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Ensaios-->Objeto e método da Filosofia Primeira: uma leitura do livro -- 21/10/2004 - 22:13 (Sidinei Cruz Sobrinho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH
Programa de Pós-Graduação em Filosofia – Mestrado –2004/II
Disciplina: Conhecimento e Linguagem I Créditos:3 (três)
Prof. Dr. Jayme Paviani
Aluno: Sidinei Cruz Sobrinho


Objeto e método da Filosofia Primeira: uma leitura do livro IV da Metafísica.



“O pensamento, quando perplexo assemelha-se a um homem amarrado, pois nem um nem o outro pode avançar” (Metafísica III 1, 995 a 30)
A analogia feita por Aristóteles entre o “pensamento perplexo” e um “homem amarrado” pode ser útil ao nos propormos a leitura dos seus textos e principalmente, se for o caso, a ousadia de uma modesta interpretação. A perplexidade que nos detém agora é frente os seus escritos “pós-física”, a denominada, “Ta meta ta fisica” ou, mais precisamente sobre o Livro IV desta coletânea.
Antes de qualquer passo em direção ao texto específico referido, buscamos estabelecer a meta deste ensaio de modo a não repetirmos o ato do “homem que nem se quer sabe se, em dado momento, encontrou ou não o que procurava, pois para ele a meta não é clara” (III 1, 995 b35). Nossa meta consiste aqui, em identificar a definição, objeto e método da Ciência Primeira. Aquela ciência que Aristóteles vem buscando desde o livro I quando faz uma história da filosofia (aborda e critica filósofos e seus pensamentos; pitagóricos, platônicos ...) procurando demonstrar o que os homens entendem por saber e que “todos os homens por natureza tendem ao saber” (I, 980 a 21), concluindo ser a “sapiência o conhecimento de certas causas e certos princípios” (REALE 2002 p. 5), a saber, os primeiros princípios e as primeiras causas. É esta característica que diferencia a sabedoria das demais ciências.
No Livro IV, capítulo 1 1003 a 25-30, Aristóteles afirma de maneira conclusiva sobre esta diferença:
“Há uma ciência que investiga o ser como ser e os atributos que lhe são próprios em virtude de sua natureza. Ora, esta ciência é diversa de todas as chamadas ciências particulares, pois nenhuma delas trata universalmente do ser como ser. Dividem-no, tomando uma parte e dessa estudam os atributos”
No entanto, irá dizer o autor, o que se busca não são os atributos acidentais do ser, mas essenciais. “Portanto, é do ser enquanto ser que também nós teremos que descobrir as primeiras causas” (IV 1, 1003 a 25-30).
Aristóteles define ser o objeto da Metafísica o estudo do “ser enquanto ser e as propriedades que lhe pertencem” pois é “o único capaz de tornar a compreender em sua totalidade do real para o qual a natureza, objeto da física, se revelara inadequada por causa da existência de uma realidade imóvel” (BERTI, 1998 p 86). Daí que o método utilizado por Aristóteles para definir os significados do ser e suas propriedades será, como afirma Enrico Berti, a “análise semântica”. Método este identificado na seguinte passagem da Metafísica: “(...) após distinguir os vários sentido de cada termo, cumpre-nos explicar esses sentidos em referência ao que é primário para cada um dos predicados em questão, mostrando como se relacionam com ele” (IV 2, 1004 a 25 –30). Desta forma, Aristóteles diferencia a filosofia da dialética e da sofística: “A dialética é apenas crítica, enquanto a Filosofia aspira ao Conhecimento, e Sofística é aquilo que parece ser Filosofia, mas não é” (IV 2, 1004 b 5 – 25).
“A filosofia se distingue da dialética, isto é, no seguinte: ela deduz e prova cientificamente as próprias proposições, enquanto a dialética, que sabe tornar as próprias proposições apenas prováveis, partindo do ponto de vista das convicções comuns fornece apenas resultados provisórios e, ao mesmo tempo, indaga as razões pró e contra só preliminarmente e na base de tentativas. (...) a filosofia se distingue da sofística pela sua tendência geral e escolha, enquanto tende ao conhecimento verdadeiro e científico, enquanto esta é só aparência de saber, privada de seriedade e de exigências científicas. A dialética pelo menos leva ao saber, embora ela mesma não seja saber; ao invés, a sofística tem só aparência de saber”
Conforme Schwegler, neste esclarecimento feito sobre a diferenciação entre filosofia, dialética e sofística, podemos perceber como ele apresenta a dialética como uma forma de saber. O que nos faz lembrar da diferenciação feita por Aristóteles ainda no livro I da Metafísica, entre “saber” e “conhecer”. E o objetivo da Metafísica é o conhecimento. A dialética aristotélica se diferencia da dialética platônica pela análise semântica. É a “distinção entre os múltiplos significados do ser , que permite descobrir os autênticos princípios do ser, em vez daqueles postos por Platão” (BERTI, 2002 p. 86).
O papel da Filosofia Primeira será, apartir deste método, estudar todas as coisas, dentre elas a Unidade e a Multiplicidade: “é trabalho de uma só ciência investigar os contrários , e a pluralidade é o contrário da unidade (...) e todas a noções que se ligam, ademais do um, também ao múltiplo: negação, privação, diverso, dessemelhante, desigual, contrariedade e diferença” (IV 2, 1004 a 10 –30). Também “compete ao filósofo, isto é, ao que estuda a natureza de toda substância, pesquisar também os princípios do silogismo” (IV 3, 1005 b 5) .
A partir desta delimitação do objeto e do método da Filosofia Primeira, é que Aristóteles define o primeiro princípio. Princípio este que não deve ser hipotético e sim o mais bem conhecido: “o mesmo atributo não pode, ao mesmo tempo, pertencer e não pertencer ao mesmo sujeito com relação à mesma coisa” (IV 3, 1005 b 20).
O princípio da não-contradição é considerado por Aristóteles como sendo uma “lei” do ser. Pois é a partir dele ou melhor, sobre ele que deve ser estruturado o conhecimento. Este princípio é o mais certo de todos pois “é tão geral e oniabrangente quanto o próprio conceito do qual pretende ser princípio, o ser” (SANTOS, 2002, p.136). Podemos então chamar tal princípio de princípio Ontológico.
O principío da não contradição é condição para o conhecimento, pois está presente de forma imediata ao ser e o afirmamos dada a potencialidade presente na essência humana, na racionalidade, que nos permite expressar, pela linguagem, esta lei do ser.
No decorrer seguinte à formulação deste princípio, Aristóteles considera as objeções feitas pelos que venham a questionar tal princípio e apresenta , por sua vez, a refutação de tal objeção:
“Alguns, na verdade exigem que também ele (o princípio) seja demonstrado, mas isso provém da sua ignorância, pois não saber de que coisas se deve requerer prova e de quais não se deve, revela falta de instrução. Efetivamente, é impossível dar demonstração de tudo, teríamos então uma série regressiva infinita, e nenhuma prova poderia haver; mas, se há coisas de que não se deve exigir prova, nenhuma mais evidente do que esta poderiam eles apontar” .
Ao refutar as objeções feitas ao princípio da não contradição, Aristóteles não está demosntrando tal princípio, pois este é indemonstrável. O que podemos demonstrar é o erro a que somos levados, quando não consideramos ou negamos tal princípio, de modo que se torna impossível definir as causa primeiras do ser respeitar tal axioma.
Toda esta fundamentação e apresentação do objeto e método da Filosofia primeira que Aristóteles vem demonstrando desde o livro primeiro, possibilita agora, no capítulo 8 do LIVRO IV 1012 b, 5 – 30, que o estagirita passe mais especificamente de uma discussão gnosiológica para uma discussão metafísica e à clássica idéia do “motor imóvel”:
“Se tudo está em repouso, as mesmas declarações serão sempre verdadeiras e falsas. Mas é óbvio que há uma mutação; pois o próprio indivíduo queassim fala, antes não era e depois não será. (...). Por outro lado, só o que é pode mudar, uma vez que a mudança se faz de algo para algo. Por fim, não é verdade que tudo esteja em repouso ou em movimento às vezes, e nada eternamente; pois há algo que sempre move as coisas que estão em movimento, e o primeiro motor, em si mesmo, é imóvel”
Mas esta já é uma visão “teológica” da Ciência Primeira, posterior ao momento ontológico com o qual até agora entramos em contato. E percebemos assim, a distinção aristotélica entre a “noesis” enquanto faculdade de captação dos princípios; e dianoética, enquanto pensamento, discurso, dialética. Cabe então, aos que desejam resolver as dificuldades de compreensão do pensamento Aristotélico, seguir o que ele mesmo sugere no livro III da Metafísica: “examiná-las a fundo (...) porque quem não conhece um nó não saberá desatá-lo” (III 1, 995 a 25).
Neste breve ensaio acredidatamos ter apenas identificado o “nó´” da dificuldade de compreensão do objeto e método da metafísica, restando o inquietante desafio de “desmanchá-lo”.




Bibliografia

ARISTÓTELES. Metafísica.Trad. de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969.
BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. Trad. Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, 1998. 2.ed. Coleção Leituras Filosóficas.
REALE, G. Metafísica: sumário e comentários v. III. São Paulo: Loyola, 2002.
SANTOS, Fausto dos. Filosofia aristotélica da linguagem. Chapecó: Argos, 2002.
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