Um convite para assistir a um filme sem final feliz é Osama, do diretor afegão Siddiq Barmak. O drama das mulheres que tiveram seu país invadido pelos Talibã e foram obrigadas a submeterem-se as severas leis impostas por eles, é contado em 82 minutos, numa produção meio documentário dramático, marcando a chegada de mais uma das poucas cinematografias oriunda do Afeganistão.
História, política e audiovisual se encontraram quando o diretor Barmak teve a idéia de fazer o filme Osama. Durante o período em que ficou exilado no Paquistão o roteiro começou a ser escrito. Enquanto isso a região do Afeganistão estava sob o domínio dos Talibans, impondo severas leis. A partir do episódio do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 e a subseqüente guerra promovida pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, o regime caiu.
O filme foi concluído em 2003 e foi rodado na capital de Cabul. A região montanhosa e deserta exibiu uma geografia da pobreza e o drama de seus habitantes, em especial das mulheres, que no filme foi protagonizado por uma viúva, a sua filha e a sua mãe. As três mulheres viviam isoladas dentro de casa, pois os homens da família morreram combatendo em guerra. Segundo o regime Talibã, as mulheres não podiam sair de casa ou trabalhar sem a companhia de um homem e deveriam andar sempre coberta com uma espécie de túnica que cobria todo o corpo, a burka. Nessas condições a mãe acaba por obrigar a filha a disfarça-se de menino e assim poder trabalhar para o sustento da família.
O clímax do filme, a partir deste momento, levam todos a tentar desvendar a trajetória da garota disfarçada, passando a se chamar Osama, criando uma expectativa dualista sobre o final do filme: a garota será descoberta, ou não?
O final mostra uma lógica surpreendente. O diretor utiliza-se de artifícios que exibe um enigma mais relacionado com o enfoque do filme, ou seja, a situação da mulher talibã, do que estratégias hollywoodianas de surpreender com algo inesperado, ou mesmo o “happy end”. Osama rendeu a Barmuk a indicação de melhor filme estrangeiro para o Oscar de 2004, mais o troféu ficou com Invasões Bárbaras, de Denys Arcand, que ironicamente teve o seu final feliz.