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Artigos-->O usinadeletras e a sina das letras: -- 02/08/2000 - 22:13 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É recente, coisa de duas semanas, a minha descoberta deste usinadeletras , e tenho encontrado aqui não só a oportunidade de me sentir parte de um círculo literário - e sem nada daquilo que me incomodaria se fizesse parte, num outro sentido, de algum círculo literário -, como de poder manter um contato dos mais produtivos com alguns dos autores/leitores, pares que aqui vim a descobrir.

Fico pensando nas inúmeras possibilidades que este novo meio, assim como aconteceu comigo, poderá abrir para tantas outras pessoas, especialmente para aqueles que institucionalmente fazem parte do assim chamado "mundo das letras", professores e alunos dos Cursos de Letras por este Brasil afora, e que não encontram, no seu meio, como era de se esperar, a oportunidade do convívio e do debate literários.

Imagino que um empreendimento desta elevada natureza poderia contribuir para que saíssemos da letargia que nos acomete, déssemos o salto necessário para uma outra vivência das coisas que deveriam se constituir em núcleo de um Curso de Letras, pelo menos na forma como eu o entendo. Poderiam nos fazer ver com absoluta clareza que a literatura não é e, a não ser por uma imperdoável perversão de todos os valores, nunca deveria ter chegado ao que chegou, a ponto de ser vista e tratada - volto a insistir, nos Cursos de Letras em especial -, como sendo apenas mais uma entre as disciplinas acadêmicas (escolares).

Num outro sentido, não haveria como não dizer que a literatura se constitui quase em ameaça ao aluno/estudante, em instrumento quase de tortura.

Nunca seríamos severos demais para com a instituição do ensino, no que tange à literatura, se disséssemos, alto e bom som, que o que se pratica é um massacre, com autores e obras condenados ao ódio mais do que justificado por parte de tantos leitores abortados.

Em "A tarde de um escritor" [Nachmittag eines Schriftstellers], o escritor austríaco Peter Handke, entre outras peripécias pelas ruas de Salzburg, faz o seu narrador/personagem, um escritor, flanar pelas ruas do centro da cidade. E ele atravessa o calçadão, ao longo do qual precisa fazer um grande esforço para não conferir, na vitrine de uma livraria, se algum dos seus livros ali estaria exposto, refletindo que se fosse preciso começar de novo, nunca, jamais se deixaria fotografar uma única vez, para que não soubessem dele, não o reconhecessem, temendo, sobretudo, os grupos de colegiais que passavam por ele, todos eles com uma expressão de ódio no semblante, contra ele, o escritor, aquele que havia escrito aquelas coisas que seus professores os obrigavam a ler e pela assimilação das quais eram duramente julgados e penalizados.



E volto a pensar nos nossos alunos em Araraquara, alguns deles são meus amigos e também passaram a publicar e a participar deste site, ou sítio como querem os defensores do purismo da língua.

Não seria um caminho mais produtivo e mais "suave", para homenagear aquela famosa cartilha, todos os alunos de letras envolvidos numa empreitada como esta? Quanto não aprenderíamos, se nos exercitássemos todos, professores e alunos, abolidas todas as noções meramente hierárquicas do nosso arranjo institucional, no fazer literário propriamente dito, nisso incluída a crítica, uma classificação de gênero que eu ousaria sugerir aqui aos responsáveis pelo usinadeletras ?

Um dos aspectos mais interessantes desta minha recente convivência no site tem sido a possibilidade da leitura de tantos textos e autores que ainda não passaram por qualquer espécie de filtro, seja institucional, seja anti-institucional, nenhum dos filtros hierarquizantes por assim dizer, por nenhuma das tão viciadas fórmulas que a instituição literária consagrou num tempo que, a partir de agora amparado pela evidência de tantos fatos e constatações inegáveis, venho declarar passado.

Voltando à questão da classificação dos gêneros aqui publicáveis, sempre haveria a necessidade de algum redimensionamento. Vejo alguns autores indecisos nesse sentido. Sob a rubrica "contos", podem-se encontrar coisas muito variadas. Alguns deles talvez estejam em busca de um alcance maior, de ter mais leitores, chegando a incluir um mesmo texto em duas ou mais categorias. Quando acesso "cordel", então, aí o vale-tudo tem sido até engraçado.

Mas esta e tantas outras questões são parte do debate literário, que é necessário e que eu preferirira ver fomentado de alguma forma. Seria saudável, certamente, que nos exercitássemos no comentário crítico dos textos publicados, que aprendêssemos juntos a construir uma linguagem calcada em respeito pelos autores e em franqueza na exposição dos pontos de vista.

Aproveito para protestar contra qualquer tentativa - na verdade, só saberia citar um caso, e ele já mereceu, em particular, a minha resposta - de transformar este espaço numa sala de bate-papo qualquer, com participações sob todos os pontos de vista deploráveis.

Considero inestimável a oportunidade de rever aqui todos os meus parâmetros literários, de testar mais uma vez todos os procedimentos conhecidos e todos os modelos críticos, de não temer a ausência da suposta autoridade que alguma hierarquia acaso nos pudesse conferir como professores de literatura.

Que todos os meus colegas, professores de literatura, pudessem também descobrir as enormes vantagens que esta revolução representada pelos avanços da informática podem nos trazer, a libertação que isso pode representar em face do crescente mau-estar a envolver a relação professor-aluno dentro e fora das salas de aula.

Tenho me deparado, neste site, com textos bastante instigantes, mas que carecem de ver lançada uma luz mais forte sobre alguns aspectos deste nosso empreendimento, que considero altamente vantajosos.

Trata-se de não lamentar mais a exclusão de que, supostamente, teríamos sido ou ainda seríamos vítimas, de não fazermos parte disso que insistem em chamar de "mundo das letras".

Vale dizer que a minha entrada neste site se deu pela surpreendente descoberta do ensaio "Um vampiro de textos para sempre àssombradado". O autor, Jorge Pieiro, que muito recomendo, discorre sobre a obra de Uilcon Pereira, por ele casualmente descoberto entre os livros de uma amiga em Fortaleza, e com quem passou a se corresponder, via aerograma, naquela que hoje se pode chamar a pré-história desta movimentação literária que estamos vivendo, tão mais confortavelmente e com tão maior rapidez, por meio da internet.

Uilcon Pereira, como quer Pieiro, um dos tantos "sem-mídia", autor de uma obra surpreendente para todos quantos dela tenham a chance de se aproximar, capaz ainda, nunca se sabe, de vir a ser descoberta por um público mais amplo (onde? quando?), sempre cultivou o seu próprio círculo literário, que se constituía de mais ou menos 500 pessoas espalhadas por todo o território nacional. Eram os seus leitores. Era para elas que ele escrevia. Em "Ruidurbano", uma de suas últimas produções, ele criava todo o seu entorno, todo o movimento literário do qual se fazia parte, com entrevistas e matérias de imprensa forjadas, enfim, tudo aquilo de que necessita uma obra para ser gerada é criado por ele ali. E assim ele vivia, de fato. Ele era um dos elos de uma extensa rede de comunicação literária, que, se abusar, vou acabar reencontrando agora neste e em tantos outros sites do gênero.

E eis que me vejo, eu que jamais teria tido o pique do mestre para realizar esse enorme esforço pelo correio, confrontado com a possibilidade mágica e única de poder fazer o mesmo sem sair da minha sala de trabalho aqui na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara.

E assim se materializa a conhecida formulação de que onde um artista trabalha, ali é o centro do mundo.

O mundo que se inaugura agora tão alvissareiro é um mundo luminoso, para fora da obscuridade dos escaninhos acadêmicos trancados a sete chaves, um mundo que será capaz de abolir noções como a de autoria, a da convivência imposta e impostoramente hirárquica, que é, de resto, aquela que ainda está a comandar os nossos passos tão incertos e tão destituídos de graça e grandeza por esses corredores que levam a lugar nenhum, esses que nos separam, muito perigosamente, os nossos departamentos, instâncias administrativas e salas de trabalho do burburinho que toma conta dos pátios e das cantinas, e que promete tumultuar, e muito, a paz bem-pensante de uma geração que já foi - já lá se vão 30 anos - uma geração revolucionária.

A partir daqui, passsaria a falar sobre a perda ou abandono da noção de autoridade pela geração de 68, talvez por se pressentir afinal tão próxima do autoritarismo de que foi vítima, mas isso já é matéria para um próximo artigo. Até lá.
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