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Ensaios-->A escolha -- 08/12/2003 - 16:02 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
'Artigo do Mês Ano II Nº 21
Dezembro de 2003

A Escolha
Ubiratan Iorio (*)

“There’s a small choice in rotten apples” (A margem de escolha entre maçãs podres é pequena) (Shakespeare, A Megera Domada, Ato I, palavras de Hortênsio”)

Para quem prometeu mudar tudo, o máximo que o petismo conseguiu, neste primeiro ano no poder, oferecer à sofrida sociedade brasileira foi uma escolha entre duas maçãs podres! Em um palco, a Suíte Patrimonialista, executada pela desafinada orquestra neopetista, comandada pelo chamado núcleo duro do governo e histrionicamente regida pelo Presidente, em três movimentos: abertura para países pobres, fechamento para países ricos e arrochos de todas as espécies para quem teima em ainda resistir dentro da dita “classe” média. No outro, um Concerto para Heloísa e Orquestra, regido pela chorona senadora e tocado pelos chamados radicais, em um só movimento, o revolucionário.

Em outras palavras, estamos inermes vendo o que vem sendo feito, com Palocci e Meirelles cortando (na carne alheia) e o Congresso, ao sabor das negociatas espúrias, gerando gastos futuros, que certamente terão que ser financiados com mais pobreza, enquanto, também sem defesa, observamos o movimento dos históricos, sempre querendo cubanizar a Terra de Santa Cruz.

A Suíte Patrimonialista é um plágio muito mal-feito de tudo o que sempre tivemos de pior em nossa história: o patrimonialismo, o estatismo, o nacionalismo ingênuo, o corporativismo e o pouco apego a princípios morais. O primeiro movimento, o da aproximação com países pobres, abrange desde nossos vizinhos latino-americanos até nossos longínquos parceiros do Líbano, da Síria, da China, da África e de outras plagas e parece fundamentar-se naquilo que o filósofo Ricardo Vélez Rodriguez denominou de “Teorema da Pobreza”, cujo tragicômico enunciado é: “o somatório das pobrezas é igual à riqueza”. Assim, países considerados “periféricos”, desde que unidos e liderados pelo Brasil, sob a batuta de nosso messiânico Presidente, com o chanceler Amorim subindo ao palco tanto para virar as páginas das partituras quanto para explicar ao seu pouco culto chefe o que aqueles “cachos de uvas” que se derramam sobre os pentagramas significam, teriam condições de afrontar as nações e regiões ricas e, assim, magicamente, de tornarem-se também prósperos. O segundo movimento é o reverso da medalha do primeiro: afrontas e desafios gratuitos aos Estados Unidos – o grande bode expiatório de sempre -, aos países europeus, enfim, a todos os países que deram certo... Como escreveu Zamora, “dentre todos os vícios, a inveja é o único em que o ofensor gostaria de estar no lugar do ofendido”...O terceiro e último movimento desta Suíte Paternalista apresentada como “mudanças” pelos governistas é aquele triste espetáculo em que se vê, de um lado, uma política fiscal contracionista a curto prazo – baseada em aumentos de uma já extorsiva carga tributária e em cortes temporários de gastos exatamente onde não deveriam ser cortados -, porém expansionista a longo prazo, pois o estatismo que sempre dominou as mentes petistas vai, aos poucos, regulamentando tudo, colocando óbices à livre iniciativa, burocratizando cada vez mais e preencendo os cargos em empresas e autarquias públicas, quando não criando ainda mais sinecuras, com a companheirada, tão barbuda quanto despreparada.

A outra opção que nos apontam os descontentes com o rumo das coisas do PT é o Concerto para Heloísa e Orquestra, uma cubanização com quase cinco décadas de atraso, em que - alguns veladamente e outros abertamente – ainda falam em mudar para uma sociedade “justa”, dando a entender que tal entidade abstrata, para eles, não é nada mais nada menos do que o carcomido e fracassado socialismo. Comprar óleo diesel abaixo das especificações exigidas, simplesmente para ajudar a Venezuela do companheiro Chávez; negar que as FARC colombianas sejam uma organização terrorista: emprestar a juros subsidiados, via BNDES, ao regime ditatorial do velho companheiro e inspirador Fidel Castro; fazer o mesmo para dar uma mãozinha ao novo governo “popular” da Bolívia; e viajar ao Oriente Médio sob o pretexto de buscar maior aproximação “comercial” com países onde grassam organizações terroristas, sem fazer escalas nem em Israel e tampouco na Turquia, onde o grau de bom-senso e de respeito aos cidadãos é maior, além de declarações de repúdio sistemáticas contra os Estados Unidos e à União Européia, nada disto é por acaso. Faz parte mesmo de um concerto – embora muito mal composto – bem ao sabor das Heloísas, Babás e demais políticos que perderam o rumo da História e ainda crêem piamente em revoluções do proletariado, em movimentos revolucionários de camponeses e em intentonas de intelectuais que não possuem o salutar hábito de pensar.

São estas as tão propaladas, trombeteadas e anunciadas “mudanças” que o novo governo nos permite antever. Mudar de um bairro de classe média para a periferia favelizada? Trocar a situação de remediado pelo próprio esforço para a de pobre por decreto governamental?

Qual será o nosso futuro? Creio que ele está no passado.

Assim como meus avós, que aqui aportaram nos primeiros anos do século XX, vindos da pequena e belíssima San Lucido, na Calábria, milhões de estrangeiros, provenientes dos quatro cantos do mundo, também acreditavam, naqueles tempos em que ainda se respeitava a ética do trabalho, que o Brasil poderia ser o país do futuro, a terra prometida em que, deixando para trás os próprios pais e a família, costumes, amizades, tradições e o paese amado, poderiam depositar todas as suas esperanças de construção de segurança, de paz e de progresso, para eles próprios, para os seus descendentes e, por extensão, para a nova pátria adotiva.

Decorridos exatos cem anos, lemos os resultados de pesquisa realizada pelo BID, mostrando que, durante o ano de 2002, brasileiros que vivem nos Estados Unidos enviaram para o nosso país o montante de quatro bilhões e seiscentos milhões de dólares, sem contar os que trazem legalmente quando visitam o Brasil. Se contarmos as remessas feitas por patrícios que vivem na Europa e no Japão, o valor acima deve, mediante cálculo rudimentar, chegar a algo entre seis e sete bilhões de dólares. Ainda, utilizando a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento, podemos estimar que apenas 10% desse total de remessas, ou seja, algo entre seiscentos e setecentos milhões de dólares, são destinados a aplicações financeiras no Brasil, já que 90% tem como finalidade ajudar as famílias desses imigrantes, que aqui residem – quase todas pertencentse a uma classe média cada vez mais sufocada pela sanha arrecadatória do Estado - a arcar com despesas de consumo e de auto-proteção, como pagamentos de planos de saúde e de aposentadoria e gastos com educação

O que mais nos deve preocupar é que, até meados dos anos setenta, o Brasil sempre foi um dos países que mais receberam emigrantes, exatamente porque ainda se acreditava no exterior que nossas imensas potencialidades de crescimento econômico seriam, afinal, exploradas e que nos tornaríamos uma das nações mais ricas do mundo. Graças àqueles valorosos estrangeiros que acreditaram em nosso país, foi possível – enquanto nossas instituições, mal ou bem, ainda o permitiam – construir, com trabalho, suor e saudades mas, também, com muita fé e confiança, uma considerável parcela da riqueza nacional. Nestes tempos em que se tenta denegrir os europeus como nossos colonizadores e “exploradores”, convidamos o leitor a responder à seguinte pergunta: o que teria sido de nosso país sem o seu trabalho, inteligência, criatividade, enfim, sem suas habilidades das mãos e do cérebro, fatores que, como salienta em diversas obras o escritor Michael Novak, efetivamente geram o crescimento das nações? Como seria nossa economia sem o concurso de italianos, portugueses, espanhóis, poloneses, alemães e tantos outros imigrantes? (Isto, para ficarmos apenas com os que vieram do Velho Mundo, sem incluirmos japoneses, coreanos, chineses, libaneses, sírios e outros povos).

Pois não é que perdemos uma década – a dos oitenta -, desperdiçamos uma outra – a dos noventa – e estamos, segundo diversos fatores indicam, lançando no poço das frustrações uma terceira? Errar uma, duas, três vezes? Reincidir e persistir no erro? Até quando esta situação vai perdurar? A rigor, enquanto quatro aberrações continuarem a prevalecer no Brasil: carga tributária colossal, burocracia descomunal, precariedade e instabilidade institucional e intervenção estatal. Estes são os quatro vilões que vêm não apenas escorraçando brasileiros qualificados para outros países e afugentando estrangeiros de nossos aeroportos, mas tolhendo a livre iniciativa, a vontade de trabalhar e de crescer na vida e imobilizando a própria esperança.

Liberais brasileiros, precisamos convencer-nos de que não cabemos em uma simples Kombi. Quando perdermos nosso acanhamento, vergonha ou comodismo e passarmos a ter coragem de expor nossas idéias, de ensinar os jovens a pensar, de desmistificar chavões vazios de conteúdo e de mostrar que precisamos lavar nossas instituições com creolina, nosso futuro como nação próspera e virtuosa chegará. Toda a minha experiência ensinando a jovens estudantes universitários, a profissionais de diversas formações em cursos de pós-graduação e falando para as mais diferentes platéias aponta neste sentido!

Precisamos voltar rapidamente ao passado, ao tempo da chegada ao Brasil de meus avós, quando aqui ainda havia futuro. Se as sociedades aprenderam, desde o século XVIII, com Adam Smith, como gerar riqueza e progresso e, portanto, como eliminar a pobreza, então a pobreza é um fato moralmente inaceitável! Quando nossos homens de Estado vão deixar de confundir causas com efeitos e aprender isto?

Afirmo categoricamente que, pelo andar da carruagem, não será tão cedo!

Não podemos, hoje, ter a esperança centenária do velho Giovanni Iorio e de tantos outros que vieram fare l’America em nosso amado país, nem muito menos a do poeta romano Horácio, quando afirmou: “nil desperandum Teucro duce et auspice Teucro” (não há porque desesperar, tendo Teucro como capitão e protetor) ... Nossa esperança – e nosso tão sonhado futuro –, pelo menos por mais alguns anos, estão condenados a permanecerem perdidos na densa névoa do passado!

(*) Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas. Site: www.ubirataniorio.hpg.ig.com.br
E-mail: uiorio@uerj.br'






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