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Ensaios-->POETA DO CAMPO (Jane Fernandes faz perfil de JIVM) -- 30/09/2003 - 04:10 (José Inácio Vieira de Melo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Perfil do poeta José Inácio Vieira de Melo feito pela jornalista Jane Fernandes, publicado no jornal Correio da Bahia, em 17 de agosto de 2003

Perfil/ Poeta do campo

Jane Fernandes

José Inácio de Melo expõe em versos o prazer e a dor de ter sido contaminado pela praga sagrada

Um matuto sem eira nem beira,
labutando com palavras,
vaquejando boiadas de signos
por caatingas labirínticas
numa peleja sem fim.

Invoca o gado invisível
numa toada aflita,
e grafa com pena e tinta
aquilo que a poesia marca,
a ferro e fogo, em sua alma

Marcação* é a 'poética' de José Inácio Vieira de Melo, versos onde ele se traduz e expõe o prazer e a dor de ter sido contaminado pela 'praga sagrada' que é a poesia. Seduzido pela força dos versos de Patativa do Assaré, entoados pelo 'cantador de poemas' Raimundo Fagner - ouvidos pela primeira vez num acampamento de escoteiros no alto de uma serra -, o menino de 12 anos, que já era um devorador de gibis, descobriu uma nova dimensão para as palavras. 'Aquilo mudou a minha vida', afirma sem hesitação.
Foi pensando em música que o menino nascido em 1968, em Olho D´água do Pai Mané - povoado de Dois Riachos, em Alagoas -, começou a escrever seus versos. Depositando palavras dia após dia no seu caderninho, ainda hoje guardado, ele se ressentia da indiferença da família e tinha vergonha de revelar sua veia poética. A aceitação da sua condição de poeta veio apenas aos 20 anos, quando cansado de estudar - tinha concluído o 2o grau -, ouviu do pai 'então vai ter que trabalhar'. Cuidando do gado na fazenda da família, Zé Inácio se dividia entre filosofar embaixo do umbuzeiro e mergulhar nos livros, iluminados pela luz de candeeiro. 'Se não tiver leitura não é poeta', sentencia, abrindo exceções para o que chama de poetas puros, aqueles que por serem analfabetos não foram 'contaminados' pela escrita.
Sujeito rural
Descritos como o período onde mais leu em toda a vida, os dez anos vividos em Maracás estão refletidos no seu primeiro livro Código de silêncios, lançado em 2000, pelo Selo Editorial Letras da Bahia. 'Tinha 400 poemas, escolhi 40 e toquei fogo no resto', explica como separou os versos que vieram em sua bagagem para Salvador, em 1998. Um misto de fatalidade e necessidade levou esse 'sujeito rural' a trocar a roça pela capital. Acompanhando o irmão caçula, que se recuperava de um acidente no Hospital Sarah, Zé Inácio se deu conta que 'a vida é um estalo' e decidiu batalhar para de fato fazer o que tinha vontade.
Além de publicar seus poemas _ 'eu gosto muito de exibir meu trabalho'-, ele queria também voltar a estudar. Relembrando os tempos em que cobria os shows de Belchior, Fagner, Zé Ramalho, e outros, para o jornal Café com Leite (distribuído em Jequié, Maracás e outros municípios vizinhos), acabou escolhendo o jornalismo. 'Fazia umas coisas bem-feitas, achava tudo aquilo bonito, mas hoje, na faculdade, vejo que tinha algumas falhas', reconhece.
Tendo conquistado a admiração da família - 'meu pai hoje tem orgulho de dizer: meu filho é escritor '-, o poeta contou com apoio irrestrito para o lançamento do seu segundo livro. Decifração de Abismos foi financiado pelo prefeito de Maracás e contou com um 'paitrocínio' e um auxílio fraterno, que possibilitaram a criação do selo independente Aboio Livre. Orgulhoso das suas vitórias - 'consegui em cinco anos o que muita gente não consegue em 20', conclui, feliz com o prêmio recém-concedido pela revista Iararana -, Zé Inácio está cheio de projetos. Além de A terceira romaria, seu próximo livro, previsto para 2004, ele lança ainda este ano o livrete Luzeiro (três cantos peregrinos). 'É a maneira que encontrei para prestar um tributo a uma das minhas referências, que é a literatura de cordel, mas o texto é no meu estilo', revela.
Se enveredando pelos caminhos do conto, Zé Inácio lança um olhar prolongado sobre as suas raízes contando as estórias do povo do Pai Mané e foi assim que seduziu uma platéia ansiosa por conhecer os versos do seu filho mais ilustre, quando, em meio aos festejos do São Pedro, visitou sua terra natal. Preocupado com a hipótese deles não entenderem sua poesia que mistura o cânone e o popular - 'lá eles acham que poesia tem de ter rima' -, o alagoano que já declamou na Academia de Letras da Bahia ficou nervoso como poucas vezes na vida. Começou sua apresentação com um poema em redondilha (todo rimado), recebido com euforia, e depois partiu para os versos livres - nem palmas foram ouvidas, mas não sem antes explicar aos ouvidos curiosos o significado da sua labuta: 'O poeta é aquele que diz o que já foi dito, de uma maneira que não foi dita ainda'.

* Poema publicado no livro Decifração de Abismos, Aboio Livre, 2002.
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