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Ensaios-->TRILHANDO PELOS ENCANTOS DA PALAVRA -- 15/05/2005 - 14:08 (Rômulo Venades da Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRILHANDO PELOS ENCANTOS DA PALAVRA




“A melhor crítica é aquela que entra em contato com a obra do autor quase telepaticamente.” (1)
(Clarice Lispector)



Na obra, o sumário está organizado da seguinte forma:

Página Título do capítulo/Tema Proposto Nro final
19 1 - Prosa com Deus 9
59 2 - Nos caminhos da solidariedade 9
79 3 - Enfrentando o medo 9
97 4 – Fortalecendo a auto-estima 7
121 5 - Na busca do outro 1
149 6 - Nas trilhas da educação 9
177 7 - Construindo a cidadania 7
217 8 - Na vida com os amigos 7
241 9 - Nas sendas da verdade 1


Antes mesmo de se falar do livro recém-lançado pela Editora O Lutador, organizado por Durval Ângelo de Andrade e Ana Maria Gonçalves, intitulado Palavras Encantadas, faço um esclarecimento quanto à epígrafe deste trabalho, que, inelutavelmente, surge mais como um indicativo à leitura do que uma inserção telepática na obra dos autores. Sei que escrever não é tarefa fácil: é árdua, é perigosa. Quem escreve entra em contato com uma realidade que é diversa daquela em que vive, tornando-se, deste modo, seu veículo. A escrita pode salvar, como pode condenar aquele que escreve. Feitos os devidos esclarecimentos, retorno à obra, que, de longe, poderá ser lida como auto-ajuda ou coisa do gênero. São textos próprios para reflexão, assuntos diversos para as mais variadas situações por que passamos todos os dias. Sob variados prismas, o livro nos encanta e nos remete sempre à leitura de outro conto, caso, poema, enfim, de outro texto.

O título, por si, só nos revela algo novo. Suscita e aflora um arrebatamento interior, provocado pela palavra. A escolha dos autores e de suas epígrafes não poderia ser mais apropriada: Fernando Pessoa é, além de um mestre da palavra, um encantador de pessoas, um criador singular não apenas de belas estórias, mas também de criadores de estórias. João Guimarães Rosa, nosso ficcionista dos sertões, encanta-nos com suas palavras, criou ambientes e personagens que irão se secularizar em nossos compêndios de literatura e eternizar-se na memória de seus leitores.

As letras contidas nas encantadas palavras foram, a dedo, minuciosa e polidamente escolhidas, como nos sugere Ana Cruz na orelha do livro. O resultado é surpreendente. Além de belos e sugestivos, os textos são em si próprios, frutos de uma reflexão e organização didática. Curiosamente, a estrutura de apresentação dos textos segue uma simbologia numérica, uma magia que transcende e antecede o próprio título. Os números presentes no livro são, antes de tudo, portadores de significados, desencadeadores de vários sentidos, assim como na maioria das culturas e religiões.

Cada um dos 9 (nove) temas propostos no livro, por via de regra, é sempre finalizado por um número ímpar, havendo uma alternância entre os números 1 (um), 7(sete) e 9 (nove). Existem 4 (quatro) capítulos com final 9 (nove), 3 (três) com final 7 (sete) e 2 (dois) com final 1 (um). Somando-se o resultado da multiplicação do número de capítulos vezes o algarismo final do número da página de cada tema sugerido, chega-se ao número 59 (cinqüenta e nove). Porém, antes de dar prosseguimento à análise, recomendável é que façamos uma exploração/explanação sobre o significado dos números acima relacionados e seus correlatos.

O número um, segundo a simbologia dos números, é tido como símbolo da unidade, do sucesso, da felicidade e da prosperidade. É a individualidade.

Já o número sete, é o símbolo do mistério, do número sagrado e representa a plenitude, a perfeição, sendo bíblico por excelência. É símbolo da totalidade, do ciclo completo: sete dias da criação; o faraó sonhou com sete vacas; sete nações foram derrotadas pelos israelitas para conquistar a terra prometida; sete igrejas, sete céus, o livro de sete selos; o número sete na tradição islâmica diz que sete diferentes tipos de terra foram usadas para moldar Adão, que, por sua vez, teve sete filhos. É um número constante em lendas, mitos e tradições e, muito embora apareça em sentidos contrários, sua expressão é sempre de abundância, de totalidade e de plenitude.

O número nove é o número da perfeição. Para o simbolismo cristão o nove é o número do coro dos anjos, dentre outras coisas.

Lembra-se que são quatro os capítulos cujas páginas têm como algarismo final o número nove? O quatro representa a cruz, que é o sofrimento e, ao mesmo tempo, o triunfo de Cristo: Sua ressurreição é a superação da morte. Simboliza as quatro fases da vida, os quatro evangelistas, os quatro elementos, os quatro temperamentos. O resultado de quatro vezes nove é igual a trinta e seis; ele próprio e seus múltiplos simbolizam, respectivamente, a solidariedade cósmica entre o céu, a terra e o homem, uma vez que o quatro representa a terra e o nove contém três vezes o número três. Além disto, o trinta e seis simboliza a totalidade, pois é a soma dos quatro primeiros números ímpares e dos quatro primeiros números pares.

Mencionei, igualmente, que são três capítulos ou temas cujos algarismos têm como finais o número sete. O três está ligado ao céu, é o princípio totalizador, já que é a síntese do um e do dois. Muitas estruturas de pensamentos são fundamentadas neste algarismo. No Cristianismo, têm-se a fé, o amor e a esperança. Há também as tríades divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo ou Santíssima Trindade, no cristianismo; Brahma, Vishnu e Xiva, no Hinduísmo. Para o filósofo alemão, Hegel, o princípio da evolução dialética era tese, antítese e síntese. Você poderia perguntar: e daí? O que acontece agora? três vezes sete é igual a vinte e um! Leia a oração número vinte e um, intitulado Os Caminhos de Deus: alguém sempre pede a Ele glória, riqueza e poder. O Senhor lhe concede tudo ao revés, no entanto, lhe dá “tudo de que precisava” (p.44): vida, humildade, compreensão e sabedoria. E, por falar em sabedoria, o vinte e um também é sagrado: é o símbolo da Sabedoria Divina.

São dois os temas que encerram a simbologia inicial dos números no sumário. O número dois é símbolo da duplicidade, das atividades públicas, do casal, do equilíbrio. A dualidade é condição sine qua non para a multiplicidade. A oposição engendra o desenvolvimento, é o movimento que propicia o progresso. Observe que estou falando do número dois em dois temas finalizados pelo algarismo um. Em Na busca do outro, há contos e poemas que falam da individualidade, do UNO. No entanto, o retorno a si mesmo, o encontro com a felicidade e a conquista da prosperidade, que é una, que é única, somente é alcançada na partilha, na dualidade, “Nós não existe, mas é composto do Eu e Tu...” (p.131)

O número um, por ser unidade, simboliza Deus, é a totalidade para a qual todos os seres ambicionam retornar. Nos caminhos por que passamos, deparamos com rebuscadas verdades. Porém, a verdade é uma só, não existe meio-termo, não há meias-verdades. Jesus disse: Eu sou a verdade. Não se pode romper com as portas alheias, tentando arrebatar e conquistar a verdade. Deve-se buscá-la dentro de si próprio, ela se nos apresenta “sem roupas e sem adornos” (p.242) e “com intensidade nos pequenos fatos do dia-a-dia”.(p.247)

Outro dado curioso na estrutura do livro é a dupla unidade, ou seja, a ocorrência de dois temas com finais um e o fato de serem dois escritores, um homem e uma mulher. Cada um dos temas representa uma unidade isolada, mas, somadas estas individualidades, obtém-se um par, uma dualidade, o princípio para o desenvolvimento, a base para o trio. O terceiro elemento nesta relação é o leitor, objeto único e destinatário do trabalho.

O livro nos revela muitas novidades e grandes surpresas. No início, disse que o número cinqüenta e nove é o resultado da soma dos algarismos finais do número da página de cada tema. E não o é em vão. Agrada-me o exercício simbólico realizado no livro, auxiliando o leitor a obter uma leitura mais rica, mais presente e substantiva. Em Nos Caminhos da Solidariedade, há uma reverência direta à palavra, pois os números anteriormente descritos nos levam às páginas de Guimarães Rosa. Uma mulher não consegue botar seu filho no mundo, e a chegada de um cangaceiro a amedronta muito. Todavia, é a compaixão do jagunço que lhe permite ajudar aquela mulher. Como em A parábola do bom samaritano, Riobaldo também lhe dá dinheiro. No entanto, cabe à palavra por ele proferida confortá-la. O gesto do samaritano é o sinal da solidariedade. Em Guimarães Rosa, a palavra toma a força da realização: “... esse que vai nascer defendido e são (...) e foi menino nascendo...”. (p.59) (2) “... um menino nasceu – o mundo tornou a começar!...” (G.S.V, p.412) (3). Para Riobaldo, o jagunço, é a renovação do mundo por meio do nascimento de uma criança. Para o autor, Guimarães Rosa, uma solidariedade proferida, pronunciada. A palavra tem a força tão incomensurável de ser, que Deus não fez o mundo, (permita-me uma liberdade poética) Deus, segundo as palavras do poeta Octavio Paz, enunciou o mundo. Ele disse “faça-se a luz!” E a luz se fez.”(B.S.GEN. 1,3, p.27)

Outra curiosidade que também me chamou a atenção foi o conto Sempre estarei ao seu lado que está na página noventa e nove, que é a repetição do número nove, do qual já falei, sendo uma dupla perfeição. Nesta estória, a fé e a esperança são os verdadeiros pilares que sustentaram a vida do pai e do filho envolvidas no acidente. É a perseverança e a dedicação de um pai que, contrariando as estatísticas de sobrevivência, a insensibilidade e descrença de todos, acredita na sobrevivência do filho, vítima de soterramento causado por um terremoto de grandes proporções. Traduzido em letras gregas, o 99 (noventa e nove) é sinônimo de aclamação e confirmação. De acordo com o valor numérico atribuído a cada uma delas & 945; (1) + & 956; (40) + & 951; (8) + & 957; (50), obtém-se o número da palavra AMÉM.

Curiosidades à parte, Palavras Encantadas é um livro confortavelmente bem organizado. Sua leitura é de grande proveito, sendo recomendado para o trabalho em grupo, a fim de que se possa discutir os textos apresentados. Mas nada nos impede de, individualmente, querer viajar nas asas de suas encantadas páginas.





BIBLIOGRAFIA


ANDRADE, Durval Ângelo, GONÇALVES, Ana Maria, PALAVRAS ENCANTADAS. – Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2002.

BÍBLIA SAGRADA: 46a. Ed., Rio de Janeiro: uma co-edição de Editora Vozes e Editora Santuário, 1982.

PASCHOAL, Erlon José. DICIONÁRIO DOS SÍMBOLOS. – São Paulo, Círculo do Livro, 1990.

ROSA, João Guimarães, GRANDE SERTÃO: VEREDAS. – 49a. ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986,

(1) Extraído de Mujeres y Literatura, PPU, Barcelona, 1994, pp.123-136, Internet: http//www.ucm.es/info/especulo/numero4/lispecto.htm
(2)

(2) PALABRAS ENCANTADAS (op.cit.)

(3) GRANDE SERTÃO: VEREDAS (op.cit.)

(Texto publicado na 3a edição do Livro PALAVRAS ENCANTADAS, de Durval Ângelo e Ana Maria Gonçalves)
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