Diário de um pseudônimo (030) (2004/10/10)
Penfield Espinosa
10/10/2004
Fiquei lembrando hoje, domingo frio de verão (um paradoxo paulistano) da música que tem como refrão 'Alive and kicking'.
Não é música memorável, é pouco mais do que um refrão. Mas, às vezes, em clima tão depressivo como este, é bom se sentir 'vivo e dando chutes'. Não, não, a tradução é mais uma vez traição: o 'kicking' original não tem a ver com a tradução literal, 'chutando'.
Mas é bom se sentir vivo e ativo. Apesar da tristeza e de alguma solidão que vejo nesta vida paulistana.
Têm culpa disso os paulistanos?
Talvez não. Mas o fato é que, em outra cidadade mais ensolarada que esta, a solidão teria uma cara menos depressiva.
Será que isto é a solidão de que falava Nelson Rodrigues?
-- Não há solidão maior do que a companhia de um paulista...
Talvez toda grande cidade seja mesmo solitária. Mas Nelson Rodrigues nunca admitiria que as amizades instantâneas, formadas em bares cariocas fossem formas de solidão.
Mas, mais uma vez fora do tema original, gostaria de pensar que, mais uma vez, fui salvo pela literatura. Comecei a escrever muito devagar, quase triste e já entrei no circuito de sempre: a solidão paulistana que às vezes sinto. E lembrei que, afinal, estou vivo, ativo.
S. Paulo, 10 de outubro de 2005
(Copyright © 2004-2009 Penfield da Costa Espinosa)
|