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Contos-->TIRO PELA CULATRA -- 28/11/2002 - 11:13 (Lucilo Constant Fonseca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TIRO PELA CULATRA

A pior arma inventada pelo homem, para dizimar a caça silvestre, não foi à espingarda, a carabina e nem tão pouco o revólver; foi na realidade, a lanterna.
Os aliados perigosos, contra toda sorte de animais, que povoam os quadrantes da terra - e o homem e o cão. Por muito tempo, deram sustos aos esquilos, as onças e as capivaras.
Esta dupla perigosa de “hommo” e o “canídeo”, sempre, puseram em pânico todos os animais, que povoam as matas e os campos.
O homem, com sua malícia e artimanha, adestrou o seu companheiro de tal sorte que, de per-si ou em fila, põe qualquer animal, por mais feroz que seja, ou rápido, hábil em subir as árvores, sempre em dificuldade para escapar à perseguição do intermediário do homem; dotado de um faro excepcional, que o leva a denunciar a presença da caça.
O quadro acima, nos dá conta da dificuldade que tem qualquer bicho de sobreviver. Quando ele tem pela frente, dois inimigos comuns, perigosos e cheios de artifícios.
Contudo, nem sempre acontece de um animal caçado não conseguir fugir à perseguição cruel, de que seja vítima.
Uma caçada, feita em bons termos, com já as vi tantas, é organizada da seguinte forma. Geralmente, nos domingos, feriados e dias santos, os amadores ou profissionais desse esporte depredatório e cruel, se reúnem em determinado lugar. Aí, dependendo da distância, de onde pretendem deflagrar a guerra, contra os indefesos animais, a maior parte deles, comparece a cavalos.
O número, geralmente gira em torno de meia dúzia. E de cães se eleve à base de duas dezenas. No encontro, discutem os detalhes. Aí, uma corneta estridente, soa no ar. A cachorrada, tocada pelo mesmo instinto do homem, se torna impaciente, rosna e quer a separação das trelas. Instintivamente, parece conhecer a vontade de seus donos. Assim, em debalada carreira, de um espigão a outro, os cachorros se abrem em forma de leque. Desse modo, é que eles conseguem movimentar os animais, que estejam presentes em uma faixa de quilômetros. Experimentados que são, leva, forçosamente, qualquer caça encontrada a tomar um determinado rumo e a uma passagem forçada. Nesse ponto, de aglutinação, onde o homem, estrategicamente espera pela passagem da caça, é que se dá o desfecho do episódio.
Ela com o coração a sair pela boca, espavorida, com o ladrar incessante e insultante dos cães, se vê na contingência de correr para o exato lugar onde está a sua espera, o homem. Nessa hora, este sempre tem um brinquedinho de mau gosto, que se chama espingarda. Justo com este tipo de arma, é que os homens cruelmente fazem fogo cruzado contra a caça, a vítima indefesa.
O resultado é óbvio dizê-lo. Vez que só temos a imaginar um veado, uma paca, um catitú, seja lá o que for, uma caça qualquer, traçada de chumbo, a verter sangue.
Ai está tipicamente, a chamada caça de Fila.
Como a gente acabou de ver, a bicharada, sempre passou dificuldades com a dupla terrível - homem e cão. Aquele sempre a remexer com a cabeça acabou um dia, a descobrir que, um amontoado de rodelas de cobre e zinco, separados por um isolante elétrico qualquer e submerso o conjunto em uma solução de ácido sulfúrico produzia eletricidade.
Aí está a pilha. Para cá o processo se afeiçoou até chegar às atuais lanternas. Após esta descoberta, o homem passou a ter mais uma alternativa.
Já não apenas caçava, mas também esperava. E o que é a espera? É simples de explicar e, ao mesmo tempo, difícil de aceitar a covardia do homem.
Os bichos, aterrorizados com a famosa dupla, passara a ter o hábito de buscar o alimento, para sua sobrevivência durante a noite. O homem conhecedor das espécies vegetais que servem de alimento às caças, a exemplo da flor da caraíba, do pequizeiro, da fruta do tarumã e sem contar algumas dezenas de outras plantas, sabe onde deve fazer a espera.
Há um provérbio que diz: “Um dia do caçador, outro da caça!” Disto já dei conta, muitas vezes.
Um uma das feitas, por contingência, fui obrigado a prestar socorro a uma vítima de um episódio sangrento, travado entre homem e caça. Neste, o homem saiu levando a pior. Ele excitado, pela visão inusitada de uma vara de caititus, precipitou-se em fazer tiro sobre os animais. Aconteceu que a espingarda calibre 32 orientada no rumo dos porcos selvagens foi acionada, e, daí, ao invés do tiro sair pelo cano, voltou o cartucho pela culatra, indo contra a cabeça do franco atirador. Vi a mistura de fragmentos do cérebro e sangue. Tentei retirar o acidentado do meio da roça, donde se encontrava. Sua cabeça pendida, em uma touceira de cana, me afigurou um verdadeiro quadro tétrico. Duas horas depois, ou pouco mais do acidente, o homem passou de uma vida a outra.
Entre vários fatos, que permanecem em minha memória, ficou a lembrança de comentários que se faziam referindo-se a um parente meu. Este, um dia foi caçar. Aconteceu que ao aproveitar a luz tênue da lua para fazer fogo na caça que teria vindo saborear os frutos de uma árvore - o fez em seu cão.
Era sabido por todos, que este senhor tinha um desvelo especial por um pequeno cachorro, de cor preta, criado com muita estimação. O animalzinho, levado pelo bom faro, seguiu a seu dono. No lusco-fusco da luz, misturado com o sereno da noite, por um momento, o cachorro passou a ser paca. E, recebeu na cabeça uma pesada carga de chumbo. O esperador, presunçoso, desceu da mangueira, para apanhar a caça.
Grande foi sua dor ao verificar que, ao invés de ter matado uma paca, havia liquidado o seu mimado cãozinho - Veludo.

Fazenda Campo Alegre - 18 - 4 - 1980.

Lucilo Constant Fonseca.



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