Chorando o “Ouro Verde”.
Ana Zélia
Por fora nem parece.
A natureza sábia te manteve belo, simples.
É o que és, fostes!...
Por trás da fachada, nos escombros o que escondes?
Sobras do Teatro queimado, cinzas, ferros retorcidos, telhas quebradas...
A reforma em ritmo de entrega recebia as novidades da tecnologia.
De repente, no final do dia, domingo, 12 de fevereiro de 2012, sem movimento
frenético da população que por ali transita durante a semana, a fumaça negra inicia.
O vigia único ser vivo e testemunha ocular chama os heróis nacionais, o CORPO DE BOMBEIROS,
homens que lutam para salvar vidas e patrimônios.
No cumprimento do dever, muitos perderam a vida...
Hidrantes ligados, escadas que se alongam, mangueiras que jogam água longe,
uma luta entre a rapidez do fogo e a coragem dos homens.
Vence o mais rápido.
Após o fogo a Perícia busca o princípio do fogo.
Um curto-circuito, um incêndio criminoso tentando encobrir gastos,
Fatalidade?
Existe um elemento obscuro os “fantasmas”, em todo teatro existe o
Ser imaginário que cuida, pune, amedronta...
No cinema antigo, quase sexagenário, as lembranças continuam vivas na memória popular.
Quantos festivais, peças teatrais, artistas que se firmaram na escola teatral.
Lembranças que nem o túmulo consegue destruir, outros as fazem renascer.
Querida Londrina, em Manaus, temos um dos mais belos teatros do mundo.
O Teatro Amazonas.
Manauara de nascença, por tantas vezes pisei o palco do Teatro, aos dez anos num
Programa infantil tentava ser cantora cantando “Asa Branca” de Luiz Gonzaga.
Dei à musica a alma nordestina, me ajoelhei no palco e quase chorando comecei a cantar.
O saudoso “Vovô Branco”, ator e apresentador Américo Alvarez,
pediu ao maestro que parasse, ele nunca ouvira Asa Branca com aquela interpretação.
Falou: “Isto nunca foi Asa Branca”.
Respondi: Luiz Gonzaga o Senhor conhece, Ana Zélia não.
Asa Branca é um lamento, é o grito do povo nordestino que fugiu da seca, meu pai veio
para o Amazonas, naquela leva.
Não posso cantar como Luiz Gonzaga.
Fui autorizada a continuar e fiz aquele cidadão tão querido chorar frente a todos me dando um forte abraço.
Voltei com o Coral Universitário do Amazonas, nos idos de 1974, cheguei a ser apresentadora oficial do Coral,
por duas vezes encenando poesias muito fortes, fui confundida com um cheira-cola
(Ah! Se eu tivesse tido chance!) primeiro lugar num concurso de poesia encenada e na pele de uma mendiga, no dia do teatro,
encenaria a convite o poema Ah! Vida! Segundo lugar em poesia encenada. SESC/Amazonas.
O Segurança tentou me por para fora do teatro, pensando que eu fosse uma mendiga de verdade.
A arte faz isto com os personagens.
Isto nos leva à reflexão: A dor da perda de um patrimônio como o “Ouro Verde” à Londrina,
aos poetas, artistas que vivem e fazem arte.
À cultura que perdeu uma fonte.
Por fora continuas como os grandes mártires; FIRME E FORTE.
Nem parece que és só uma caixa de concreto, entulhos, lembranças...
Como Fênix, renascerás das cinzas.
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Estrada entre Londrina e Maringá, PR, 24.02.2012 (Ana Zélia)
Nota da autora- Estou em LOndrina-PR, e confesso nunca adentrei o Teatro "Ouro Verde", mesmo tendo residido aqui por quase um ano.
Choro como poetisa e atriz a perda cultural, com quase sessenta anos, o antigo Cinema pertence à Universidade de Londrina-PR,
li nos jornais depoimentos de tantos artistas que fizeram do palco suas casas, seus palanques de protestos, levando beleza e poesia...
Choro com eles a perda de um tesouro tão valioso.
Espero que ao retornar um dia a esta cidade linda, veja seu povo feliz e seu teatro funcionando. Ana Zélia
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