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Contos-->Preguiça -- 16/11/2002 - 18:05 (Raquel Murakami) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Preguiça




Douglas passou pela porta da casa completamente desinteressado em qualquer tipo de ação que poderia ser executada naquela tarde. Passou direto pela sala de estar, cujo único usuário era sua gata preta, Minie, que dormia tranqüilamente sobre o encosto do sofá, deixando sua patinha traseira pra fora, pendendo lentamente.
O carpete marrom claro da sala levava a um corredor que dava acesso às escadas, a um banheiro e à cozinha. Eram duas horas da tarde e a mãe do menino, Vivian, lavava a louça do almoço produzindo na casa sons dos pratos e talheres sendo limpos pela água da torneira. Douglas, no entanto, não se dirigiu à cozinha. Tomou a esquerda e subiu molemente as escadas, rumo ao seu quarto.
A mãe reconheceu o som dos passos do filho e gritou da cozinha mesmo:
“Douglas, é você? Não se esqueça de dar um jeito nessa bagunça aí do seu quarto!”
“Tá bom, mãe!”
A resposta de Douglas soou imediatamente à pergunta, em um tom de ‘não me encha o saco’, antes que o garoto cerrasse com força a porta do quarto. De fato, aquela era uma típica resposta ‘mentira’ ou ‘desesperada’. Desesperada porque poderia ser facilmente encarada como um apelo de ‘eu faço tudo o que quiser, mas me deixe em paz!’. Contudo, tais respostas de filhos jamais seriam um indicativo da realização da promessa. Pois bem, se antes bagunçado estava o quarto, bagunçado continuaria, sendo em vão a ordem de Vivian.
O filho encontrava-se na idade de constantes conflitos emocionais e sociais, conhecido pejorativamente como ‘aborrescente’ ou, melhor dizendo, adolescente. Tal momento trazia um verdadeiro caos às cabeças, tanto dos filhos quanto dos pais, e criava uma revolução em ambos. Poderia ser descrito mais como ‘eles não me entendem!’ ou ‘ele não nos entende!’,
Douglas estava na sétima série e naquele dia iniciava uma infindável jornada na álgebra dentro da escola particular em que estudava. Começava a explorar as equações, contas que em sua mente pareciam ser foras-da-lei, de tanto que fugiam à sua razão. A professora, uma mulher grande de meia idade com cabelos longos, encaracolados e levemente grisalhos, estava sempre exibindo um semblante severo e cruel para os alunos. Douglas estava revoltado, recebera dela uma lista de trinta equações para entregar na aula seguinte valendo nota.
Retirou a mochila das costas e pegou a folha de sulfite impressa e amassada com as trinta equações. Observou-a por exatos três segundos e a atirou para um canto qualquer do quarto. Não tinha a mínima vontade de travar-se em tão inúteis questões. Mergulhou na cama e respirou fundo. Seus olhos se encontravam com o teto do quarto e sua mente, que era a única coisa que não podia parar, começou a indagar as questões que crianças, jovens e adultos têm em comum.
Por que diabos ele estava ali?
De repente, Douglas não mais via o teto branco de seu quarto, nem ouvia sua mãe lavar os pratos. Tinha seus sentidos voltados apenas para a busca de uma resposta absoluta. Formou-se em sua mente a imagem do planeta Terra, redondo e azul, com seus continentes eternamente navegadores. Girava lentamente sobre o eixo, em meio às estrelas e ao infinito Universo.
Aquele era o planeta em que ele vivia. Mas naquela imagem ele não estava, nem sua cidade. A Terra era demasiado grande para que a pequena cidade de Douglas pudesse ser ali representada. Provavelmente eles não passariam de um minúsculo pontinho de raio desprezível. Porém, Douglas encontrou limites nesta Terra. Ela era redonda, mas ainda havia um Universo inteiro a ser explorado.
Então ele tentou imaginar o fim do Universo em sua mente. Não conseguiu. A Terra virava um simples pontinho, mas o Universo parecia não ter nenhuma forma ou limite. Ele era tão vasto que Douglas percebeu o quanto a vida era uma condição ingrata: todos estavam condenados a morrer e a Terra não passava de um pequeno e insignificante fenômeno numa massa de espaço e de tempo ilimitada. Em suma: os humanos não eram nada.
Assustado com a direção da sua linha de raciocínio, Douglas interrompeu a mente. A imagem do teto era novamente percebida e ele enfim notara que sua mãe já havia terminado seus afazeres. Quase uma hora já havia se passado e, para aqueles que vissem de fora, encontrariam apenas um garoto que parou por um bom tempo sem movimentar um músculo sequer.
A porta do quarto se abriu e Vivian confirmou seus temores. O ambiente estava mais desarrumado do que antes: as papeladas da escola espalhadas pelo chão; a mochila encima da cama, disputando seu espaço com o próprio dono; os tênis jogados de qualquer maneira e Douglas tranqüilamente esparramado no colchão.
“Menino, eu não te falei pra arrumar o quarto? E a lição, por acaso você ainda nem começou? Douglas, você está muito preguiçoso, não fez nada desde que chegou!”
E Douglas apenas fitou sua mãe com um sorriso relaxado:
“Não é verdade, mãe. Você nem imagina a viagem que acabei de fazer!”


*FIM*
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