Há uma voz que nos fala interiormente e como no fundo da alma quando, fechados os ouvidos às vozes das criaturas, a Deus só quemos ouvir, e o chamamos em todo o ardor de nossos desejos. Longe das pessoas, esta voz é que arrebatava os Paulos, os Antônios, os Pacômios, e lhes revelava, sem obscuridade, os segredos da ciência divina. Esta voz é que instrui os santos, os inflama, os consola e os embriaga, por assim dizer, de sua celestial doçura.
Moisés e os profetas estavam encobertos para os discípulos de Emaús; aparece Jesus, e à sua voz dissipam-se as sombras que obscureciam seu entendimento; experimentam sentimento desconhecido, por tal modo que diziam um ao outro: “Não estava nosso coração todo abrasado dentro de nós, quando ele nos falava no caminho e nos declarava as Escrituras?”
E nós, pobres infelizes, que o tumulto do mundo traz ainda distraídos, que faremos?
Não queremos nós também ouvir Jesus? Como os dois discípulos estavam em viagem; caminhamos para a eternidade. Jesus, por seu amor, se aproxima de nós; e se certo modo se faz nosso companheiro de caminho; porém, achando-nos tão pouco atentos, retira-se e nós caminhamos sós. Medonha solidão! Ah! Tenhamos cuidado não nos anoiteça no caminho! Apressemo-nos a chamar o divino quia, e digamos-lhe de toda a nossa alma: “Senhor, ficai conosco, porque se faz tarde e já vem chegando a noite”.
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