Posso assegurar, porque eu mesmo vi,
Um homem enorme, tremia na solidão
E a noite avançava, como em asas de colibri,
Sem piedade alguma, carregando desolação.
E mesmo as flores mais sonolentas,
Que sob o negro véu, seus sonhos acalentam,
Puseram-se num abraço, com feições horrendas.
Sentiam o medo que os corações humanos engendram.
A lua, olho de cristal, se escondeu
Entre as cortinas nebulosas do espaço
E uma mão de estrelas, em constelação, escreveu
Palavras de dor, morte e fracasso.
Um furacão, de asas escuras, esvoaçou,
Tremeu os chãos de horizonte a horizonte.
O beijo demoníaco, as faces rubras tocou
E em meio aquele inferno, apareceu a ponte.
O homem trêmulo vestiu-se de coragem,
Ganhou garras e tornou-se alado,
Viu além, uma bela folhagem,
Cruzou a ponte, ganhou o outro lado.
Ali, o silvo da vida estrondou.
A paz, como um lençol de linho,
Estendeu-se e seu sorriso decorou
Todas as pedras daquele caminho.
Meu olhar vibrante, assim, entendeu.
O homem que tremia naquela solidão,
Era um homem jovem, era eu.
Tornou-me o peito triste, pura contemplação.
Sim, o homem que tremia, o homem que era eu,
Respirou as mentas, bebeu a serenidade,
Tomou a tocha eterna e acendeu
As fagulhas vivas da eternidade.
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