Permita que eu reparta hoje (e sempre)
a riqueza que confiaste em deposito como um tesouro
em meu coração.
Quanto ouro...
...quanta fartura...
...quanto vinho!...
(e eu a contemplar)...
Já não mais suporto o peso desta riqueza que escondo...
Este ouro incômodo, esse cheiro, esse vinho a jorrar...
E, quanta pobreza vejo...
...quanta fome...
...quanta sede!...
(e eu a chorar esse peso)...
Ou permitas que os ladrões roubem-me desse tesouro!...
...ou quem sabe os gananciosos me levem a juízo
e me tomem um pouco!...
...E teriam paz em seus corações
(e não mais seriam ladrões)...
e seriam ricos pra sempre
(e não mais gananciosos)...
Mas qual ladrão ou avarento pode descobrir
de qual riqueza falo
(porque só podem ver os que já não são)
se desprezam esse invólucro?...
...já ofereci nas estradas
e ele passaram correndo...
...já gritei nas praças e templos,
eles chamaram-me louco...
Ó permita que eu reparta ao pobre
...e ao faminto...
...e ao sedento...
e aos que dormem
(pois não sabem que dormem e só o saberão
quando acordarem)...
...e quando acordarem
já não serão
...e (mesmo assim) não saberão quem sou
nem quem és
...mas acreditarão em milagres...