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Ensaios-->22. A REENCARNAÇÃO DESPERCEBIDA -- 29/02/2004 - 06:26 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Jeremias escreve:

“Palavra do Senhor, que veio a Jeremias, dizendo:

“Dispõe-te e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras.

“Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre rodas.

“Como o vaso, que o oleiro fazia de barro, se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.” (Jr., l8:1-4.)

Deveríamos reproduzir aqui todo o capítulo, mas o trecho acima nos satisfaz, por enquanto.

Na Bíblia, Deus apanha um pouco de barro e elabora figura humana, assoprando-lhe a alma para lhe proporcionar vida. Esse homem primitivo, tal como o vaso, fez-se de barro. Evidentemente, a metáfora é bem compreensível: o princípio material é animado pelo elemento espiritual.

Mas o vaso se estraga bem como o corpo humano; nem por isso, contudo, o oleiro desanima: toma do barro e elabora outro vaso. Assim também ocorre com o princípio divino da realização carnal das criaturas. Dada a eternidade da centelha que representa o espírito humano, uma vez que seu aparato corpóreo se corrói forçosamente pela lei natural que preside a matéria, nada mais justo possibilitar à alma grosseira, ainda impura e imperfeita, que habite outro vaso. Está aí, portanto, toda a teoria espírita da reencarnação no símbolo do oleiro a fazer e refazer os seus vasos.

Atentemos para outro aspecto do trecho. Foi a mandado do Senhor que Jeremias foi observar o serviço do oleiro. Como sabemos, “Senhor”, nesses livros sagrados, significa toda influenciação espiritual de caráter superior. Então, a sugestão, podemos dizer de forma inequívoca, partiu do plano da espiritualidade para que Jeremias pudesse tirar as suas conclusões. Mas o profeta não viu ou não quis ver no trabalho do oleiro a inspiração a respeito do reencarne. Antes, preocupado com os ataques inimigos à sua pessoa e ao templo, preferiu observar na lição outro mérito, qual seja, o da possibilidade de o Senhor refazer seus planos para os mortais, conforme as decisões destes também mudassem. Assim, o que pretendia realizar o mal mas se determinou a praticar o bem, fará com que Deus altere o seu plano com relação a ele da mesma forma; caso contrário, ou seja, se passar do bem para o mal, certamente, na voz atribuída por Jeremias ao Senhor, o plano divino se alterará no mesmo sentido.

Consuma-se, assim, o proveito próprio da maravilhosa inspiração espiritual. Jeremias transforma em ameaça divina contra seus inimigos e, por extensão, a toda a humanidade, o que poderia ter representado inspiração absolutamente mais coerente com o atributo que damos à Divindade de ser soberanamente bom e justo. O que representava segunda oportunidade ou mais, indefinidamente, passou a caracterizar-se como plano de mera vingança, inserindo-se na lei conhecida da retaliação.

Talvez por ter ficado no fundo de sua consciência, interroga mais adiante o profeta:

Acaso pagar-se-á mal por bem, pois abriram uma cova para minha alma? (Jr., 18:20.)

O descerramento para a verdade evangélica estava sendo tentado. O médium, entretanto, não consegue ver no perdão ao inimigo apanágio de superior entendimento das relações entre os seres. Fora enviado ao oleiro para observar. Viu quando de vaso estragado se fez outro perfeito. Sabia que a lição se dava no âmbito da aplicação moral e espiritual e não meramente no relacionamento fortuito dos encontros sociais. Mas não aprofundou sua reflexão, preferindo ver na sugestão do etéreo algo que o faria prevalecer sobre os adversários. E, em sua cegueira, não percebe o princípio redentor do perdão, descendo à prece mais execrável da solicitação ao Senhor de severa punição aos inimigos:

Portanto entrega seus filhos à fome, e ao poder da espada; sejam suas mulheres roubadas dos filhos, e fiquem viúvas; seus maridos sejam mortos de peste, e os seus jovens feridos à espada na peleja. (Jr., 18:21.)

Causa-nos até certo mal-estar a simples transcrição do desarrazoado pedido do profeta.

Pense, seriamente, caro amigo, se você seria capaz de elevar os pensamentos ao Senhor com esses sentimentos. Evidentemente, não teria sequer coragem de admitir, no refolho mais íntimo da consciência, sequer a possibilidade de vir a vislumbrar qualquer nuança de indignação que lembrasse o teor dessa odiosa manifestação. Saberia, caso tivesse algum estremecimento nesse sentido, que estaria totalmente errado e que não teria justificação diante do Salvador, Cristo—Jesus. No entanto, o profeta projeta tais pensamentos para o Alto, registra-os indelevelmente nas sagradas escrituras e investe contra os inimigos no célebre episódio do pote quebrado, anteriormente já motivo de dissertação nossa (“Um Dia Nebuloso”).

Apesar de tudo, tivera tido a divina inspiração do perdão e da segunda oportunidade.

Vamos agora entretecer estes comentários de algumas observações de caráter espiritual sob o prisma da Codificação.

Como poderíamos entender diferentemente a influenciação espiritual, se nos vestíssemos da pele do profeta ao tempo de sua peregrinação? Certamente, a cultura judaica arraigada na mente do poderoso e influente personagem, sob o ponto de vista de sua ascendência intelectual e sob a retórica da inspiração de caráter superior, fazia com que agisse em função dos princípios da lei, que julgava não devessem ser derrogados. Tendo em vista as ameaças de infiltração de outros cultos e de tendências místico-religiosas alienígenas, encegueceu-lhe o entendimento, pois via iminente a catástrofe que atingiria o povo judeu, ainda imaturo e altamente influenciável pelas promessas de pronto atendimento, ainda mais que à custa de pequenos sacrifícios. A ação do mediador foi rápida e espontânea e o seu relato franco e verdadeiro. Se tivesse tido tempo para refletir, o que hoje a nós é dado de sobejo, considerando os séculos que decorreram desde a época daqueles acontecimentos, por certo poderia ter verificado que perdera as oportunidades que lhe haviam sido proporcionadas.

Falando nós bem abertamente e com o coração na mão: não estaremos, também nós, deixando escorrer por entre os dedos a preciosa água da salvação, à medida que deixamos de considerar os ensinamentos cristãos como imprescindíveis para nosso melhoramento? Diante de nossa mediunidade ou dos trabalhos espirituais publicados por mediadores de mérito, temos conseguido suficiente esclarecimento e dado a devida atenção ao aconselhamento que aí se contém? Estamos à vontade para elevar a nossa crítica ao fero invectivador bíblico, alheios às circunstâncias que o conduziam naquele instante? Temos dado oportunidade a esse mesmo espírito de escol de apresentar-se de novo diante de nós com mensagem atualizada a respeito dos conhecimentos da realidade que de lá para cá foi capaz de açambarcar?

Sabemos que este método de perguntas é muito eficiente do ponto de vista da retórica e torna o texto mais leve e menos cansativo. No entanto, corremos o risco de obter respostas fugidias e incompletas. Teríamos nós a coragem de nos sentarmos à mesa de trabalho e de escrever minuciosamente todos os nossos atos de vida, mesmo aqueles que poderiam condenar-nos? Certamente, se não tivermos consciência dos males a que damos guarida em nossos pensamentos, até que o faríamos desabridamente e isto serviria para o início de nossa reflexão.

Tente, então, bom amigo, escrever a história de sua vida. Depois, peça que se edite e se divulgue. Aguarde o momento de sua despedida do orbe e veja se, ao reler o seu texto, você não terá mudado de opinião. Espere os séculos transcorrerem e vá observando os efeitos dos seus escritos no espírito dos que se ativerem à sua leitura. Receba os eflúvios energéticos positivos dos que se agradarem da experiência que lhes foi passada. Sofra as vibrações antipáticas de quantos se virem na condição de críticos severos. Volte à carne e reescreva a sua saga sob a luz de novos conhecimentos e sob o amparo da doutrina de amor de Jesus e do ensinamento de caridade do espiritismo. Por mais parecido com o ser que deu vazão ao início da turbulência, você hoje mais se assemelharia a homem despojado das ambições materiais, pois, inevitavelmente, teria de apresentar resultados cármicos muito mais adequados para seu crescimento espiritual.

Não seja, portanto, bom amigo, leitor desatento. Não acredite mais em que os sentimentos registrados nos livros sagrados da Bíblia ainda perdurem. Pense em que a evolução moral tenha chegado para todos. Aproveite os ensinamentos que tenham ficado subjacentes e jamais verrume os autores com palavras de desagrado ou de desconforto moral. Saiba ver na prece de Jeremias o desafogo de alma oprimida pela maldade vigente e passe adiante, tomando dessa atitude a lição que ela possa encerrar. Não se contente em ver nas palavras apenas maldades, mas o reflexo de procedimento moral segundo as estruturas culturais dominantes à época. Estabeleça as possíveis comparações com outros textos de todos os tempos, para poder chegar à sua época com a inteligência atilada e a consciência apta a aproveitar todas as coisas boas que as experiências antigas possam conter.

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