Acordei nesse dia um pouco animado. Olhei o calendário automático na parede, e vi que era dia dez. Não suporto esse dia e perdi o resto de ânimo que tinha. Todo dia dez, ainda que eu acorde animado, acabo ficando desanimado. Como eu poderia ser animado no dia dez?...
Francamente o que eu não queria jamais era olhar o calendário nesse dia. Seria muito bom se não existissem o dia dez em cada mês. Tenho impressão que seria o mesmo que uma mulher sentisse que passou o dia do seu indesejável fluxo. Seria como se a vida fosse outra... Como se ela tivesse um sentido diferente. Mas felizmente, por tudo que estava acontecendo em minha vida, esse seria o último dez que eu enfrentaria nessa situação. Mas mesmo assim eu gostaria muito que não existisse mais esse dia ainda que fosse o último que eu tivesse que amargar o peso desse segredo que sempre guardei por toda a minha vida, sem ter como contar pra ninguém, como se só eu tivesse que suportar o peso colocado nos ombros do mundo.
Alguém bateu à porta. Respondi. A voz do lado de fora falou:
_ Pode por favor acertar o relógio e o calendário?
_ Por que acertar? – eu perguntei sem abrir a porta.
_ Não está vendo que está tudo atrasado? Faltou energia a noite toda, e o calendário está atrasado...
Pulei da cama animado. Havia passado o dia dez. O último dez do meu segredo. Eu tive certeza que era o último. Não precisava mais guardar o peso do segredo que guardei por toda a vida...
