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cronicas-->Nu descendo as escadas -- 03/09/2002 - 10:22 (Bruce Green) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A vontade que ele tinha era a de se esparramar na cama. Jogar os sapatos pelo chão, desabotoar a calça jeans e coçar o umbigo. Porém, a sua boa educação só permitia ficar comportadamente deitado na cama com os olhos namorando o teto.

Até então, o quarto de sua amiga era um território inexplorado, iria aos poucos tomando conhecimento do novo ambiente, decorando os cantos, familiarizando com os cheiros.

Reparou na amiga que entrara rapidamente no quarto. Já vestida depois do banho, dava os últimos retoques na maquiagem. Não tinha ainda comprado um espelho gigante, aproveitava o seu reflexo projetado pela porta de vidro. Molhou a ponta dos dedos no perfume e passou ligeiro nos pontos de pulsação do corpo: pulsos, nuca e barriga. Tá certo, barriga não pulsa, mas para se sentir o perfume ali, o nariz do contemplado percorreria uma longa distancia, onde o coração já teria disparado faz tempo...

Então ela virava para a esquerda, virava para a direita, puxava a roupa prá lá e prá cá, procurava falhas em todos os àngulos. Ora encolhia a barriga, ora empinava o bumbum. O ritual de embelezamento feminino teve seu ponto final quando ela o interrogou. Estou bonita?

Ele já tinha resposta de cor. Coadjuvou esta cena algumas vezes em seus namoros passados, mas naquele momento não cabia uma resposta romàntica, pois entre os dois, não havia romance. O que dizer então? Preferiu um sonoro silêncio.

Justiça seja feita, pensava ele, se não estava tão chic quanto ela, a culpa não era dele. Quando nasceu, ganhou miniaturas de carros e aviões, bolas de futebol e luvas de goleiro. No entanto, o único presente "vestível" que foi contemplado foi a camisa de time de futebol que por intimidação paternal se acostumou a torcer. O que não representa sequer o primeiro degrau na direção da elegància e do estilo.

A partir daí, mamãe se encarregava de tudo: procurava, escolhia e comprava suas roupas. Com aquela situação, estava mais que na hora de aprender a cuidar de sua aparência. Foi muita irresponsabilidade deixar a consultoria em moda, nas mãos de outra pessoa, uma super-mãe, um amigo xarope ou uma namorada apaixonada que só quer o bem...

Com sua amiga as coisas aconteceram de maneira bem diferente. Ela já nasceu entulhada em vestidos, guarda-roupas da Barbie, bolsinhas de maquiagem, espelhinhos, colares e brincos. Enquanto ela ia aprendendo a se vestir, a se arrumar, ele ficava de fora, na santa ignorància, recebendo a roupa da mãe, prontas para serem usadas depois do banho.

Estava convencido que tudo aquilo era um grande compló feminino. Um compló das super-mães frustradas, que não deixavam de vestir suas bonequinhas nem depois de crescidas. Odiou sua mãe! Ou então, um compló das feministas que queriam continuar se referindo ao homem como "aqueles porcos". Ressaltando o caráter suíno só porque estávamos a par de saber como combinar uma meia com o terno. Odiou sua amiga!

Mas por que se importar tanto assim com a aparência? Se perguntava. Ora, já não era um bom jogador de futebol, não tinha as melhores notas na universidade, não tinha o carro do ano. Logo, o estilo e a imagem eram diferenciais importantes na vida competitiva. Significava voltar a vencer. Significava dar ao homem no qual havia se tornado, as oportunidades que sempre quis ter. E o grande empurrão estava bem ali, na sua frete, retocando a maquiagem.

Foram tantas elucubrações que não percebeu que sua amiga já estava na porta lhe chamando para fora do quarto. Pedindo para acompanhá-la nas distrações do dia. Ela trancou a porta, guardou as chaves na bolsa, deu sua última ajeitada no cabelo. Passou por ele, triunfante, cheirosa e decidida, rumo à escada. Era só poder.

E ele bem atrás, se sentindo pequeno, nu descendo as escadas...
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