A umburana da serra
Geraldo Alves
Essa antiga umburana
já velha, encaracolada,
só parece uma cigana,
pelo sol esturricada.;
filha do ventre da terra,
velha habitante da serra,
já pelos anos ferida.;
encurvada num lajedo
como quem já sente medo
dos últimos golpes da vida.
Seus últimos galhos grosseiros,
os ventos desassossegam.
Só Jesus sabe os janeiros
que suas hastes carregam.
A casca turvando a cor,
como se fosse um tumor,
contaminando a madeira
pra que os galhos pereçam
e os últimos restos desçam
no pedregal da ladeira.
Seu tronco velho revesso,
comido pelo cupim,
mostra sinais do começo,
caricaturas do fim.
Raízes entre os lajedos
como figuras de dedos
se agarrando no chão,
parecem símbolos da fé,
sustentando um corpo em pé
como se fosse um cristão.
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