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Contos-->SURGE UMA OPORTUNIDADE -- 14/11/2002 - 11:06 (Jeovah de Moura Nunes - 1) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 23 de dezembro surgiu uma oportunidade. Eram bichos de pelucia e principalmente bonecas de pelucia, daquelas que se costurava apenas a cabeça a um corpo de enchimento de isopor. Nao era muita coisa, mas recebi um prazo bom de pagamento e as vendas dariam para o Natal.

Entretanto, as vendas nas ruas surpreenderam-me. Mesmo debaixo de chuva vendi tudo. Tive o cuidado de reservar uma das bonecas de pelucia para minha filha.

Eu e minha esposa haviamos combinado passar o natal na casa de minha mae, que costumeiramente fazia uma festança na noite do dia 24 para 25, com a tradicional ceia. Ela residia proxima a estaçao da Luz, no bairro de mesmo nome.

Fiquei entao pelo centro de Sao Paulo, enquanto minha mulher com a menina encaminharam-se para a casa de minha mae. No centro comecei a busca para localizar a tal boneca. Nao encontrei em lugar nenhum. Todas as lojas acusavam a falta do produto em razao da grande procura. Mesmo que encontrasse nao havia possibilidade de adquiri-la, ja´ que as minhas vendas nao atingiam valores suficientes para cobrir o preço da boneca, que era entre tres mil e tres mil e seiscentos cruzeiros, na epoca, juntamente com a divida assumida com os bichos de pelucia e as bonecas.

Mas, por que entao insistia em procurar a tal boneca cosquinha? - perguntaria o leitor. A explicaçao estava no fato de ja´ ter separado uma boneca de pelucia, com a qual juntamente com o carrinho poderia satisfazer a pequenina, conquanto soubesse e conhecesse seu senso de opiniao. Alem do que levava `as ultimas consequencias relativamente aos esforços para conseguir a tal boneca, seguindo `a risca todo o empenho no que diz respeito `as leis naturais, conforme lecionavam os livros que tinham em comum o poder do subconsciente, como fator primordial do sucesso de cada um. Queria afinal permanecer de consciencia tranquilo caso nao conseguisse a "Cosquinha". Queria tambem desafiar essa lei cosmica que nao compreendia nem tinha a necessaria fe´.

Seguindo informaçoes fui ate´ a Lapa, na tradicional rua Doze de Outubro. La´ encontrei apenas o carrinho da boneca com preço acessivel. Comprei um. Cheguei `a casa de minha mae ai´ pelas onze da noite e a menina ja´ dormia. Minha esposa avisou-me de que ela havia feito a ultima oraçao, convicta de que iria ganhar o objeto tao almejado.

Minha mae, temendo ocorrencias desagradaveis para a menina, caso nao conseguisse a boneca, aconselhou-me a encetar nova busca. Sai´ meio sem jeito, desesperançado e sem saber aonde começar a procura. Fui para os lados da rua Barao de Duprat e passei em varias lojas. Nada.

Pela uma hora da madrugada as lojas ja´ fechavam as portas, (ate´ o fim da decada de setenta a criminalidade nao era tao absurda como hoje e as lojas permaneciam abertas ate´ tarde da noite, chegando mesmo a entrar pela madrugada), resolvi pois desistir e voltar para a casa de minha genitora, onde me aguardavam.

Foi neste momento que me deparei com uma loja cuja porta estava baixada ate´ um metro do solo. Olhando pelo vao que sobrava vi que la´ dentro separavam caixas e limpavam as prateleiras como se terminassem um longo serviço e preparavam-se para sair, deixando as coisas mais ou menos em ordem. Caixas vazias de papelao eram atiradas ao chao, enquanto alguem as empilhavam. Dava pra notar que nao havia mais nada ali e que as vendas foram extraordinariamente satisfatorias. A confusao era grande e havia muitos funcionarios apressados e ja´ despedindo-se dos colegas com um "Feliz Natal". Foi o cenario que vislumbrei quando olhei pelo espaço deixado entre a porta de aço e o piso.

Um senhor, aparentando ser o proprietario, perguntou-me o que queria. Expliquei-lhe adentrando a loja. A resposta nao demorou:

-Nao tem mais! Esgotou-se todo o estoque.

Agradeci e fui saindo devagar, quando ouvi:

-Moço! Moço!

Voltei-me e vi um rapaz, ainda adolescente, no alto de uma escada, segurando a boneca tao desejada, que gargalhava sem parar, certamente acionada pelo dispositivo eletronico. O rapaz descendo a escada foi dizendo:

-Olha moço, voce tem sorte. Encontrei dentro de uma caixa vazia. Deve ter ficado ali e passou despercebida porque ja´ veio muita gente atras dela depois que acabou.

Fiquei chocado e sem fala. Mas, havia ainda o preço e procurei aparentar tranquilidade.

-Quanto e´? - indaguei sem jeito e amedrontado por uma resposta que nao fosse possivel negociar, numa epoca em que pechinchar era um palavrao.

-Seiscentos cruzeiros - respondeu o proprietario - faço a preço de custo por ser a ultima venda deste natal e deste ano.

Fiquei estonteado. Nao acreditava no que acabara de ouvir. A boneca custava em qualquer loja a impressionante fortuna de tres mil cruizeiros. E nao havia mais em canto nenhum. E de repente aparece dentro de minhas possibilidades, como um milagre!

-Fico com ela! - exclamei quase euforico.

O relogio do Mosteiro de Sao Bento badalava seu inconfundivel sino, a uma e trinta da madrugada do dia 25 de dezembro de 1975, enquanto eu me dirigia para os lados do Bairro da Luz, sobraçando um belissimo trofeu, conquistado nao por mim, mas pela minha filha apenas com o uso de sua mente pura, ainda criança com os traços dos anjos a enfeitar sua infancia.

As lagrimas nao paravam de descer de meus olhos e surpreso e atonito fui repetindo em voz alta:

-Obrigado Senhor, Obrigado!



(Jeovah de Moura Nunes)
do livro "Prepare-se Para o Sucesso!" pag. 27 a 31
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