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Poesias-->SONHOS AZUIS -- 13/08/2000 - 12:50 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SONHOS AZUIS



Debruço meu olhar sobre o azul

Não o do céu

Não o do oceano

Mas o daquela linha distante

onde os dois se juntam e, violentamente,

me empurra para todos os horizontes

O azul do horizonte visto alargado

ainda quando a criança que fui e que há muito deixei de ser

Sabiamente, com garra, não deixei escapar a percepção de ser

Horizonte dos horizontes multiplicados em

infindáveis tonalidades azuis



Deixo crescer os azuis dos horizontes

como quem não tem outra opção senão a de



Amei em águas distantes que

só agora esta linha fina ao longe me faz

lembrar que todo o amor

desgastado,

triturado,

dobrado em peças finas de cambraias

também era de cor azul e

a confusão dos atos não me fez perceber a tempo

No calor das chamas, não senti

que o fogo teve o poder de embotar o meu pensar



Queimei-me em labaredas selvagens

Molhei meus ossos com ungüentos satânicos

Ardi minha alma em profanas celebrações

Desprezei as pérolas!

Paguei todos os meus pecados

e agora tenho um crédito



Nunca tinha notado isso antes e foi preciso

eu debruçar o meu olhar nesse horizonte,

neste exato momento,

para que tomasse consciência do fato

Precisei desfolhar as dobras dos atos idos,

já mofadas pelo frio, já flácidas pelo úmido passado,

um tanto frágeis pela falta do manusear



Pensei que tinha esquecido de tudo,

apagado de uma vez por todas da memória --

agora acostumada pelo entupimento de experiências provocadas propositalmente e com intento acertado

Vã ilusão adormecida!

Determinado medo que sempre fingi não existir

e que o meu silêncio quis iludir todas as lembranças

deliberadamente negadas: azuis



Ah... tolo fui em não querer perceber

que tudo o que criava para empuxar

um passado inapagado pelas cinzas,

cedo ou tarde,

renasceria como fero fênix,

vivíssimo a me mostrar que tudo foi assim, azul



Arranhei-me,

rasguei o sangue na garganta,

dilacerei a carne como o agricultor separa a terra com uma enxada,

quis me arrebentar por dentro como que querendo a morte

Corri com o pé-de-vento tentando esquecer,

tirei o pé da cova como num milagre

e revivi sonhando com outra vida a vir

Pensei com azeite doce os olhos das feridas,

deixei que as cicatrizes se apagassem sós

Fiz um plantio demente de uma inconsciente semeadura



Enquanto um azul ali adormecido

multiplicava-se em outros horizontes,

tantos outros azuis se dilaceravam em outras águas,

pululando em choros em vidas em novas formas



Se coloquei os olhos na caixa para

esse fecho de luz por tantos fevereiros,

tudo foi em vão e inútil

Os olhos, desencaixados, se abriram e,

agora, mais que nunca,

consigo ver todos os azuis

O azul do céu

O azul das águas e dos sonhos

O azul das linhas de todos os horizontes

que me transportam para o sonho de outros sonhos

que serão azuis.





© Fernando Tanajura Menezes

(n. 1943 - )

(in Revista Alternativa

Boston-MA/USA - Abril 2000)

http://tanajura.cjb.net

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