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Contos-->RELATOS DO INVEROSSÍMIL - PARTE II -- 03/12/2002 - 12:16 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ainda, sentindo-nos de certo modo incrédulos diante do colóquio entre os dois cães; mesmo ainda não refeitos da perplexidade que nos fora imposta sob condição testemunhável, imbuídos de forte pressentimento quanto a repetição do fato que nos fora dado presenciar e, ainda, investidos de aguçada curiosidade procuramos, discretamente, nos aproximar um pouco mais dos referidos cães. Desta feita, melhor posicionados, procuramos evitar que a nossa presença se tornasse motivo de inibição para ambos. Mais uma vez fomos surpreendidos diante de tanta sabedoria.
Entrementes, torna-se oportuno referir que conversa de cães se desenrola sem que haja necessidade da emissão de palavras como nós humanos. Eles se comunicam, conforme pudemos depreender, de forma mais inteligente, utilizando-se de vibrações acústicas sendo, na maioria das vezes, inaudíveis para nós humanos. Os caninos são dotados de extrema sensibilidade. Desse modo, para que nos seja possível escutá-los basta tão somente que entremos em sintonia com tais vibrações sem a necessidade de recursos outros além de uma acurada sensibilidade. À primeira vista inacreditável, porém à medida que vamos nos familiarizando com o fato, o mesmo se torna crível mesmo para aqueles mais cautos.
Mais uma vez, sentados no mesmo banco daquele aprazível recanto,, dirigimos toda a nossa atenção para o exato momento em que se dera o reencontro dos cães. Desta feita, já destituídos daquela cerimônia com a qual se envolveram quando do encontro precedente, o cão rico cumprimenta o cão pobre e, desde logo, tem início animada conversação. A princípio, o cão rico sem dissimular a sua curiosidade, se dirige ao cão pobre:
----- Como passou de ontem para hoje ?
----- Razoavelmente bem ----- responde-lhe o cão pobre. Afora umas discretas cólicas intestinais que me acometeram, passei bem. Acredito que tenha sido em consequência de algo que comí ontem à tarde parecendo-me um pouco estragado. Logo que me dei por conta mastiguei umas folhas de campim-santo e nada mais sentí. São coisas que a vida nos ensina.
----- É, retruca-lhe o cão rico. Não é bem brincar com essas coisas. Precisamos ter mais cuidado com a saúde. Lá em casa, quando alguém sente qualquer incômodo telefona para o médico, o qual após algumas perguntas; apalpa daquí, apalpa dalí, prescreve uma bateria de remédios ao que me parece bastante tóxicos, seguindo-se das costumeiras recomendações dietéticas. Não pósso conceber tanto pessimismo entre os humanos.
----- Ah, como os humanos seriam bem mais saudáveis se evitassem, de uma vez por todas, os pensamentos negativos ----- enfatiza o cão pobre. Tais pensamentos se revestem de incrível toxidez tornando as defesas orgânicas vulneráveis. Se esses humanos, que se dizem tão inteligentes, soubessem do valor do pensamento positivo, a acridez das suas vidas se transformaria numa felicidade completa. Eu, da minha parte, procuro evitá-los, somente me acercando de bons pensamentos.
----- Você tem toda razão, meu amigo. Eu mesmo sou testemunha do que ocorre lá em casa. Os humanos estão sempre de mau humor o que me deixa em sobressalto. Dificilmente sorriem. Olham tanto para as pessoas quanto para as coisas na busca de algum defeito. Não se apercebem daquilo que de melhor são dotadas. Até a falta de bens materiais de alguns, por incrível que pareça, é tida como defeito.
-----Por certo, meu amigo ----- assegura-lhe o cão pobre. A grande maioria dos humanos, sôfregos por natureza, levam a vida envidando esforços no sentido de amealhar cada vez mais. Esquecem que a verdadeira riqueza consiste no engrandecimento espiritual e nãoa em acumular bens materiais e na sua ostentação mesmo, por vezes, sem serventia alguma. Jamais se extasiam diante da beleza de uma flor; de uma noite enluarada; da chuva no verão; do sol no inverno; do sorriso de uma criança. São incapazes de se deixarem envolver pelas belezas da vida. Pobres ricos infelizes.
A essa altura, a conversa é interrompida tendo em vista a chegada de uma amiga da dona do cãoa rico. Logo que a mesma se asproxima da amiga tenta afastar o cão pobre que se encontrava deitado tendo a cabeça apoiada nas patas. Sem mais delonga, se dirige à amiga de maneira enfática, vociferando:
----- Veja você em que pé as coisas se encontram. Num local como esse que deveria ser de nossa exclusividade, as autoridades responsáveis não são capazes de impedir que pessoas de baixo nível, negros e mesmos cães vadios tenham o mesmo direito de frequentá-los como nós pessoas de bem. Seria aconselhável que fizéssemos uma reivindicação a quem de direito no sentido de coibir tal afronta.
----- Sem dúvida; não verdade sou de opinião que deveriam existir locais para serem frequentados por pessoas de níveis sociais de destaque e não essa promiscuidade indesejável.
Perplexo diante do que acabara de ouvir e sem perder a sua fleuma, comenta o cão pobre:
----- Deus do céu; onde já se viu tanta pobreza de espírito! Veja você quanto egoísmo desses humanos e, sobretudo, como são preconceituosos. Inconcebível mesmo esse tipo de comparação, levando em conta o nível sócio-econômico das pessoas. Ninguém é pobre por diletantismo; jamais conhecí alguém que se sentisse confortável diante da miséria. São condições que, na verdade, independem da vontade própria.
----- Meu amigo ----- retruca-lhe o cão rico. Apesar de me encontrar numa situação invejável; apesar de todo o conforto que desfruto; apesar de me considerar um cão privilegiado, o que acabei de presenciar dessa conversa me deixa profundamente entristecido. Os humanos, muito embora despontem no ápice da escala zoológica são, na sua grande maioria, sobejamente destituídos daquele espírito de fraternidade característico das almas superiores. A nós, cabe perdoá-los de todo o coração.
----- Concordo com o amigo ----- diz por sua vez o caão pobre. Em tais circunstâncias, acresce o fato de que eles talvez se esqueçam de que somos semelhantes; somos criaturas do mesmo Criador. A única diferença que se interpõe respeita, tão somente, quanto as ações praticadas por cada um: boas ou más. O preconceito, o egoísmo são chagas profundas que deixam cicatrizes indeléveis; marcas invioláveis no cerne da alma de cada um. Portanto, ricos e pobres; brancos e negros; cultos e incultos, tiveram a mesma origem. São frutos da mesma árvore; larvas do mesmo casulo. Terão o mesmo destino o qual, uma vez alcançado deverão, de forma inexorável, prestar contas dos seus atos. A semeadura é voluntária enquanto que a colheira é obrigatória.
Nesse momento as duas amigas após longa conversa recheada de tanta futilidade, se despedem seguindo cada uma para o seu destino. Quanato aos cães, após caloroso "ate´breve", se comprometem a continuar a conversa na próxima oportunidade desde que não surja nenhum imprevisto.

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