Cordel da Moça Donzela do Bordel da Casa Amarela
Elane Tomich
Eu pintei
Uma aquarela
Que guardei
Em um baú
De aprendiz
De donzela.
Era um tal
Diz-que-me-diz,
Era um tal
De falar mal,
Remelexo nos quadris,
E foi quase que cedi
Ao desejo
Do meu pejo.
Aprendi
Ponto de cruz
E então bordei
Sete setes que pintei,
Em cor-de-rosa
E tons de luz.
Me feri
Com alfinete
E morri
Como joguete.
Acordei
Mais corajosa,
Mas atentei
Contra mim,
Com três balas
De festim.
Me tranquei
Em uma sala
Feito torre
De marfim.
Mas parece...
Quem não morre,
Padece
De um corre- corre,
Quer fugir
E quer sair,
Dos tropeços,
Do começo,
Dos fuzis
E do país.
Diz então
Que vai cair
Noutro chão
Num meio fio,
Meio frio
Ao meio dia.
Ou até,
Coloca o pé
Num tapete
Bem macio
De cor verde,
Onde um dado
Baila um fado
Quando perde...
Quando ganha
Se assanha,
E faz manha,
Ou se mete
Em lero-lero...
Dezessete,
Num bolero.
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