Dagoberto foi um desses talentos que surgiram no mundo muito cedo, descobrindo que as fraldas podiam ser puxadas, os objetos próximos aos berço, e também os panos de chão que sua mãe ocasionalmente deixava por perto. Este se tornou seu esporte favorito.
No colégio percebeu que havia um grande tapete na entrada, onde todos limpavam os pés, e que não possuía qualquer peso, podendo ser puxado facilmente. Dagoberto adorava o início e o fim das aulas para puxar o tapete da escola.
Eram momentos de grande prazer, que duraram enquanto frequentou aquele centro de ensino.
Seus pais mudaram de bairro e o pequeno puxador de tapetes foi para uma escola maior, estadual, onde o tapete de entrada era fixo, mas havia sempre podia bisbilhotar a sala da diretora e puxar o paninho úmido da entrada para se divertir no recreio.
Um dia Dagoberto foi a uma repartição pública e viu um funcionário distraído na recepção, sobre um grande tapete sintético, de poliuretano. Sem maldade, puxou o tapete do homem.
O resultado foi um tombo fenomenal, uma perna quebrada para o incauto, e um pedido de desculpas sinceros de Dagoberto, que aprendeu ali uma nova forma de vida.
No colégio, em casa com os irmãos, parentes e vizinhos, especializou-se em puxar tapetes.
Aprendera a pedir desculpas, com muita sinceridade aparente, e nunca apanhava das vítimas.
Terminado o curso médio, buscou uma faculdade. Apenas para ter o diploma e poder conquistar um emprego qualquer. Especializado em seguida, continuou a puxar tapetes, quebrando pernas, cabeças, afastando colegas dos seus objetivos, e quando os coitados caíam, ainda passava por cima.
Dagoberto ficou tão confiante na sua qualificação que perdeu a humildade. Além de avisar que ia puxar tapetes, zombava de todos, logo conquistando uma legião de inimigos, o que tornou sua vida complicada.
Foi puxando tapetes que entrou no partido político e conquistou a vereança e o primeiro mandato de deputado estadual. Em seguida o federal e o senado. Mas teve um sonho maluco e resolveu querer se candidatar à presidência do país.
Teve o desplante de tentar puxar o tapete de um homem mais experiente, acostumado a resolver problemas através de jagunços. Foi uma experiência definitiva.
Dagoberto foi enterrado em sua cidade de origem, sem amigos, sem parentes, apenas com um tapete de chão improvisado, sujo de sangue, homenagem do mandante do assassinato, para justificar os talentos do indivíduo desleal.
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