UM FANTASMA DISCRETO
Quando entrava, madrugadinha, em seu hotel, o vendedor ambulante Ivanor de Tal ouviu um rangido na velha escada de madeira: créc...créc... Quem será, a essas horas? Foi quando viu um vulto branco, subindo lentamente a escadaria. Ivanor, que era cardíaco, teve logo um troço, esparramou-se no chão.
Dizem os teóricos que um romance policial começa sempre pelo final, primeiro acontece o crime, depois é que descobrimos como aconteceu. Para esclarecer o que houve naquela madrugada, preciso antes falar do Mineiro. Mineiro era um legítimo mineiro - discreto, fala mansa, um bigodinho fino. Dele, só se conhecia o trivial. Alugou um quarto no hotel familiar, não pretendia permanecer muito tempo na cidade.
Quando se descobriu que aquela bela hóspede era meio leviana, o Mineiro já havia há tempo...bom... sem comentários. Afirmavam que tinha uma noiva em Minas, o Mineiro não dizia que sim, nem que não. Preferia o benefício da dúvida: a cidade era cheia de moças bonitas. Um dia, recebeu convite para uma festa à fantasia. Recusou. Mas de noitinha, movido pela solidão do sábado, teve vontade de ir, só não tinha fantasia. Pegou um lençol, fez dois furos para os olhos e estava pronta a fantasia de balula. Nem chegariam a saber que esteve na tal festa.
Divertiu-se naquela noite. Passou a mão boba nas moças, participou de passeata de mascarados. Pela madrugada, resolveu ir embora. Não sei se pelos cubas que tomara ou para manter-se incógnito, foi fantasiado para o hotel. As ruas estavam desertas. Quando subia a escada - discretamente, é claro - , ouviu um barulho -ploft - e viu um careca estatelado no chão.
Foi ao quarto, despiu a fantasia e voltou discretamente ao local do sinistro. O hóspede se levantava ainda branco como...(como um lençol? Não! Por favor, esqueçam essa história de lençol). O hotel ficou com fama de mal-assombrado. O Mineiro, dali a meses, voltou para sua terra a fim de casar. O danado era mesmo noivo.
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