ASAS DO PENSAMENTO
Ouvindo-se o chilrear das andorinhas, não há quem não se deixe levar às velhas reminiscências.
Voltamos, em lembrança do tempo da meninice. E, com isto, nos vêm à memória fios de telégrafos e linhas de energia elétrica, apinhados destes pequenos pássaros. Como se fossem fatos mais longínquos ainda capelas e igrejas brancas, banhadas de cal, com seus telhados enegrecidos pelo tempo; tendo, em seus beirais, uma superpopulação destas barulhentas aves.
Nas asas de nossos pensamentos, vimos evolar no espaço de um céu profundo dezenas de milhares de andorinhas. Interessante é que como evocamos o passado, ora sim, ora não; também, as andorinhas se fazem presentes, outras vezes não.
Estes pássaros, são de arribação.
Há épocas em que eles se comunicam, de modo desconhecido por nós. Fazem giros, após giros, sobre as cidades em que passaram algumas estações do ano; para, em uma só revoada, partirem para outras plagas; por vezes, situadas a milhares de milhares de quilômetros.
Isto se dá quando as andorinhas foram fazer o seu veraneio, nos lugares soprados pelas águas do mar. Momentos há em que chegamos a ter saudades da presença buliçosa dos pássaros que foram embora; sem nos dizer adeus. Tudo isso ocorre em nosso íntimo, como sentimento de idéias vagas, que se perdem na lembrança do pretérito.
Quando menos esperamos, quando tudo já parecia totalmente esquecido, chega em nós a lembrança do passado, que se faz presente; com a chegada inesperada das andorinhas. Estas com seus vôos ligeiros e chilros peculiares nos dão a idéia de que nós nos retornamos ao passado ou este se fez outra vez presente.
Fazenda Campo Alegre - 1980.
Lucilo Constant Fonseca.
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