Para mim é inevitável pensar em Fernando Pessoa e seus heterônimos quando vejo um céu tão belo como esse em S. Paulo.
Provavelmente outros poetas falaram com felicidade do tempo -- do bom tempo --, mas para mim nenhum é tão memorável como Fernando Pessoa e seus outros.
Curioso que não me lembre de seus versos sobre o bom clima, apenas da sensação boa que me provocaram. Milton Nascimento & Fernando Brandt e Ezra Pound cantaram que bom é o que a memória guarda...
Mas se este fosse mesmo um diário, eu falaria sobre o Dia das Mães.
O que é que um órfão baiano perdido (ou achado) em S. Paulo pode falar do dia das mães?
Liguei para minhas velhas tias na Bahia: algumas tias verdadeiras, outras adotadas, mas tão tias quanto as verdadeiras ou até mais.
Recebi convites de amigas e da suposta namorada, mas preferi passar esse dia sozinho.
Um pouco para lembrar, um pouco para esquecer. Dizem que todos baianos têm um sentido muito forte de família. Não sou exceção, mas ao mesmo tempo vivo como um inglês: isolado da família, como se não a tivesse.
Coisas de ter crescido como filho único.
Acordei tarde, tomei café lendo jornal -- o antigo melhor Jornal do Brasil, o JB, hoje pálida sombra que se desfaz.
Li todos e-mails que me enviaram, mas não respondi a nenhum. Tomei uma pequena dose de uísque enquanto pensava no Rio de Janeiro com saudade e tristeza.
Depois vou a um parque desses paulistanos dar uma volta muito longa e reflexiva de bicicleta.