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Contos-->Na Beira do Abismo -- 17/07/2000 - 08:47 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Algures! Algures, bradou lá um velho camarada. É que, pelo destino insólito, pertinaz e desabrochante eu estava a completar 60 anos.

Alguém já passou por essa sensação de beira de abismo? Lugar fantasmagórico,explicito e atroz. onde surgem, nos sonhos cavalheiros empretados prontos para te empurrar abismo afora?

Essa idéia me persegue. Afinal não é todo dia que a gente faz 60 anos. Idade incrível, cheia de surpresas desagradáveis.

Parece que o holocausto se instalou em você e só falta alguém detonar teu corpo. Uma sensação de neurosidade e locupletação infalível em todos os seus sentidos.

Ontem mesmo eu tinha 18 anos,20, 28 ou 35 anos. O tempo passou, eu não sei o que fiz, o que criei e para onde foi esta passagem de tempo que você não sente ou joga fora,já que a juventude, eu pensava aos 20 anos, dura para sempre. Só os velhos ficam velhos!

A sensação é de completa derrota. Aos 19 anos chegava ao mar às 6h da manhã e de lá só saia às 5 da tarde.

Tomava cerveja o dia inteiro e o dia inteiro me torrava ao sol. Nas piscinas mostrava às garotas meus braços musculosos e torneados - como se lá eu fosse uma bela dama -. Bebia o dia inteiro, era chope, vodca, uísque, o que viesse a gente traçava.

Época de amores eternos onde cada dia a gente estava com uma mulher sem se importar quem fosse ou de quem fosse. Não precisva tomar remédios, não precisava de sais mineiras ou tonificantes.

Essas bobagens! Era pau o dia inteiro. Trabalho de dia e a à noite sempre uma festa regada a mil uísques e mil amigos e mil papos sobre mulheres dos outros e pouca meditação interior.A vida estava ali e estava passando por mim.

O tempo é cruel. Ele deixa passar as coisas lentamente e, solene, não fala nada. Nem se contradiz. Quando a gente percebe já tá na beira do abismo.

Eu, jovem ainda - me olho no espelho - e me vejo com cara de 18 anos, mas a idade diz que não, que você vai ser sessentão. Virão os filhos, os netos, os parentes próximos e longícuos, os intragáveis cunhados, os presentes e lá estou eu a espera que algo aconteça: assoprar um bolo com 1 vela porque o bolo não comporta tantas.

Hoje tenho que ir ao médico fazer exames. Tenho dores no estômago e o intestino parece as Cataratas do Niágara.

Vou entrar numa sala cheia de gente "velha" igual a mim e esperar qualquer veredicto.Pois alguma coisa certamente vai dar.

A minha muher sempre me deixa de sobreaviso: "Homem faz exame preventivo de câncer da próstata e da mama"! Mama? Aliso a minha mama e não tem nada.Só osso. Graças a Deus, menos um câncer. Da próstata, não sei.Toda noite lenvanto para urinar umas cinco vezzes. Minha mulher diz que isso não é normal.

Quando eu era jovem não tinha esse negócio de urinar à noite. Dormia direto.Hoje, aliás, tenho que tomar 3 comprimidos para dormir. Um para dormir, outro para manter o sono e o outro para ansiedade.

Quando eu era jovem dormia direto.Às vezes com a própria roupa do corpo me metia debaixo das cobertas e deixava rolar com quem estava comigo. Batia na cama comigo, era transa direta. Lógico que é sem roupa, mas só tirava debaixo das cobertas, pois aqui o frio é intenso.

Quando eu era jovem não tinha medo de cidade grande nem de assaltos. Vivia na minha faculdade de Direito e saia todas as noites para festas, com muita bebida e mulher. Cruzava as ruas da cidade de madrugada,- pois não tinha nem dinheiro para um taxi. Chegava num quarto-e-sala, com o dia amanhecendo. Trocava a roupa ou ia prá faculdade ou para o trabalho.

Hoje, na beirada dos 60 anos, não guento nem ver o Jornal Nacional. Quando olho prá cara do Donner e Fátima, um sono terrível me bate e tenho que ir dormir. Antes, na poltrona, depois de ver alguns filmes,já havia cochilado entre eles. Passo umas cinco horaas de minha vida vendo TV e acabo não vendo nada.

Vou dormir às 8 da noite. Não durmo. Apesar do remédio forte, levo mais de meia-hora para dormir.E fico ouvindo as cranças brincarem lá fora, o zunido dos carros, o zunido das balas perdidas e olhando para aquele maldito relógio de cabeceira marcar minuto a minuto minha pré-sonolência.

Durmo e dai a duas horas acordo com dores nos rins. Aproveito e vou ao banheiro urinar e tomo um remédio passado pelo meu urologista. Deito de novo e a mulher fica gargalhando ou chorando lá em baixo na sala com as peripécias passadas na formidável TV Globo.

Deito e tento relaxar Passa-se mais meia-hora e consigo adormecer.

Lá pelas duas horas da manhã acordo com azia. Aquilo queima pior do que rabo de galo - cachaça vermoute e uísque -. tomo um copo de leite com um comprimido para ardência. É bater e valer. A dor passa. A mulher já está dormindo ao lado de seu gato.

Deito e mais 40 minutos de passam para eu pegar no sono. Durmo mais umas horas e acordo às quatro com uma dor no peito.

O meu clínico já havia dito prá não se preocupar, pois eram gases. Vou na cozinha de novo e tomo um relexante para o intestino.Vou ao banheiro também urinar.

De manhã , tonto de sono, pois o remédio para dormir começa a fazer efeito, olho minha cara no espelho para fazer a barba e digo prá mim mesmo: você não vai fazer 60 anos. Mas está escrito que a cara não é a mesma.

Quando jovem tinha mais cabelo do que Sansão. Eram aloirados e as mulheres gostavam de fazer tudo com ele. Na rua, aprumava os cabelos e deixava-os meio soltos, e o vento rebatia de felicidade aqueles chumaços incríveis, belos e altivos. Era meu orgulho.

Hoje, olho no espelho e só vejo fios espargidos numa careca muito branca. Meu barbeiro já me propôs um implante. Mas fica muito caro e prá que que eu quero uma cabeleira? Pouca gente olha pra mim. Não vou a bailes, nem saio à noite. Meu contato com as mulheres são raros.

Viagra não adiantou muito na minha vida de sessentão. Afinal pra que que eu quero tomar Viagra? Um farmacêutico já me ofereceu uma caixa de 50 mg para tomar uma hora antes da relação.

Minha mulher - mais jovem do que eu e conservada, pois não sai do salão de beleza - não está , sexualmente essas coisas maravilhosas, como tinha aos 20 ou 30 anos -.Prefere ver os artistas de novelas se fodendo na TV Globo do que se assimilar comigo.

Então no desespero de causa resolvi ir num puteiro. A palavra já soa desagradável, mas tinha que fazer com que algum órgão de meu corpo reagisse e se ativasse ou provocasse sensações-sensacionais.

Naquele dia,esqueci o sono de tamanho nervosismo. Inventei uma reunião, numa desculpa esfarrada prá mulher, dizendo que ia encontrar com velhos amigos.

Sai de casa as 7 da noite.Antes tinha tomado um calmante, e
um segurador de intestino, pois não queria dar vexame. Tomei um comprimido de Viagra e fui prá casa das mulheres à tôa.

Continuava nervoso.Chegando lá o leão-de-chácara era um velho amigo meu de escola. Mas se notava em seu semblante que havia envelhecido muito. Teria mais 60 anos? - perguntei prá mim mesmo.

Ele conversou sobre coisas antigas enquanto eu via um montão de mulheres semi-nuas passarem.

Todas passsavam e falavam "Boa-noite, tio".

O leão-de-chácara, começou a falar sem parar sobre coisas de colégio, e eu pensando em outra coisa mais sutil. Num repentino, ele disse sua idade: 58 anos.E completou "Como o tempo passa..." -Você está com quanto, perguntou". Eu taxativo disparei: "vou fazer 56.". Se acreditou, não sei.

Aquilo me entristeceu um pouco. Mas o negócio era outro. Pedi uma garrafa de uísque e sentei numa mesa. O leão disse que ia mandar sentar na mesa a melhor da casa.A mais quente. A mais vibrante!

Meu nervosismo piorou mais ainda.Mais vibrante? A mistura de álcool, remédios e Viagra já tava dando complicações. Para segurar o intestino , tomei um prendedor de evacuação e prá garantir a coisa tomei mais um Viagra.

Finalmente a mulher apareceu. Era uma coisa de fechar qualquer comércio e de deixar Bill Clinton de boca aberta.

Ela perguntou se podia pedir uma bebida. Ofereci meu uísque. Mas ela disse que preferia beber outra coisa. Eu começava a ficar meio tonto, mas feliz da vida.

Comecei a falar coisas interessantes de minha vida que completamente em nada interessavam a minha incrível acompanhante, cujo olhar vagava pelas luzes trêmulas que esvoaçavam no teto do salão.

Finalmente depois que
ela tomou mais de cinco doses de um drinque enfarofalado de canudos e frutas,parecendo que a gente estava no Hawai, ela disse:"Vamos?".

Aquilo bateu como uma bomba atômica. Eu disse - Vamos. E nós fomos para um quartinho que cheirava a esperama adormecido.

Ela falou "Tira a roupa tio que eu vou trocar a minha no banheiro"

Não precisa contar o resto. Meu deu uma baita dor de barriga que fui parar no banheiro enquanto ela trocava ou melhor vestia tudo de novo e eu me aliviei no vaso.

O Viagra não fez nemhum centímetro de efeito.A coisa nem se mexeu, não deu sinal de vida, não cresceu,não aconteceu nada.

Paguei uma conta altíssima porque lá, trepando ou não, você paga. E paguei ainda a bebida surrealista da mulher que fez a conta disparar.

Cheguei em casa ainda levei um esporro da mulher. E eram ainda apenas 1 da manhã. Vomitei tudo o que podia. Começou a doer as costas, o estômago, o intestino, as pernas, deu gases, o peito ardeu, não dormi, fui ao banheiro, cheirando a uísque, umas dez vezes. Moral da história: acabei não comendo ninguém e levantando com uma dor de cabeça que eu pensei que ia dar um derrame que corri logo cedo para meu clínico.

Finalmente. Tomo 8 remédios por dia, só como frutas e legumes.O almoço é na base de salada. Tomo suco light. Cochilo na poltrona quase o dia inteiro. Tenho umas três diarréias por dia. Tomo também remédio para o fígado pois meu clínico disse que o excesso de remédios podia atacar o orgão. Uso óculos tão grossos que pareces vidros blindado de banco.

E falando em banco. Vou todo mês rceber minha aposentadoria. O banco abre as 10h para os aposentados.Chego às 7h e fico conversndo inutilidades com outros aposentados.

É o dia da vergonha. Entro fingindo ler um jornal e espero na fila. Um miserável e inconsequente caixa sempre que me vê, diz pra todo banco ouvir:
- Seu Zé o sr. é o primeiro". Em cima tem uma placa: Velhos e deficientes tem preferência.

Para completar minha dolorosa vida chego em casa um dia, com pão e leite debaixo do braço, e vejo minha mulher conversando com um rapaz no portão.

Ela veio correndo para cima de mim - como naqueles filmes americanos que um corre pra cima do outro e se locuplentam - e dise feliz da vida:
- Querido, tenho uma surpresa...
- Qual é - indaguei desconfiado.
- Entramos para o SAF!
- Que diabo é isso, retruquei.
- É um novo Plano que eles estão lançando. A gente só paga R$ 15 por mês e quando a gente morre eles tratam de tudo, de todos os detalhes.Todos os mínimos detalhes.E a gente não paga mais nada !

- Entrei rápido em casa com uma diarréia de cão, além de uma terrível ardência no estômago.

Devo fazer 61 anos a qualquer momento.


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