Dos riscos de amar todos sabemos, mas de seus reais e perigosos potenciais, não temos noção até experimentá-los. A procura o amor verdadeiro é árdua, e boa. Boa? Quando dá certo, pois quando a única companheira ao seu lado é a cerveja, é impossível não se sentir cortejado pela solidão.
A noite é ingrata com aos que dela procuram o amor. Não o amor momentàneo e pueril de uma "ficada", mas o intenso e inebriante da paixão. Nas mesas de bar, nos clubes e nas danceterias, uma vida de liberdade e possibilidades se põe à frente dos que disso sabem tirar proveito. E os que não se enquadram nessa categoria? Aqueles cujo olhar teme o encontro direito, que intimidam-se com a rejeição, que se sentem desprovidos de qualidades que despertem o interesse alheio. Esses escondem, em meio a músicas e conversas, a cabeça baixa.
Não há álcool que retire a sensação do fracasso. Em um ambiente altamente competitivo como o da noite, é extremamente penoso mostrar o diferencial que não seja o dos aditivos físicos. Aos que os tem por obra e bom grado de genes privilegiados, a porta está entre-aberta, aos que não, uma pista de 100m com barreiras se monta entre você e o objetivo.
O espírito se alegra com a possibilidade de uma noitada das boas, conhecer novas mulheres, dar boas risadas, se divertir e todas essas coisas falsamente vendidas como ao alcance de todos. Todos que "usufruem" da solteirice. Mas bastam duas ou três horas de balcão, para que o mesmo espírito murche em seu deslumbramento e se acanhe na descoberta de que nenhum olhar ou sorriso foi desprendido em sua homenagem até o momento.
Ora, que é isso, na noite o homem é predador, deve atacar. Mas a posição do flerte é ingrata. Devemos ser audaciosos, porém respeitosos, elegantes, mas não ostentadores, auto confiantes, mas não egocêntricos. Além disso, falar coisas interessantes o tempo todo e manter a conversa, mesmo que a outra parte não faça o menor esforço para isso.
As mulheres se põem na posição muito confortável da espera. Mas o que não entendo, são os desvios de olhar que acontecem mesmo quando há o interesse. Alguma fitada mais intensa, quem sabe seguido de um belo e sincero sorriso, já me fariam ciente. Fariam-me entender sobre uma possibilidade, que o caminho está aberto à aproximação. Mas as mulheres usam muito desse artifício como joguetes a nos ludibriar. Olham sem ter interesse, não olham e tem interesse e assim por diante.
Alguns defendem que a noite é assim mesmo, uma arena sem regras aonde só o mais aptos sobrevivem. Mas então, aos que procuram um amor mais longo do que algumas horas, que opções são dadas? A chance de encontrar alguém no trabalho, faculdade, escola? De ser apresentado a uma nova integrante do círculo de amizades que por algum motivo estranho nunca conhecera? Não será isso exigir muito do acaso? Penso que sim, e é com essa conclusão que sinto o coração apertar com a idéia de abraçar o travesseiro por várias e várias noites...
Acho que vou passar na locadora e pegar Don Juan de Marco. |