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Contos-->FREI ZEQUINHA E O SACRISTÃO -- 26/11/2002 - 22:33 (JOÃO EVANGELISTA DE SÁ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FREI ZEQUINHA E O SACRISTÃO
AUTOR: JOÃO EVANGELISTA DE SÁ

Num domingo, em vésperas de quaresma, quando o povo se preparava para o jejum, conforme a crença religiosa, lá na igrejinha do lugarejo denominada Palmital repicava o sino para a celebração da missa costumeira de domingo.
O sino repicava chamando o povo, assim fazia, porque ainda não estava no decorrer da quaresma.
Às pressas, vinha o pessoal, um atrás do outro, caminhando por entre as trilhas deixadas pelos animais. A conversa tecida entre eles se dava sobre as roças de milho e feijão enquanto entre as comadres o diálogo girava em torno das dificuldades do dia-a dia.
Alguns já se encontravam de cócoras à porta da igrejinha, outros bebiam prazerosamente goles de água-ardente lá na venda do Velho Turco, que por detrás do balcão recolhia as moedas e soltava risadas por causa das anedotas contadas por seu irmão Mário.
O Frei Zequinha, também gostava de passar por lá, só para antes da celebração, sem que fosse visto por seu rebanho, num reservado que existia nos fundos da venda, derramar garganta a baixo, mais de meio copo da branquinha que descia rasgando o peito.
O sacristão, coitado, não tinha tempo nem mesmo de suspirar. Tudo que ele e o Frei chegavam no povoado pegava uma malinha preta e dava-se em direção à igrejinha. Ia preparar os paramentos para o momento da missa.
Sempre quem ajudava nos preparativos era o Zé Mateus, um lavrador, este sim, era um homem de fé, de fé não, de boa vontade. Porque fé a gente não sabe explicar mesmo, mas boa vontade até que dá para esclarecer. Então, ele tinha este adjetivo, porque todos os sábados ele ia à cidade, na casa do vigário e pegava um jornalzinho para realizar o culto que acontecia às quatorze horas nos domingos, lá naquele povoado. Era como galo ciscador, tinha sempre à sua volta a família inteira. Coisa de uns dez filhos e esposa. É...É. É isso mesmo. Dona Carmelita era o nome de sua companheira, esta ficava responsável de fazer ensaios dos cânticos com a criançada e na hora da entrada do Frei Zequinha, ela se punha toda imponente lá no primeiro degrau do altar mor e como se estivesse com uma batuta nas mãos dava o sinal do início. A criançada abria em gritos a cantar.
Quase todos já estavam reunidos. Refiro-me assim, pois nem todos estavam ali. Uns por causa dos programas de TV, outros por não participarem da mesma fé e ainda existia os que ficavam ali apenas a esperar uma bola para diversão, que muitas vezes era dada bem no momento da elevação do cálice.
A igreja estava superlotada, naquele domingo. Também, era preparação para o início da quaresma...
O Sacristão que já de vestes brancas e compridas havia preparado nos castiçais duas velas acesas, estas foram dando de queimar deixando escorrer sobre a tolha branca que compunha o ritual de fé, os restos de vela seriam recolhidos mais tarde, após a missa.
De vez em quando, as comadres tiravam a Ave Maria que pelos homens era respondido, Santa Maria. O tempo passava e entre olhares desconfiados como se faz o povo matuto, orgia alguns murmúrios.
O Zé Mateus, preocupado com a demora, foi ao pé de ouvido com o Sacristão perguntar porque o Frei Zequinha ainda não havia chegado.
O sacristão todo desarrumado falou para o Zé Mateus que o Frei Zequinha estava lá na venda do Turco fazendo o quê de costume. Mas naquele instante, quando ainda estavam se dialogando baixinho, eis que entra o Frei Zequinha às pressas.
Sob o efeito das doses excessivas naquele dia e movido pela pressa do cumprimento do dever, o Frei Zequinha pisou na ponta da batina ao subir os degraus do altar mor e quase se dá com a testa ao chão.
Um zunzum-zunzum chegou aos ouvidos dos que ali estavam. Mas quando o Frei se levantou, olhou para trás, o silêncio tomou por conta daquele lugar e uma Ave Maria entre sorrisos saia dos lábios de Dona Graça.
O Frei entrou para a sacristia, vestiu os paramentos e deu sinal para que o sacristão tocasse a campainha. Ele obediente assim o fez.
O Zé Mateus fez o introdutório que em seguida foi dada a entrada do Frei, sob a cantoria desafinada de Dona Carmelita.
Os poucos homens que se encontravam no interior da igrejinha asseguravam os chapéus, ora debaixo do braço ou ora ao peito, ostentados pelas mãos.
Tudo ia indo bem até a chegada da Zezé, uma meio desmiolada que morava naquela comunidade. Tudo que ela pôs os pés dentro da igrejinha já foi logo soltando os berros. Incomodando a todos.
O Frei que sentindo aquilo como se fosse um insulto e já com o efeito da branquinha na cabeça, desceu do altar rezando o Pai Nosso e foi também pensando: Vou até onde está aquela demoníaca e vou empurrá-la fora da igreja.
Assim foi o Frei Zequinha:
- Pai Nosso que estais no céu, Santificado seja...
A Zezé que estava lá em baixo foi logo gritando:
- Vem padre, vem. Se ocê tem saia eu também tenho.
O Frei Zequinha foi continuando a oração:
-... O vosso nome venha nosso o vosso reino...
Ele ia cabisbaixo soltando o hálito da bebida pela boca, o que era percebido pelos que se faziam presentes na igrejinha.
Só se ouvia o Frei e a Zezé, ele orando e ela xingando.
Já bem perto da desmiolada da Zezé e quase colocando ponto final na oração aconteceu o pior.
A danada parecendo estar demoníaca disse:
- Eu também tenho saia. Vem padre. Vem.
Neste momento o sacristão que prevendo algo, pegou a água benta e começou a atirar de um lado a outro, até chegar perto do Frei, mas já foi tarde demais a decisão tomada, pois a Zezé foi levantando a saia, peça única que lhe cobria o corpo e se expondo a nudez ao Frei, dizendo:
- Olhe! Veja o que eu tenho. Agora levante a sua saia quero ver se tem também.
O Frei, para não passar maior vexame, deu meia volta cantando:
- Creio em Deus Pai, todo poderoso, no Espírito Santos, na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos na vida eterna. Amém.
O Sacristão com olhares repudiantes parou de jogar a água benta e acompanhou o Frei, que a passos largos encaminhava-se para o altar novamente.
A missa foi dali para frente sapecada.
O Frei colocou o chapéu de lebre na cabeça, ordenando o sacristão ao organizar os paramentos e dali saiu. Passou novamente como de costume na venda do velho Turco, jogou garganta abaixo mais uma dose e se pôs em retirada.

FIM

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