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Contos-->FILISMINO, FILISMINO! -- 28/11/2002 - 11:03 (Lucilo Constant Fonseca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FILISMINO, FILISMINO!

Se bem me lembro, há mais de quatro décadas que, certa manhã, à garupa da besta montada por meu pai, vi de modo impressionante, uma vivenda original. Era, aproximadamente, dez horas da manhã, quando nós, naquela cavalgadura, atravessamos da margem direita à outra, o rio Urú. As suas águas, eram espalhadas, claras e com rasura tal que, bem permitia uma travessia a vau.
O sol da manhã, fazia seus raios brilharem, na superfície recortada das águas do rio. Tendo ultrapassado, de uma margem à outra, qual não foi o meu assombro encontrar, num lugar ermo, um soberbo e vistoso sobrado.
Meu pai era proprietário de muitas terras, na região denominada Mata do Pará. Este fato, justificou a nossa ida a cavalo, em uma determinada manhã, de dezenas de anos atrás à fazenda Brumado. É bom dizer que, naquele tempo, não existia no Estado de Goiás, cidade pavimentada. Excetuando-se naturalmente, Goiânia, parcialmente calçada e a Cidade de Goiás, que grosseiramente, tinha e tem as suas ruas recobertas por enormes e irregulares pedras. O atraso era a marca de toda uma província interiorana, como sói ter sido a deste Estado, em meu tempo de criança. Se fosse para relatar a precariedade de Goiás àquela época, seria necessária uma enorme obra, para conter a descrição de todo marasmo que o caracterizava. Não havia propriamente cidades, mas sim currutelas. Com ruas e largos poeirentos ou lamaçais, na época das chuvas. Festinhas nos lugarejos, por ocasião de seus santos padroeiros, com parquinhos de diversões instalados, donde se faziam ouvir altos-falantes, com todo seu volume, a transmitir vozes de cantores famosos da época. Em primeiro plano, estava o nome de Vicente Celestino, depois, a seguir, os de Francisco Alves, Francisco Petrônio, Gardel e outros.
O importante desta assertiva, da inexistência total de progresso, foi demonstrar a intensidade do impacto causado em nosso espírito ao sentir o grande contraste. Uma vez que, a gente havia vivido e familiarizado com um meio totalmente retrógrado. Atrasado até mais não poder. E, daí, dar com à vista sobre uma edificação espantosa e imponente. Erigida no seio ignoto de uma região rural e totalmente agreste. O casarão debruçava as suas faces, a poucos metros acima da margem do Rio. Ele tinha o seu frontispício voltado em direção à estrada, que nos conduziu para lá. Realmente, estava abobalhado, com o aspecto majestosos do sobrado. Nos parecia qualquer coisa ligado a um conto de fadas.
Considerando o fato de que, aquele tempo, era ainda criança, contudo, tive a capacidade de estabelecer um confronto, entre a suntuosidade do sobrado, com a modéstia dominante não somente àquela região, mas por todo o Estado de Goiás, e quiçá do Brasil, quase que por inteiro.
Era inacreditável como aquela beleza arquitetônica e singular pudesse provocar tamanho impacto no espírito da gente. Aquela manhã, representou realmente a abertura de um saco de espanto. A começar pelo próprio ambiente, inteiramente bucólico. Seguindo esta mesma linha de raciocínio lembra-se da beleza sentida na travessia do rio Urú, e não para concluir, nas enumerações, mas sim pelas impressões causadas e visão tida do magnífico sobrado. Após tanta surpresa, alguma coisa nova tinha que acontecer. Meu pai e eu, após apearmos da cavalgadura e atendendo a solicitação para adentrarmos ao sobrado. Assim o fizemos.
A esta hora, um fato inusitado se deu. Uma criança que mais ou menos devia ter minha própria idade, entrou à sala e assentou-se defronte a nós. Até ai, nada de novo, o “sui generis”, para mim, foi o fato de que aquele menino tinha uma enorme mecha de cabelos brancos.
Após transcorrerem muitos anos, movido pela curiosidade, um dia quando pernoitava em uma fazenda do Brumado, quase junto ao córrego do mesmo nome, indaguei ao dono da casa sobre o antigo sobrado. Ele me informou que não o conheceu mas que sabe de sua ruína. Acrescentando que a mesma se acha situada em um pontal formado pelo rio Urú, e o ribeirão denominado Brumado.
A notícia nos causou um choque tremendo, visto que, o casarão teve sua vida física real, mas para mim tratava-se ainda do desmoronamento de um
castelo de sonhos. Curioso perguntei: - Por que e como? em resposta falou-me que o dono do sobrado na época que o conheci, era um tal de Filismino, cidadão este que veio do Estado de Minas Gerais. Esta informação me foi passada pelo senhor que bondosamente me acolheu. Tanto era certo tratar-se do Sr. Filismino que o seu filho vive e reside à cidade de Itapuranga. Esta informação me foi dada pelo meu anfitrião. E que o mesmo tem a sua característica indelével constituída pela dita mecha de cabelos brancos. Continuando o seu relato, disse mais: que a demolição se deu sem que provocasse a menor consternação a seu dono, justificando a sua barbárie, com a afirmativa de que a destruição se fazia para encontrar possíveis guardados de ouro nas paredes colossais do majestoso sobrado.
Honestamente sou incapaz de pensar sobre tudo isto, sem que venha a me perguntar: Filismino, oh! Filismino, por que fez isto? E a par de tudo, sentir uma grande revolta.

Fazenda Campo Alegre - 27/07/81.
Lucilo Constant Fonseca.


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