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Ensaios-->FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ AMÉRICO -- 23/04/2004 - 08:33 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FUNDAÇÂO CASA DE JOSÉ AMÉRICO
JOÃO PESSOA - PARAÍBA

*MOURA LIMA


A Fundação Casa de José Américo está localizada de frente para a praia de Cabo Branco, numa das regiões mais bonitas da grande João Pessoa, próxima ao ponto mais oriental das Américas – a Ponta do Seixas – passagem obrigatória para os turistas que procuram o aconchego das praias do litoral sul da cidade verde.
A Fundação é um espaço cultural com personalidade própria no ordenamento político-administrativo da Paraíba, que abriga a obra do renomado escritor brasileiro José Américo, que foi também um homem público.
José Américo de Almeida, escritor brasileiro, nasceu em Areia, na Paraíba, no ano de 1887, e faleceu em João Pessoa-PB, em 1980. Foi romancista, cronista, ensaísta, promotor público, senador, governador da Paraíba, Ministro de Estado, candidato à presidência da Republica, Ministro do Tribunal de Conta, Reitor da UPB e membro da Academia Brasileira de Letras. Além de homem público de grande atuação no cenário brasileiro, na literatura ocupa lugar de destaque, graças à publicação, em 1928, do romance A Bagaceira, que inaugurou o importante ciclo regionalista nordestino do modernismo, na ficção. É autor das seguintes obras: A Bagaceira, O Boqueirão, Coiteiros, Reflexão de uma Cabra, A Paraíba e Seus Problemas e outros.
De antemão, deixo de lado essas reflexões de ordem cronológica e biobibliográfica, e preparo-me para uma visita ao casarão, ou melhor, ao santuário de José Américo – um dos vultos maiores da Paraíba -, marco referencial da literatura brasileira.
A manhã é convidativa para a busca das coisas do espírito, o céu é claro na tonalidade azul, e do mar sopra uma brisa agradável, e, com essa atitude de paz com o mundo, entro na Fundação José Américo.
Do portão de entrada, a poucos metros, leio, num pedestal de concreto, uma placa que contém uma mensagem edificante dos objetivos da fundação:
- “Missão: - Preservar, pesquisar e divulgar a vida e obra de José Américo de Almeida e a Cultura Paraibana, para engrandecimento da sociedade”.
De cara percebo que a instituição é bem administrada, pelo zelo das instalações. Sou recebido pelo Presidente da instituição, por sinal, meu colega, advogado Flavio Sátiro, que, com competência e visão profunda, administra a Casa, hoje uma instituição nacional, em razão da importância da obra literária de José Américo para a cultura do país.
O presidente, na sua hospitalidade, conduz-me ao salão nobre e, na sua fala fluente, vai-me apresentando a grandeza da cultura paraibana; no final, presenteia - me com a obra da notável crítica literária paraibana, Adylla Rocha Rabello – José Américo de Almeida nos Bastidores . Da minha parte divulgo-lhe a cultura do meu estado, da minha cidade, de Gurupi, como a capital universitária do Sul do Tocantins. Em seguida passo a autografar a minha obra literária, começando pelo romance Serra dos Pilões – Jagunços e Tropeiros, depois por Chão das Carabinas – Coronéis, Peões e Boiadas e Negro d’Água – Mitos e Lendas do Tocantins, bem como repasso também, para o acervo da instituição, o livro da critica literária brasileira, professora Moema de Castro e Silva Olival - Moura Lima: A Voz Pontual da Alma Tocantinense.
Não obstante, a proveitosa conversa cultural com o senhor presidente, a diretora do departamento de Documentação e Arquivo, professora e escritora Ana Isabel de Souza Leão Andrade, autora do fascinante livro José Américo – Visto pelos Caricaturistas, gentilmente conduz-me pelo interior da casa de José Américo e, na sua expressiva comunicação, vai-me mostrando os departamentos, os arquivos, a biblioteca, e chama-me a atenção quanto ao aspecto bucólico da localização dos prédios no meio dos arvoredos e pomar, que foi tão apreciado no passado por José Lins do Rego, nas suas visitas ao ministro. Logo percebo que a fundação é um espaço-cultura aberto ao público, em razão do movimento dos visitantes. E, assim, vivamente compenetrado, vou percorrendo as instalações, por sinal, amplamente modernas e informatizadas. Outro ponto importante da administração, que me chama a atenção, é a importante obra documental: o arquivo dos Governadores da Paraíba. O acervo contém mais de 300 mil documentos, e está disponibilizado aos pesquisadores, de forma organizada e de fácil manuseio.
No final da visita, a professora Ana Isabel reserva-me a parte emocional, levando-me ao Mausoléu, onde jazem os restos mortais de José Américo e de sua esposa Alice Mello de Almeida. Ao lado, e na área do pomar, há pelas paredes várias placas com poemas saídos da pena criadora de José Américo. E nesta antologia ao ar livre, há um poema que homenageia o famoso pé de fruta pão, plantado pelo patrono da casa, que me faz lembrar de Humberto de Campos e seu festejado pé de caju.
E, ali, aos pés do mausoléu, vem-me do santuário da alma uma projeção psíquica, e vejo a imagem de José Américo no final de sua velhice, na sua solidão, andando pelo casarão e o pomar; aí me lembro das ponderações de Goethe e de outros pensadores, com relação à periodicidade cíclica da existência, e assim, podemos afirmar:
-A punição mais rigorosa que o soberano dos mundos pode aplicar a um homem de fama, que viveu pela força do verbo e exerceu uma influência marcante na sociedade do seu tempo, é deixá-lo no cárcere da vida até o final de uma longa velhice, onde os seus amigos, os contemporâneos já se foram do mundo, e os novos, que lhes ocuparam o lugar, consideram-no um intruso, que quer, ainda, participar da festa dos outros. Mas uma outra voz surge-me dos subterrâneos do eu interior, e contesta essa sutil digressão:
- Com o autor de A Bagaceira, não ocorreu essa tragédia, pelo contrário, apesar de a imprensa tê-lo batizado de o solitário de Tambaú, continuou contribuindo com os frutos de sua inteligência, no silêncio de seu ostracismo construtivo e de livre escolha. E é bom que se diga, de viva voz: Ele sempre foi, na acepção da palavra e na grandeza de sua alma, quer como homem público, quer como literato – um evangelizador social ; e assim passou a ser, no ocaso de sua vida , uma espécie de conselheiro da República , inclusive, recebendo a visita de presidentes e de potentados. E a prova ai está, com a solidez da Fundação Casa de José Américo, que se projeta no século XXI, como um modelo de esperança para a cultura agonizante nacional.
Na parte dos fundos do mausoléu, edificou-se a administração, e o confortável auditório para os eventos culturais, onde se também abriga um bem organizado museu.
Agradeço, comovido, aos meus anfitriões pela fraternal acolhida, e despeço-me, lembrando-lhes a frase lapidar de Gibran Khalil Gibran: - O homem, para ser homem, é preciso que plante uma árvore, gere um filho e escreva um livro. E acrescento-lhes, por último: - Mas o escritor José Américo fez muito mais, deixou-nos um exemplo de vida e legou ao país um patrimônio cultural imenso!
Do mar vinha um vento frio, o firmamento era uma apoteose de luzes, e, em silêncio, retiro-me por entre os coqueirais da praia de Cabo Branco, para não profanar a morada eterna de José Américo.
FUNDAÇÂO CASA DE JOSÉ AMÉRICO.

*Moura Lima é advogado,escritor regionalista,membro da Academia Tocantinense de Letras e autor de vasta obra literária. E-mail: j.mouralima@zipmail.com.br





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