Hamilton Lima
O professor Aurélio entrou na sala. Pigarreou , baixou levemente os óculos, encarou feio a turma do fundão e disparou: geometria.
Os alunos "adoraram", pois era dia de prova e o sorteio do tema principal dependia do comportamento da turma. Eles vacilaram na aula de Português, que era ministrada pela sobrinha de Aurélio, Lizandra, e como forma de punição o professor optou pelo mais difícil.
Um dos alunos, do tipo quietinho, tentou argumentar que não fizera nada, mas Aurélio só exprimiu uma idéia: geometria.
Puxou o giz e encheu o quadro de triàngulos, losangos, cubos medonhos, pedindo cálculo de áreas e ainda para complementar, afirmou que haviam dois exercícios de inequações para agradar a rapaziada.
Um deles pensou até em suicídio, mas perderia o jantar de guisado com jiló, uma das especialidades da mãe. E tinha também a sobremesa de goiabada com pedaços de queijo. Foi o Zé Gordinho.
O professor Aurélio ficou enraivecido pelo fato dos alunos terem chamado Lizandra de taquarinha, uma alusão aos 39 quilos bem distribuídos no um metro e setenta da jovem.
Não que comesse pouco, mas tinha um sistema digestivo que absorvia tudo rapidamente. Era um pouco magra realmente para os padrões de sua altura.
Aurélio ficara mais bravo ainda por não descobrir quem era o autor da gracinha. Se descobrisse faria provas e exames especiais, garantindo a reprovação do gaiato.
As palavras martelavam Aurélio. Reprovação, punição, taquarinha.
Nada conseguiu descobrir nos 35 rostos espalhados pela sala. Suspeitou do Zé Gordinho e de Chico Mosquito, que era magrinho e gozador. Costumava fazer caretas pelas costas dos mestres.
A prova - massacre - durou duas horas. Ao final do tempo, Aurélio, feliz com sua incursão punitiva, estava deixando a sala, com um sorriso sarcástico nos lábios. Foi quando ouviu um gaiato gritando de longe: "Tchau taquarão".
O semestre foi mais difícil para todos depois daquele dia.
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