As pessoas à nossa volta nunca estão contentes com elas próprias e, principalmente, com os outros. São piores que nós, jornalistas.
Ninguém deixa de vasculhar a vida alheia, imitando um pobre vira-lata que procura comida no lixo. Desconsidere o exemplo colocado, é muito incoerente, por favor. Gosto muito dos vira-latas!
Iria mesmo dizer sobre a curiosidade das pessoas à nossa volta, não é isso? Pois bem, sair de casa ou chegar desacompanhado é ser obrigado a ouvir na primeira oportunidade que não é bom ficar sozinho, desmentindo o provérbio "antes só do que mal acompanhado ". Melhor é dividir os passeios com uma namorada, até concordo.
Dias depois e você é visto andando abraçado com uma moça, supõe-se logo que seja sua namorada, concubina ou esposa. Aliviado por afastar qualquer má impressão a seu respeito você pensa que está livre das bisbilhotices. Engano seu, é só o início!
Um mês de namoro, aliança de compromisso no dedo e eis que vem outra pertinente ou impertinente pergunta:
- "Quando vai ser o casamento? "
Com um sorriso sem graça no canto da boca,o murmúrio lacónico responde:
- "Um dia..."
Começam outros boatos insinuando que a ingênua moça está sendo enrolada por você, coitadinha.
- "Ele sempre foi mulherengo! "; dizem seus conhecidos.
Mais um tempo passa e finalmente vem seu casamento. Antecipo que nem adianta pensar que agora termine a fofoca. De forma alguma!
No meio da festa de casamento, antes da esperada lua-de-mel (se é que já não foi inesperada) um hálito alcoolizado aproxima-se de sua face com uma nova pergunta:
- "E o filhinho, quando é que vai chegar? "
- "Em breve"; é sua resposta.
Nove meses de vida a dois, de intensa convivência (o que mais tarde sabemos que será de intensa neurose) nasce seu primogênito.
Já na apresentação do rebento a Deus, alguém aparece para cumprimentá-lo. Você, calejado com as inquisições que vem passando, imagina qual será a próxima pergunta.
Podem ser várias, como:
- "Quando é que vão brigar? "
- "Quando é que vão se divorciar? "
- "Quando é que vão morrer? "
- "Quem vai primeiro: você ou ela? "
Mas, dessa vez o cumprimento é mudo. A Igreja inibe perguntas desse tipo. Então, cancele o almoço de recepção, a sorte pode não ser a mesma.
São engraçadas essas situações, pena que atormentam qualquer um. Ou estou equivocado?
Pior que isso é contagiante e, estando já contagiado, eu pergunto ao leitor:
"Quando você vai terminar de ler esse livro e me enviar sua opinião sobre ele?
* Crónica que integra o próximo livro do escritor João Ribeiro Neto intitulado: "A Vida é Bela - Para Quem?"
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