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Ensaios-->A POÉTICA NATURALISTA E A OBRA SÃO BERNARDO -- 23/01/2004 - 05:00 (Eustáquio Mário Ribeiro Braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pode-se dizer que há em São Bernardo, de Graciliano Ramos, uma relação visível entre homem e meio, própria da escola naturalista. Isto torna-se evidente na personalidade de Paulo Honório, pois pode ser distinguida uma força cega, uma fatalidade que põe na mais profunda desgraça. Depois que Madalena se suicida e todos o abandonam, ele pode, no silêncio da noite, mexer nas feridas. Julga-se um monstro físico e moral. “Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado.”

Observa-se que a Paulo Honório reconhece sua brutalidade e egoísmo, fatores da tragédia passional, mas é incapaz de lutar contra eles. A obra se encerra com o narrador-personagem invectivando os antigos hóspedes. So lhe resta Cassimiro Lopes, o guarda-costas que “tem furo de cão e fidelidade de cão.” Observa-se também na confissão da personagem a influência do meio nos atos do homem: “A culpa foi minha, ou antes a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.” O narrador de São Bernardo é um bruto ambicioso e sem escrúpulos, assim como João Romão em O Cortiço, o que demonstra a nítida impressão que a obra visa retratar com verossimilhança e naturalidade da vida agreste no sertão nordestino.

Quando instala-se o realismo com sua vertente naturalista, tentando corrigir a espiritualização excessiva. O realismo procura a verdade retratando, fielmente, as personagens e a vida que interpreta objetivamente, analisando-a em todos os detalhes. Busca expressar-se numa linguagem simples, natural, próxima da realidade.

Logo pode ser entendido que a obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, apresenta além do que foi citada acima, alguns aspectos da poética naturalista. Esses aspectos estão mais ligados ao fator regional, pois a vida agreste da personagem Paulo Honório é contada pelo próprio Paulo Honório, que funciona como um narrador-personagem, quando esse resolve contar suas memórias.

Uma característica marcante é a linguagem seca, bruta e objetiva da narrativa. Através da linguagem coloquial o narrador consegue através da Arte escamotear e esconder as falhas lingüísticas da personagem principal que, por conseguinte, se valia da naturalidade abrupta de sua fala, gestos e ações para compor seu emaranhado de idéias em que somente ele pudesse tirar proveito quer seja financeiramente ou socialmente.

Assim como em O Cortiço que justificava as ações do homem em função do meio em que ele vive, São Bernardo também apresenta a influencia do meio em suas personagens. Paulo Honório em busca de ascensão ao poder comete uma série de abusos e injustiças: roubando, trapaceando, humilhando, fazendo negociatas, pisando e passando por cima dos sentimentos das pessoas. Talvez tal característica tem a ver com a sua origem imprecisa, pois mal se sabe quem são seus pais, fora criado pela “velha Margarida” que mais tarde, quando esse consegue adquirir a Fazenda São Bernardo, retribui a caridade.

O pessimismo se manifesta mais claramente em São Bernardo, na personagem terrível que é Paulo Honório, e em Madalena, que termina se matando. O pessimismo aí se expressa como niilismo, experiência do nada.

Outra característica importante é a abordagem de patologias com o tema da morte e dos ciúmes. A obra é permeada por costumes do interior e sátiras expressas em palavras pitorescas. O realismo/naturalismo incorporando à literatura aspectos regionais, profissionais e populares, concorreu para o desenvolvimento de um estilo e para a nacionalização da língua. Ou seja, temas universais dentro do contexto nacional.

Maior impacto teve o romance nordestino regionalista. Nele, o homem pobre do campo e da cidade é focalizado na plenitude de sua condição humana. Graciliano Ramos (1892-1953) é o autor mais representativo com o romance Vidas Secas (1938), que narra a vida de uma família de retirantes. São Bernardo (1934) conta a história de um trabalhador rural que se torna proprietário e transpõe suas atitudes violentas para a vida afetiva. Angústia (1936) centra-se no drama do desajuste de um homem medíocre que se compensa com o crime. Graciliano Ramos, que sob a ótica regional tratava de problemas universais, não fez concessões à qualidade da escrita: é moderno pelo tratamento dispensado à tradição.

O realismo envereda pelo naturalismo no romance e no conto. O fatalismo pessimista emerge como pano de fundo da prosa de Aluízio de Azevedo (1857-1913), tanto em Mulato (1881), um estudo sobre o preconceito racial, como em Casa de pensão (1884), que versa sobre a conduta e a morte de um estudante. Em O cortiço (1890), Aluízio de Azevedo revela influência de Èmile Zola na inclusão do simbolismo significativo. O cortiço seria o Brasil, dependente e explorado pelas nações desenvolvidas.

O naturalismo voltou-se para o regional. Em Fortaleza, Ceará, surgem vários grêmios políticos e literários e alguns romances como Luzia-Homem (1903), de Domingos Olímpio Braga Cavalcanti (1850-1906), perfil da mulher excelente no pecado e na virtude.

Entre o crepúsculo do naturalismo e a Semana de Arte Moderna de 1922 instala-se a figura de Coelho Neto (1864-1934). No seu primeiro romance, A Capital Federal (1893), Coelho Neto faz uma crônica romanceada da vida carioca. Miragem (1895) tem narrativas sobre a vida doméstica onde, com realismo, retratam-se imagens burguesas. Em Inverno em flor (1897), a hereditariedade doentia gera a loucura e um amor incestuoso. Tormenta (1901) retoma a abordagem de patologias com o tema da morte e dos ciúmes. A liberdade de expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações desenvolvidas pelas vanguardas européias são assimiladas. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus. A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.

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