução cai em sua própria armadilha, ou seja, o conquistador acaba conquistado. Daí, uma série de crimes e crueldades se desenvolvem na manutenção deste relacionamento. Tudo por amor.
Amor? Sim! O amor politicamente preconizado e como a sociedade o compreende e aceita: uma solidão a dois, um egoísmo ampliado, onde a moral e o imoral se confundem numa amoralidade. Porque a moralidade do cotidiano é imposta pela mesma sociedade que a combate. Ela a combate quando perde o controle, quando a imposição das mesmas forças cívicas concretiza de fato as suas fantasias no imundo, 'fora do mundo'. É como a igreja permitir a viagem de Colombo acreditando que este vá morrer na metade do caminho, é como incentivar o homem a voar apostando em sua queda, para que ele não possa voltar do céu dizendo que não viu Deus.
Ao conceituar o amor como algo bom e desejável, uma sociedade como a nossa considera apenas a possibilidade de um acordo formal entre as partes para a sustentação do status quo em meio às ansiedades e, no mais, como um mecanismo de controle social, como criação de subjetividades. Mas esta mesma sociedade se perde. Ela se esquece do elemento subversivo e desagregador do amor que se oferece para a desgraça do viver em sociedade, pois – no momento em que este amor acontece – ele exclui da sua relação o mundo e, obviamente, inclui apenas o objeto amado.
A história real de amor, paixão e morte, Vermelho Sangue, deixa muito claro que a idéia desse amor justifica toda e qualquer ação como se fora o ter que fazer o que tem que ser feito (sic) e, apesar da frase romântica da sobrevivência 'até que a morte nos separe', aqui vale a sentença daqueles que se unem num grande pacto: pelo sangue e pela morte. Não é por acaso que Carol afirma a hora de sua morte – justamente por estar ao lado de seu amado – como o dia mais feliz de sua vida. Talvez, como o sonho de muita gente que se imagina morrer 'gozando', até porque na hora do gozo alguma coisa acaba de morrer.
Que viva o amor! Que morra o amor! Porque coisas assim, pelo sangue, unem certas pessoas para sempre. Assim nossa história se inscreve, desde os tempos em que Deus assassina o próprio filho, pelo amor...
Wilson Coêlho é escritor, dramaturgo, encenador e graduado em Filosofia e mestrando em Estudos Literários pela UFES.

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