Diário de um pseudônimo (010) (2004/05/04)
Penfield Espinosa
04/05/2004
Mistérios de uma ressaca: acordei no meio da noite e fui tomar água. Estava descalço e, subitamente, olhando para baixo, vi como meus pés são estranhos. Não apenas estranhos, mas absolutamente estranhos.
Não apenas pés de uma outra espécie que não a humana, mas pés de nenhuma espécie, alienígena ou terráquea.
Mistérios de uma ressaca. Não uma ressaca alcoólica, mas uma ressaca dental e moral: alguma dor de dente, talvez uma gengiva inflamada, mas também uma ressaca de se sentir parte de nenhuma geração, parte de nenhuma terra.
Como sabem os poucos e leais leitores, pertenço à geração X, aquela de quem ninguém sabia nada e que, por sua vez, pouco sabia de si. Yes, i m thirty-something.
Finalmente não pertenço também a nenhuma terra, já que minha terra, Salvador da Bahia, já não lembra de mim, tão distante e ausente que estou. E esta terra, São Paulo de Piratininga, nunca se lembrou de ninguém, em sua fúria de se apagar e reconstruir diariamente.
Coisas de uma ressaca.
S. Paulo, 4 de maio de 2004
(Copyright © 2004-2007 Penfield da Costa Espinosa)
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