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Ensaios-->ENTREVISTA COM ANTONIO MIRANDA SOBRE LITERATURA NA INTERNET -- 02/12/2004 - 19:17 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ABRALI - ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA

Brasil, sábado, 23 de outubro

http://www.abrali.com/015coluna_direita/sandra_baldessin/antonio_miranda_sandra_ baldessin.html

www.abrali.com.br


Entreletras - Entrevistas com Escritores


Entrevistado:
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A N T O N I O M I R A N D A
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'Não adianta ficar lamentando a mudança dos tempos. Importante é usar as oportunidades e tentar vencer os desafios.'


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1- Como surgiu, em sua vida, a paixão pela escrita e quais os autores da literatura universal que mais o influenciaram, no sentido de cativá-lo para a arte literária?

Desde o aprendizado das primeiras letras, lá no interior do Maranhão onde nasci, eu sentia o impulso de ler e deescrever. Meus primeiros versos, escrevi-os aos 9 anos de idade (antes disso já tentava...) quando minha família tomou um Ita no norte e veio pro Rio morar... Comecei lendo o que era oferecido na escola: Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela e acho que foi um bom começo... Mas eu comecei a identificar-me a partir da leitura dos surrealistas e dos modernistas, aos 13 e 14 anos de idade e, posteriormente, com as discussões em torno da poesia de vanguarda encetadas pelo Suplemento Dominical do Jornal do Brasil - SDJB, onde comecei a colaborar com artigos e poemas, com o pseudônimo de Da Nirham Eros, na virada das décadas de 50 e 60 do século passado. Isso mesmo: sou do século passado, de um período de renovação da cultura brasileira que foi decisiva para a transformação de nossa brasilidade. Depois veio o Golpe Militar de 64 e eu fui em exílio voluntário para a Venezuela, em 1966, e fiquei por lá 7 anos. Foi decisiva a mudança em minha vida por abrir-me as portas para toda a herança literária hispano-americana com a qual eu já tinha uma identificação muito forte. Eu já havia passado um ano na Argentina (1962) e o ambiente na Venezuela, naqueles anos de prosperidade do petróleo, era de uma convivência com autores locais e de toda parte, que muito influenciaram a minha formação. Vêm dessa época as minhas primeiras publicações: La Fuga; anticuento (1969); De Creencias y Vivencias (poesia, 1970) e, dentre outros títulos, Tu país está feliz que transformamos em espetáculo lírico-musical e com ele percorremos muitos países das Américas e da Europa.

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2- Sabemos que, hoje, no Brasil, há uma espécie de 'guerra não declarada' entre poetas que defendem a inspiração e aqueles que só valorizam a invenção; sabemos, também, que escrever criativamente envolve a superação dos condicionamentos da linguagem, experimentados pela maioria das pessoas.

Analisando sob esse aspecto, o Senhor diria que essa superação exige que se entre pela porta estreita da pesquisa e da invenção ou que se adentre os
portais da inspiração?

Eu temo que não exista uma resposta à sua pergunta... A poesia tem muitas formas de realização, desde as suas origens. Ela servia ao lirismo mas também ao registro das façanhas humanas e às indagações metafísicas, no drama, na tragédia e no sarcasmo da comédia... [Hoje estamos avançando no estudo da poiesofia, para entendermos a poesia como fonte de conhecimento e estou orientando uma pesquisa de pós-doutorado nesta direção...] Sempredependeu de uma capacidade de formalizar um discurso por meio dos meios expressivos à disposição do poeta que, pelas limitações da linguagem, buscavam recursos (invenções) ao seu alcance. Sons, aliterações, diagramações, metáforas, movimentos, imagens... Uma 'tecnologia' que pode ser uma camisa de força ou, pelo extremo, um desafio renovador.. Assim como podemos valer-nos da forma petrarquiana do soneto (e tem quem consiga renovar na tradição) tem os que optam pela poesia visual, cinética, 'virtual' (por certo, toda poesia é, por definição, virtual até à sua leitura, entendendo virtualidade no sentido de 'potencialidade' que Pierre Lévy apregoa). Tudo que é hoje arcaico foi de vanguarda em seu tempo... O soneto foi visto como uma influência excessiva dos italianos em literaturas européias vizinhas... Nenhuma nova 'tecnologia' supera ou destrona as anteriores até porque os desafios são sempre novos e vão requerer novas formas de expressão. Poetas jovens buscam formas mais diretas de composição que estejam acordes com o mundo de apelações visuais em que transitam e é possível ver como a inspiração é canalizada por novas formas (invenções) poéticas.

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3- A Literatura tem que estar comprometida com o social ?

Objetivamente, não tem como deixar de estar comprometida socialmente, sendo uma atividade humana, historicamente situada e circunstanciada. A literatura é sempre um reflexo da inserção da mulher e do homem no espaço social.

Sempre reflete: interpretando, criticando, louvando, cismando. Não significa um compromisso ideológico politicamente enviesado, embora o poeta tenha também esta opção. Maiakovsky foi um poeta engajado até que o Estado exigiu dele uma forma de engajamento mais 'oficial', que tolhia a sua capacidade criativa, pela imposição do 'modelo' do realismo soviético. Mas até a literatura oficial soviética pode ter dado alguns frutos de valor...

É difícil encontrar um poeta que seja apenas lírico, apenas politicamente engajado, apenas experimental... E é possível que as diversas vertentes confluam em alguma obra mais transcendente.

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4- Internet e Literatura. Esse 'casamento' é fértil ?

Muito fértil, sem excluir o mundo maravilhoso das bibliotecas, das livrarias, das feiras de livros, dos café-concerts... Eu sou bibliotecário de formação, cientista da informação pelo doutoramento. Transito bem por galáxias gutenberguianas e ciberespaciais...

Acho que a Internet abre imensas e frutíferas possibilidades de conquista de um público para a poesia, não importa de que tipo e de que nível. Uma coisa é o mundo da comunicação intensiva através da leitura de livros e das revistas literárias, num aprofundamento de questões fundamentais; outra coisa é o mundo da comunicação intensiva pela web, de tudo para todos (pelo menos em tese...), sem barreiras acadêmicas, sociais, culturais além dos limites impostos pelos níveis de alfabetização, do domínio de línguas, da iniciação em determinados temas e técnicas literárias. Na prática, podem ser mundos complementários. Lembro-me sempre da experiência da primeira livraria virtual - a amazon.com - que iniciou-se fazendo a promoção de livros hasteada na opinião de críticos literários... Em determinado momento começou a divulgar as opiniões das pessoas comuns - donas de casas, aposentados, professores do segundo grau e até mesmo os críticos... - e as vendas cresceram! Não houve um abastardamento da cultura, como alguns querem interpretar. Houve o entendimento do sentido da mídia ao seu alcance, e até pelo reconhecimento do direito das pessoas que usam a Internet como forma de comunicação e de realização pessoal. Ninguém escreve para si ou para meia dúzia de críticos (que exercem seu papel, no momento específico da cadeia produtiva e divulgativa); escreve para o público em geral, nos níveis de leitura (e compreensão) que persegue. A Internet tem hoje públicos para todos os níveis de literatura, até porque ainda não é um veículo de massa (de absoluta e irrestrita inclusão digital) como aspiramos venha a ser em futuro próximo...

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5- Todos sabemos os entraves que poetas e ficcionistas tem que enfrentar para colocar os seus livros nas mãos do leitor; como o Senhor analisa essa situação ?

Sempre tiveram e sempre enfrentarão entraves para levar sua obra aos leitores. No Brasil, com o agravante dos desnivelamentos regionais. O mundo editorial - e quase todas as demais formas de indústria cultural - estão concentrados no eixo Rio-São Paulo, que é um pólo de atração e de irradiação da nossa produção. A mídia impressa tem pouco espaço para a literatura e nada indica que a situação mude no futuro. A mídia em geral é muito objetivada para o consumo de formas mais banalizadas de arte e de literatura. É assim. Sempre foi assim, em escala diferente. Não se trata de uma posição conformista. Pelo contrário, é uma questão de estratégia, de busca de saídas alternativas. Baianos, pernambucanos, mineiros, paranaenses, paulistas, gaúchos e brasilienses - para citar algumas vanguardas - vêm tentando furar os bloqueios sem exigir que seus produtores tenham que migrar para os centros hegemônicos... O sucesso vai depender da qualidade do que tenham para oferecer e das estratégias e recursos que consigam arregimentar.

Tanto no mundo intensivo das editoras tradicionais quanto no mundo extensivo das edições não convencionais é possível ganhar espaço. Aqui está a brecha aberta pelo paradoxo da globalização que, ao mesmo tempo que banaliza e massifica, permite a formação de grupos de interesse, de discussão, de 'tribos' e 'guetos' com minorias que buscam espaço para as suas idéias...

Não adianta ficar lamentando a mudança dos tempos. Importante é usar as oportunidades e tentar vencer os desafios.


Uma breve Biografia:

ANTONIO MIRANDA é maranhense de nascimento, carioca por viver sua infância e juventude na ex-capital da República e agora brasiliense por opção. Nasceu em 1940. Formado em Biblioteconomia pela Universidade Central da Venezuela, mestre em Ciência da Informação pela Loughborough University of Technology (Inglaterra) e doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo.

Publicou seus primeiros opúsculos e livros na Venezuela e na Colômbia, iniciando-se como autor bilíngüe. Seus últimos títulos: TU PAÍS ESTÁ FELIZ (11ª. Edição, 2004); RETRATOS & POESIA REUNIDA (Thesaurus, FSC, 2004); PERVERSOS (em português - 2003- e em espanhol -2004); 25 POEMAS DE ANTONIO MIRANDA (Campo Grande: Editora Uniderp, 2004); A SENHORA DIRETORA E OUTROS CONTOS (2003); HORIZONTE CERRADO (romance, 2003), MANUCHO E O LABIRINTO (São Paulo: Editora Global, 2000). Tem outros títulos de poesia, ensaio e contos, além de obras técnicas e teóricas nas áreas de Biblioteconomia, Ciência da Informação e sobre a Sociedade da Informação.



© Este texto está protegido e sujeito às penalidades das Leis Internacionais de Direitos Autorais.

O texto original, ilustrado, pode ser acessado na página abrali:

http://www.abrali.com/015coluna_direita/sandra_baldessin/antonio_miranda_sandra_ baldessin.html
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