FILME PORNÓ
Houve um tempo, leitor, em que só se via foto de mulher nua em revistas de naturismo. E, ainda assim, escondido. Se você se lembra do Carlos Zéfiro, dos filmes de Durango Kid, da eleição da Marta Rocha, das alpargatas Roda e das balas Zequinha, é provável que pegou essa época.
Pois foi aí que, num certo dia, a pequena cidade viu sua calma atordoada pelo som de um alto-falante, num carro que rodava a rua principal: HOJE À NOITE, APRESENTAÇÃO DE SENSACIONAL FILME CIENTíFICO, SOMENTE PARA HOMENS. PROIBIDO PARA MENORES.
O "sensacional filme científico" era só pra disfarçar. A marmanjada sentiu que havia algo diferente nisso, coisa da pesada. E Ã noite, como era de se esperar, o local de exibição do filme estava cheio.
Se você desconfiou que se tratava de filme pornó, estava certo. Era um negócio incomum na cidade, pois o cinema o máximo que exibia era filme de beijos. Coisas do código de ética. A cada beijo a gurizada gritava: goool!
Era uma máquina l6 mm, velha; o filme era ainda mais velho, do tempo do cinema mudo, com cenas rapidinhas como se estivesse rodando acelerado. A primeira cena era realmente pesada: um gordão, vestido de Papai Noel, atirava-se em cima de uma melindrosa, de cabelinho curto e usando espartilho, vejam só. Aí a moça empurrava o gordo, levantava-se e tentava tirar o espartilho, numa velocidade alucinante. Parecia mais uma comédia do Carlitos. Papai Noel também se despia, atrapalhando-se com as ceroulas. A platéia arrebentava-se de rir, alguns diziam gracejos.
O fato repercutiu na cidade. Os exibidores do filme, satisfeitos com o resultado, queriam repetir a sessão no outro dia.
Mas, num conselho realizado no clube de crochê, as mulheres resolveram fazer um movimento para acabar com a pouca-vergonha. Nomearam como líder a mulher do delegado, que resolveu tudo sozinha: deu uns puxões de orelha no marido, passou a mão em dois ou três milicos e expulsou da cidade aquela "turma de depravados".
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